Uma carreira sólida como o mármore
06/08/07
A história da primeira exportação de granito do Estado começa em Veneza, na Itália. Foi lá que nasceu o empresário Bruno Zanet, 69 anos. Hoje, além das jazidas no Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais, as empresas do grupo também vendem mármore e granito da Ucrânia, Rússia, Índia, Turquia, Grécia e Sul da África. Os clientes estão espalhados por todo o mundo: o aeroporto de Moscou e as obras para as Olimpíadas do ano que vem em Pequim (China) têm granito capixaba, de Bruno Zanet. Na sua terra natal, ele é conhecido pelos apelidos de “Marco Polo” e “o mercador de Veneza”. Essa trajetória global começou de uma forma muito simples quando, aos 15 anos de idade, Zanet foi ajudar um dos irmãos, que trabalhava na construção artesanal de túmulos em mármore. Em 1958, aos 20 anos e sem dinheiro, ele começou a comprar e vender mármore, na antiga Iugoslávia. Logo as atividades se estenderam para Bulgária, Turquia e, mais tarde, para a Grécia. Depois vieram Portugal e Espanha. Houve uma crise no mercado de mármore em 1978, o que motivou o empresário a trabalhar também com granito. É dessa época a descoberta do famoso granito “amarelo veneciano”, de Nova Venécia, e do amarelo de Barra de São Francisco. A primeira exportação de granito pelo porto de Vitória aconteceu em 1979, no navio Penélope V. Foram 19 dias para carregar o navio. “O guindaste esquentava e a gente jogava baldes dágua”, relembra. Mas foi em 1990 que Bruno Zanet se fixou de forma definitiva no Brasil, quando o governo passou a permitir que estrangeiros comprassem áreas de mineração no país. O italiano não perdeu tempo: começou a comprar ? e continua comprando. Ele e o filho moram no Brasil, enquanto a filha e o genro, na Itália, administram as duas empresas em Carrara e as duas outras em Verona. Cidadão do mundo, Bruno Zanet se orgulha de seu trabalho. “Quando vou a Hong Kong ou Xangai, eu me sinto em casa, porque vejo muitas obras, tudo com pedra minha”, declara. “O segredo do trabalho é a sinceridade. O cliente é como a mulher: não se pode mentir, enganar. Desse jeito, não tem como dar certo” O nome se pode fazer no jornal e na televisão, da noite para o dia. Mas fazer o seu nome de forma profissional é outra coisa, bem diferente” Bruno Zanet Empresário de mármore e granito “Eu sou competitivo porque tenho qualidade e continuidade” Quando o senhor começou a trabalhar com mármore? Comecei em 1958, na ex-Iugoslávia. Foi uma época difícil. A Itália era proibida de importar a pedra. Eu sou nascido no município de Veneza, uma cidade que foi construída toda com pedras. Na época, só os marmoristas de Veneza poderiam receber a licença de importação. Em 1963, a importação foi desbloqueada. Sua família tinha tradição nesse ramo? Não. Eu tinha um irmão que trabalhava com túmulos em mármore, uma coisa artesanal. Eu comecei com 15 anos, ajudando esse irmão. Depois eu comecei com comércio, aos 20 anos e sem um tostão no bolso. Eu não sei o que era a coisa que me empurrava para a frente. E quando começou a trabalhar com granito? Em 1978, houve uma crise do setor de mármore. Eu fiquei preocupado e já havia começado a trabalhar no Brasil, com mármore chocolate e mármore branco de Cachoeiro. Daí resolvi passar do setor de mármore para o granito. Em Nova Venécia, descobri o amarelo veneciano e depois o amarelo de Barra de São Francisco. Em que época o senhor resolveu se fixar no Brasil? Eu tinha um sócio brasileiro porque os estrangeiros não podiam ser donos de empresa aqui. Em 1990, abriu a oportunidade para que um estrangeiro pudesse comprar áreas de mineração no Brasil. Hoje, são 50 jazidas trabalhando e estamos em crescimento contínuo, abrindo mais jazidas, especialmente em Barra de São Francisco. Temos 200 qualidades diferentes de rochas e sempre procurando coisa nova. Quem são os principais compradores? China, Europa e Estados Unidos. O senhor é conhecido como uma pessoa que só negocia as melhores pedras. Essa é a sua estratégia? Tem gente que pensa que, com bloco ruim, consegue fazer o mercado exterior. Não é assim. Eu sou competitivo porque tenho qualidade e garanto continuidade. O senhor vai fazer 70 anos. Aposentadoria não está nos seus planos? Nunca pensei em aposentadoria. Um homem que está acostumado a fazer não pensa em se aposentar. Uma pessoa que nasceu em Veneza, o que está fazendo no Espírito Santo? Eu gosto do meu trabalho.
A Gazeta – ES