Um conselho para Juruti
01/12/08
Amelia Gonzalez amelia@oglobo.com.br
Não é modesta a intenção da Alcoa. A mina de Juruti está sendo desenhada para ser, nada mais, nada menos, do que um modelo mundial de mineração no Século XXI. E para isso, é claro, vai causar um enorme impacto ambiental no espaço onde, além de extrair bauxita, construirá um porto e uma ferrovia que servirão como meios de transporte do produto até São Luís.Observado apenas sob este aspecto, não é difícil demonizar o projeto. No entanto, se a civilização caminha no sentido de precisar mais e mais do alumínio que é fabricado com bauxita (aviões só existem porque existe o alumínio; rodas, motores, embalagens longa-vida, cabos para fornecer energia elétrica, panelas, carrocerias de caminhões, também), um outro olhar também é preciso.Esta maneira diferente, talvez com menos reservas, de encarar os mega empreendimentos, obrigatoriamente exige uma participação maior da s o c i e d a d e . N o c a s o , d o s 34.338 moradores da cidade de Juruti, com apenas oito mil quilômetros quadrados, que foi virada pelo avesso com a chegada da Alcoa na região.Mas, há de se convir, não é muito fácil exigir paciência e compreensão de uma população que vive em condições precárias, com um IDH de 0,63, um dos dez mais baixos do país. No último estudo feito pelo PNUD, em 2000, Juruti apareceu com uma renda per capita de R$ 55,18. Nessas condições, chegar a um acordo com os representantes do poder do capital é uma tarefa que só se consegue com muito contato. Foi pensando nisso que se pensou no Conselho Juruti Sustentável, uma experiência até agora única e que não se sabe se vai dar certo, mas tem tudo para se tornar um exemplo replicável.Para começar, todo mundo foi chamado para se sentar junto e discutir: até mesmo quem faz oposição ferrenha ao projeto. O Ministério Público e a Associação de Moradores de Juruti Velho, dois fortes opositores, não aceitaram o convite. De resto, outras empresas (Hotel Garcia e Camargo Correa), poder público (prefeitura, Emater, Câmara dos Vereadores) e sociedade civil (Movimento 100% Juruti; Conselho Tutelar; Associação de Mulheres Trabalhadoras de Juruti, entre outras) já se reuniram várias vezes. Com a ajuda do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, foi feito o diagnóstico e o monitoramento da dinâmica do desenvolvimento de Juruti e entorno.Um conjunto de indicadores foi diagnosticado e uma simpática cartilha, que explica até mesmo o que significa a palavra indicador, foi editada e está sendo distribuída na região.A pergunta mais importante desta cartilha é: “Para onde vai o desenvolvimento de Juruti?” “… é muito importante que todos acompanhem, pensem e conversem sobre mudanças…ao conhecer o que está acontecendo de bom e de ruim com Juruti ao longo do tempo, a população poderá enxergar com mais clareza o seu presente e o seu futuro?, diz o texto.Com este trabalho, uma série de outros projetos, e mais um acordo assinado entre Alcoa e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Pará em 2007 num total de R$ 25 milhões, embora ainda com reservas, 80% da população jurutiense, em pesquisa feita pelo Ibope em maio deste ano, responderam que são favoráveis à construção da mina.É a famosa licença para operar, que, não por acaso, tem sido cada vez mais perseguida pelos empresários que precisam de recursos naturais para tocar seus projetos.
O Globo