Siderúrgicas e mineradoras começam cabo-de-guerra
26/01/09
As siderúrgicas do mundo querem redução de pelo menos 10% no preço do minério de ferro, mas as mineradoras estão determinadas a mantê-lo inalterado, enquanto os dois lados iniciam negociações secretas para o que aparentemente será um ano fraco para todas as commodities.
As negociações anuais vão afetar o preço do aço e vêm sendo acompanhadas de perto por montadoras de automóveis, fabricantes de máquinas, empreiteiras e outros grandes consumidores de aço em busca de um pouco de alívio para a fraca economia. Alguns observadores do setor acreditam que o preço do ferro pode cair até 30% em relação a 2008, o que pode derrubar o preço do aço.
Numa prévia de como o processo pode ser difícil, BHP Billition PLC, Rio Tinto PLC e Companhia Vale do Rio Doce não estão com nenhuma pressa para começar as negociações, na esperança de contar com mais poder de barganha em abril. A Vale e a BHP não participaram de algumas reuniões preliminares com as siderúrgicas chinesas na semana passada, acreditando que era melhor adiar o fechamento dos contratos para esperar por preços melhores.
“Queremos adiar ao máximo a decisão”, disse um funcionário de uma das mineradoras. As mineradoras em geral esperam manter o preço em US$ 90 a tonelada, o mesmo pago pelas siderúrgicas em 2008.
Só que as siderúrgicas estão pressionando para fechar acordo logo e garantir a cotação atual do mercado à vista, de US$ 80 a tonelada, por temer que o minério volte a subir rapidamente se a economia se recuperar. Elas tentaram sem sucesso transferir a vigência do contrato anual para um ano calendário, em vez do atual abril a abril, como tem sido há anos.
Mesmo assim o preço ainda está muito abaixo do auge alcançado no início do ano passado no mercado à vista, de US$ 200 por tonelada de ferro. No fim do ano, o ferro já era vendido a US$ 60 nesse mercado, mas desde então se recuperou para cerca de US$ 80. O aumento é um sinal de que vários fechamentos de minas acabaram diminuindo a oferta.
A Vale, que produz mais minério de ferro do que qualquer outra mineradora do mundo, informou que a produção caiu 21% no quarto trimestre em comparação com o mesmo período um ano antes. A Rio Tinto, a segunda maior mineradora de ferro do mundo, informou que sua produção caiu 18% no mesmo período.
Diante da cambaleante economia mundial, ainda não é possível determinar exatamente se o ferro continuará a subir ou vai se estagnar, mesmo com os cortes na produção. Thorsten Zimmerman, analista do HSBC, acredita que o ferro vai cair 30% em 2009, deixando as siderúrgicas numa “posição ótima para negociar preços menores”.
Os termos mundiais para os contratos de ferro provavelmente serão determinados pela indústria siderúrgica chinesa, encabeçada pela Baoshan Iron & Steel Co. e pela Associação Chinesa do Ferro e do Aço, que têm sido as primeiras a iniciar negociações com as grandes mineradoras nos últimos anos. Esses termos, que podem ser fechados em março, geralmente são aceitos por todas as siderúrgicas do mundo.
Para sobreviver aos tempos difíceis no cenário econômico, as siderúrgicas esboçaram uma aliança para tentar aumentar sua influência perante as grandes fornecedoras de matéria-prima. Mas em boa medida elas não têm conseguido.
A associação de siderúrgicas da China apoiou no início do mês uma tentativa de unificar o setor para demandar um preço único para o minério importado. Mas o grupo acabou se dispersando depois que algumas siderúrgicas chinesas descobriram que podiam fechar contratos para comprar o ferro a um preço e depois revendê-lo mais caro no mercado à vista.
O resultado das negociações é especialmente importante este ano para os governos da China e dos Estados Unidos, que pretendem adotar planos de estímulo econômico envolvendo gastos consideráveis em infra-estrutura como pontes, estradas e outras obras públicas que precisam de aço. Zimmermann, do HSBC, prevê queda de 7,2% na demanda em 2009 devido ao enfraquecimento das vendas causado pela crise econômica.
Valor Econômico