Urânio dispara com revival nuclear
28/06/07
Marcos de Moura e Souza28/06/2007
Por mais de duas décadas, o preço internacional do urânio se manteve na faixa dos US$ 15 a libra (450 gramas). De um momento para outro, tudo mudou. Desde 2004, o preço não pára subir e já superou a barreira dos US$ 130.
Estimuladas pela cotação, empresas vêm ampliando o número de prospecções e a reativação de antigas operações. O Brasil é dono da sexta maior reserva de urânio do mundo, mas não participa do mercado internacional. Tudo o que extrai serva às usinas Angra 1 e 2. Mineradoras, no entanto, começam a defender que o governo mude as regras e permita que empresas privadas façam a prospecção do minério no país.
A alta dos preços do urânio é atribuída a ao menos dois fatores. O primeiro é a elevação da cotação do barril de petróleo e as pressões pela redução das emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa, que causa o aquecimento global. Para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e a emissão de gases, o mundo voltou a se interessar pela energia nuclear. E isso pressionou os preços do minério.
Atualmente, existem 30 reatores nucleares em construção no mundo, 74 planejados e 162 propostos. O número de reatores em operação é de 437. Eles respondem por 18% da energia elétrica do mundo. A demanda anual dos reatores por urânio é de 67 mil toneladas. E a expectativa é que a demanda mais do que dobre até 2030, disse num relatório divulgado em maio a Associação Nuclear Mundial (WNA, na sigla em inglês).
Mas há um segundo fator em jogo. “Desde os anos 80, a produção de urânio é menor que o consumido pelos reatores. Hoje essa diferença é de 45 mil toneladas produzidas contra uma demanda de 65 mil a 70 mil toneladas”, diz Luiz Filipe da Silva, diretor de Recursos Minerais das Indústrias Nucleares do Brasileiras (INB), órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia.
Essa diferença vinha sendo compensada pelos estoques mantidos pelas usinas. A partir dos anos 90, com o fim da Guerra Fria, esses estoques começaram a ganhar um impulso adicional com a desativação de ogivas de armas nucleares. O material dos mísseis passou a ser usado como fonte secundária para os reatores. “O problema é que essas fontes secundárias e os estoques estão começando a se esgotar”, disse ao Valor Steve Kidd, porta-voz da (WNA).
Mais da metade da produção de urânio mundial vem de minas no Canadá, na Austrália e no Cazaquistão. Rússia, Namíbia, Uzbequistão e Níger são outros grandes produtores. No Níger, o urânio já se transformou num alvo de luta entre milícias. Ontem, grupos nômades rebeldes anunciaram que querem passar a controlar as reservas do minério nuclear e as de petróleo que estão sendo vendidas para empresas da China e de outros países.
O mercado mundial de urânio – cuja maior parcela diz respeito à comercialização de urânio concentrado, ou yellow cake, que é o resultado da primeira etapa de beneficiamento – é dominado por poucas empresas: entre elas a canadense Cameco, a anglo-australiana Rio Tinto (ambas privadas), a francesa Areva e cazaque Kazatomprom (ambas estatais).
O comércio do urânio concentrado não sofre uma regulação internacional, como no caso do urânio enriquecido, que passa pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Com o mercado aquecido, o cenário internacional de exploração de urânio ganha novas fronteiras. No começo do mês, a comissão regulatória nuclear dos EUA informou que mineradoras apresentaram as primeiras solicitações em 27 anos de licenças para prospecção de urânio no país. Atualmente, há apenas seis minas em operação nos EUA e 104 usinas nucleares. Previsões apontam que o país precisa de pelo menos 31 novos reatores. Em maio, a Rússia assinou um acordo com o Cazaquistão para fortalecer a cooperação bilateral na energia nuclear e para expandir a exploração do minério.
No Brasil, mineradoras fazem pressão para entrar no mercado de urânio. Em meados de junho, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) apresentou ao presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia, um pedido de flexibilização do monopólio estatal da pesquisa e lavra de minérios nucleares. “O país tem um potencial muito grande para exploração de urânio, o que pode atrair investimentos e financiar o programa nuclear brasileiro”, disse o presidente da entidade, Paulo Camillo Penna. “As empresas brasileiras têm capacidade para a exploração e podem vir a desenvolver a atividade em outros países caso o monopólio não seja quebrado”, disse.
Valor Econômico