Uma longa história de conflitos
15/09/08
15 de Setembro de 2008 – Desavenças, conflitos, violência. A região de Serra Pelada está historicamente relacionada à situações conturbadas, principalmente devido à perspectiva de ganhos futuros, ou mesmo presentes. Hoje, não é diferente e a região voltou a viver na iminência de tumultos. Em julho de 2007, quando a Colossus Minerals e a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) fecharam a criação da joint venture para o desenvolvimento da pesquisa e possivelmente da produção em Serra Pelada, a mineradora acertou o pagamento de um prêmio pela reserva que será medida pelos trabalhos de pesquisa, em um valor que pode chegar a R$ 817,5 milhões. O contrato firmado já previa o pagamento antecipado de R$ 24,2 milhões. Os recursos, bem como os cerca de R$ 240 milhões referentes ao pagamento pelo paládio retirado pelos garimpeiros e ainda hoje depositado na Caixa Econômica Federal, pertencem à cooperativa. Segundo fontes, existe até o comércio de cotas da Coomigasp, uma aposta na receita quando os recursos forem repassados aos cooperados. Também há quem tente garantir parcela desses recursos por via judicial, exigindo pagamento de créditos em haver da cooperativa em ações. “As dívidas superam os US$ 350 milhões”, disse Toni Duarte, presidente da Associação Nacional dos Garimpeiros de Serra Pelada (Agasp). Um imbróglio judicial também estabeleceu uma disputa pela presidência da Coomigasp. Até meados de 2006, Josimar Barbosa era presidente da cooperativa. Em julho desse ano foi realizada nova eleição e Valder Falcão, único candidato, foi aclamado publicamente presidente da entidade. Sob essa gestão o contrato com a Colossus foi assinado. Mas a eleição foi questionada judicialmente por não ter seguido o regulamento da cooperativa, que previa eleição secreta. No meio tempo, Barbosa foi assassinado, invadiram a Coomigasp, destruindo documentos, em ação que contou com a participação de membros de movimentos sociais. No mês passado, os garimpeiros fizeram um abaixo-assinado solicitando a realização de nova eleição para evitar conflito. Pouco depois, a Justiça determinou que a antiga diretoria deveria retomar a gestão da entidade para realizar nova eleição, marcada o próximo dia 21. Representantes dos garimpeiros temem o retorno da violência e pediram à autoridades que enviem observadores. “Queremos garantir uma eleição limpa, segura e justa, por isso enviamos carta para 34 autoridades pedindo ajuda, mas ninguém se manifestou”, disse Duarte. Apesar de reconhecer o problema em torno de Serra Pelada, Cláudio Scliar, secretário nacional de Geologia , Mineração e Transformação Mineral, órgão do Ministério de Minas e Energia, garante que a exploração comercial na lavra permanece nas mãos da cooperativa. “Estamos acompanhando de perto a situação, juntamente com as autoridades estaduais e a Secretaria Geral da Presidência da República, com o ministro Luiz Dulci, mas não nos cabe qualquer opinião sobre a situação. De qualquer forma, a permissão lá é de lavra e de nenhuma outra forma de exploração.” (Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 8)(Luciana Collet e Marcos Seabra)
Gazeta Mercantil