Sindicatos agora admitem negociar redução de salário
08/01/09
A ameaça de desemprego, trazida pela crise financeira internacional, forçou sindicatos a engavetar temporariamente uma histórica bandeira de luta – a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem redução dos salários. Contrariando o discurso que defenderam nos últimos anos, hoje duas das principais centrais já admitem a possibilidade de reduzir a jornada e diminuir os salários na mesma proporção. Tudo pela manutenção do emprego. A proposta de flexibilizar as relações de trabalho foi levantada pelo presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, em dezembro, e logo recebeu apoio de vários líderes empresariais, como o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Os sindicatos que, a princípio, se mostraram contrários, agora adotam um tom mais pragmático. A Força Sindical, que em 2008 fez mobilização intensa pela redução da jornada sem perda salarial, afirma estar disposta a negociar a proposta dos empresários como medida emergencial. ?O fundamental é manter o emprego. Todos os recursos devem ser discutidos, mas as reduções não podem virar regra, cada setor tem uma situação?, afirma o secretário geral da Força, João Carlos Gonçalves.A direção da Central Única dos Trabalhadores (CUT) ainda se mostra contrária à medida. ?As empresas tiveram grandes margens de lucro em 2008. Não é certo os trabalhadores pagarem a conta agora que a crise chegou?, afirma Quintino Severo, secretário-geral da CUT. Porém, na Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, o discurso já é mais brando. ?A legislação tem instrumentos para que haja uma discussão dentro de parâmetros claros?, diz Carlos Alberto Grana, presidente da CNM da CUT. ?Só não pode haver generalização, as reduções têm de ter caráter temporário e devem ser discutidas caso a caso. Não podemos permitir oportunismo.? Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), concorda que os sindicatos devem estar abertos à negociação, mas admite que a disposição em ceder em uma reivindicação básica pode causar espanto entre os trabalhadores. ?Se as centrais não souberem comunicar bem a proposta, os trabalhadores podem achar estranho tanta mudança de uma hora para outra.?Para o coordenador de educação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Nelson Karam, como há incertezas quanto à profundidade da crise, o momento não é o ideal para a alternativa. ?Não se sabe se ela foi forte apenas no segundo semestre, se terá mais força e nem ao certo que setores foram afetados?, afirma.A ?gordura? que a indústria acumulou com o aumento da produtividade nos últimos anos, diz ele, custearia a redução da jornada com manutenção de salários. Colaborou Marcelo Moreira
Jornal da Tarde – SP