Terras cearenses escondem riqueza mineral ainda inexplorada
20/10/08
O Ceará, que produz menos de 2% da economia nacional, já observa uma chance de garantir novas divisasO mundo vive um ´boom´ mineral. Enquanto as bolsas ao redor do planeta enfrentam uma fase de volatilidade, entre fortes quedas e recuperações, o preço dos minérios está em franca ascensão. A demanda por estes produtos se eleva com o desempenho pujante da China e de outros emergentes. Cresce a procura, incentivando uma maior oferta.O Ceará, por sua vez, Estado considerado pobre, que produz menos de 2% da economia nacional, já observa nesse quadro mundial uma possibilidade de redenção ou ao menos uma chance de garantir novas divisas. Terra seca, a agricultura aqui não é o forte ? apenas 6% do produto Interno Bruto (PIB) local ?, mas já houve políticos a afirmarem que a riqueza das terras alencarinas não está no solo, mas abaixo dele.As perspectivas para a mineração local são otimistas, entretanto, não há espaço ainda para superestimar estas oportunidades. Nunca foi encontrado aqui tanto ferro como há em Carajás, no Pará, ouro como se vê em Minas Gerais ou cobre em quantidades similares ao que se tem no Chile. Segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o Estado possui uma mina considerada de grande porte, como consta no último Anuário Mineral Brasileiro, lançado em 2006. Somente a extração de calcário aqui ultrapassa a produção bruta anual de 1 milhão de toneladas.Mas o setor de mineração vive uma outra realidade. Com a demanda crescente, mesmo jazidas consideradas pequenas começam a se tornar interessantes. Desta forma, percebe-se o início de uma movimentação maior no segmento mineral. As pesquisas no Interior cearense vêm se intensificando, mais empresários estão procurando investir nessas terras.´Essa procura não é só no Ceará, mas no mundo inteiro. A partir do momento em que aumenta o valor do mineral, cresce o desejo no mundo de explorá-lo. Como as commodities minerais aumentam de preço, os pequenos negócios começam a se tornar viáveis. E este é o caso do Ceará, onde tem mais pequenas ocorrências´, esclarece o geólogo Ricardo Sena, do DNPM. Das 73 minas registradas em 2006 no Estado, 65 são tidas como pequenas (produção entre 10 mil e 100 mil toneladas/ano).Retomada´Hoje acontece uma retomada da mineração no Estado´, aponta o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva Mineral, Roberto Amaral. A própria criação da câmara, instalada em abril deste ano, demonstra que esta atividade extrativa passa a ser vista com outros olhos, bem mais atentos. Segundo Amaral, já em 2010 a mineração por aqui deverá mudar como um todo, para patamares mais expressivos.Prova disso tudo é o aumento da procura por requerimentos no Estado junto ao DNPM, órgão federal que fiscaliza a atividade. Em 2002, quando o departamento passa a disponibilizar estes dados, o Ceará ocupava a 12ª colocação no ranking nacional, com 433 requerimentos. Neste ano, até o fim do mês de agosto, já foram registradas 880 solicitações ? mais que o dobro destas expedições, colocando o Estado já na sétima posição no País.A realidade ainda é bem distante daquela encontrada na Bahia, quando, neste mesmo período, foram feitos 4.158 requerimentos, superando até mesmo Minas Gerais (3.376), tradicional líder nacional. Desde o ano passado, os baianos ganharam essa liderança.Todavia, os resultados mais recentes apontam que nossas áridas terras possuem, sim, potencial para o setor de mineração. Potencial tão latente que motivou os chineses a atravessarem oceanos para verificar sua real capacidade. Sérgio de SousaRepórterDESDE A COLONIZAÇÃORetirada sempre foi em pequena escalaO volume de minério retirado no Ceará sempre foi muito pequeno. A exploração mineral aqui começou, assim como em outras regiões do País, nos primórdios da colonização. As argilas, areias e cascalhos eram as principais matérias retiradas, sendo utilizadas na construção civil.Os minerais metálicos, como ouro e prata, começaram a ser explorados aqui no século XVIII. A retirada de ouro em território cearense teve início ainda em 1750, em Itarema (220 km da capital) e na região do Cariri, segundo mostra o estudo feito pelos geólogos José Carvalho Cavalcante e Manoel William Padilha, presente no livro Rochas e Minerais Industriais do Estado do Ceará.Em 1758, as pesquisas foram estendidas e foi identificada a presença do mineral em Lavras da Mangabeira, Ipu e Reriutaba, mas a exploração parou logo depois. A sondagem teve uma retomada em 1978, mas, após quatro anos, foi verificado que ´o distrito aurífero do Ceará revelou-se de baixo potencial, sendo economicamente inviável seu aproveitamento´.Esta realidade, dentro da nova conjuntura internacional, mudou, já que o ouro já recomeça a ser pesquisado no Estado. Da mesma forma ocorre com a exploração do cobre , cujas atividades em Viçosa do Ceará haviam sido paralisadas em 1987, tendo reiniciados os trabalhos há três anos por uma outra empresa. O minério começou a ser aproveitado economicamente no município por volta de 1880 pelos franceses.Desde o início do século XIX, passaram a ter destaque econômico os calcários da Chapada do Apodi, Sobral e Coreaú, a magnesita de Iguatu e a gipsita da Chapado do Araripe. A magnesita pode ser usada na preparação de produtos químicos com magnésio e fertilizantes. Já a gipsita é a matéria-prima para a produção de gesso.No final da década de 1980, passaram a ganhar importância também as rochas ornamentais, com muitas áreas promissoras no Estado. De acordo com o DNPM, foram listados, no Ceará, 10 distritos mineiros, onde se concentram a produção do setor. (SS)
Diário do Nordeste