Turbulência atinge commodities em cheio
17/05/10
As ações de empresas ligadas a commodities foram as mais afetadas no furacão que o mercado enfrentou na primeira semana de maio. O setor é fortemente ligado ao mercado externo, principal razão da turbulência. Passado o momento mais agudo de quedas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), esses papéis começaram a recuperar suas perdas na semana passada. Mas analistas alertam que o cenário internacional conturbado, formado por incertezas na Europa e possível aperto monetário na China, somado às eleições no Brasil, deve levar a oscilações no pregão nos próximos meses.
;
No momento, o investidor deve aos poucos ajustar sua carteira de ações, destinando seus investimentos em áreas mais ligadas ao mercado interno, que, pela demanda elevada, tem boas perspectivas de ganhos. Segundo especialistas, papéis dos setores de alimentação, educação e construção estão no grupo.
;
No mês, o Ibovespa, principal indicador do mercado brasileiro, acumula queda de 6,1%. O tombo foi de 6,9% na primeira semana do mês, mas na semana passada o indicador avançou 0,86%. Dos dez papéis com maior desvalorização na primeira semana do mês, sete são de empresas ligadas a commodities.
;
MMX Mineração ON foi a ação que mais perdeu, com recuo de 14,57%. As exceções foram JBS ON e a dupla de construtoras MRV ON e Agre ON. O grupo JBS Friboi é do setor de alimentos, mas tem grande parte de sua receita proveniente de exportações.
;
Por outro lado, o setor de construção tem sido influenciado pelos juros futuros.
;
? Há uma concorrência muito grande das empresas de construção na Bolsa e pode ocorrer volatilidade ? explica o sócio-diretor da AZ Investimentos, Ricardo Zeno.
;
Com preços influenciados pelo mercado internacional e receita fortemente dependente de exportações, setores como papel e celulose, petróleo e gás, mineração e siderurgia e metalurgia são muito afetados por crises externas.
;
mdash; O setor de commodities é o mais volátil, porque recebe impacto de vários fatores externos.
Os preços são afetados pelo mercado internacional e são empresas que exportam e, por isso, são afetadas por um menor crescimento mundial.
;
Além disso, há a influência do câmbio ? afirma o economistachefe da Legan Asset Management, Fausto Gouveia.
;
Liquidez das ações acentua movimentos de baixa Outro aspecto que determina a maior volatilidade dos papéis é a sua forte liquidez.
;
? Em uma crise de aversão ao risco, como esta do euro, as ações de commodities são as mais afetadas porque detêm maior peso no Ibovespa e têm maior liquidez. Assim como, quando há entrada de recursos, geralmente são as que mais avançam ? aponta Zeno.
;
Mas as oscilações do mercado nos últimos dias não devem ser motivo para a venda acelerada de ações. Segundo o gerentegeral do Instituto Nacional de Investidores (INI), Paulo Portinho, oscilações de curto prazo não devem ser determinantes.
;
? Quem investe a longo prazo não pode fazer movimentos bruscos porque o mercado está brusco. Tomar decisões afobadas é só para quem atua a curto prazo ? lembra Portinho.
;
Mas a conjuntura global mostra que é hora de reavaliar o portfólio de investimentos, diz Ricardo Zeno.
;
? Não é para desesperar e sair vendendo ações de commodities.
;
Mas o rebalanceamento de portfólio é indicado de tempos em tempos, e este é um momento de avaliar a carteira ? defende.
;
Para Fausto Gouveia, as incertezas com a Europa e possíveis novas medidas restritivas ao crescimento econômico na China, por causa da demanda superaquecida, sugerem um cenário de volatilidade até o fim do ano.
;
A preocupação com o tamanho da dívida dos países europeus e as consequências dos planos de austeridade para o crescimento econômico continuam preocupando o mercado.
;
E a inflação ao consumidor na China subiu 2,8% em abril, atingindo o maior nível em 18 meses.
;
O dado elevou o temor de que o governo recorra a mais medidas de aperto monetário para controlar a demanda no país.
;
Outro fator de risco é a eleição presidencial no Brasil, que também sugere uma seleção mais cuidadosa dos papéis.
;
? Boas perspectivas de crescimento da economia brasileira este ano, puxada pela demanda doméstica, aumentam a atratividade de papéis dos setores de alimentos e bebidas, educação e construção. O investidor deve buscar empresas com fundamentos sólidos, analisando as dívidas e a liquidez dos papéis ? diz o economista-chefe da Legan Asset Management.
O Globo