Siderúrgicas buscam parceiros internacionais
04/09/06
Diante da consolidação das duas maiores siderúrgicas do mundo, que originou o grupo Arcelor-Mittal, as companhias brasileiras reagem buscando parcerias e aquisições no exterior. A Usiminas procura sócios internacionais para a construção de sua próxima usina, cujo local ainda não foi definido, enquanto a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), sinaliza uma sociedade com a chinesa Baosteel, uma das gigantes do setor siderúrgico.
Para minimizar o risco do investimento e ganhar escala para construir sua nova usina, a Usiminas busca parcerias no exterior. O novo empreendimento, que será na Região Sudeste e tem como principais interessados os Estados de São Paulo e Minas Gerais, terá capacidade para produzir 5 milhões de toneladas de aço por ano e aporte na ordem de US$ 3 bilhões. Um dos parceiros deverá ser a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e o outro, ?um dos líderes globais da indústria de aço?, segundo Rinaldo Campos Soares, presidente da siderúrgica. O projeto terá a produção voltada ao mercado externo. ?Queremos ser protagonistas mundiais em placas e laminados, além da liderança absoluta no mercado nacional de planos?, diz Soares. Além da nova usina, a Usiminas vem buscando ampliar sua atividade no Brasil, com previsão de investimentos de US$ 1,8 bilhão até 2010. Os recursos serão destinados à ampliação em 300 mil toneladas anuais da capacidade de laminação de chapas grossas da usina de Ipatinga (MG) e construção de um novo laminador de tiras a quente em Cubatão (SP), que aumentará em 2 milhões de toneladas por ano a capacidade da Cosipa, além da ampliação da produção de placas da Cosipa em 500 mil toneladas, que deverá ser implementada até 2008. A empresa também construirá uma nova coqueria em Ipatinga, com aporte na casa de U$ 230 milhões, e cuja produção, em 2009, deverá atingir 750 mil toneladas por ano, tornando a Usiminas auto-suficiente em coque, um dos principais insumos utilizados na fabricação do aço. Na semana passada, a empresa teve uma linha de crédito aprovada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de até R$ 900 milhões para a realização dos investimentos.
A CSN tem um agressivo plano de expansão que compreende investimentos de R$ 12 bilhões até 2010/2011, período no qual a empresa pretende triplicar seu tamanho, atuando de forma integrada em toda a cadeia do aço. A companhia, que hoje tem apenas uma usina com capacidade de 5,8 milhões de toneladas, em Volta Redonda (RJ), planeja instalar mais duas unidades, uma no Rio de Janeiro e uma que está sendo disputada pelos Estados do Rio e de Minas Gerais. A primeira já teve seu relatório de impacto ambiental entregue aos órgãos competentes. O próximo passo serão as audiências públicas. O estudo de engenharia básica está sendo conduzido pela Baosteel, que poderá se tornar sócia do empreendimento no futuro. Até agora, o que foi acertado é que a CSN comprará máquinas chinesas para equipar sua usina, a exemplo do que fez a Gerdau no ano passado, quando comprou equipamentos da China para a expansão da sua subsidiária Açominas.
Inicialmente, as duas usinas teriam, juntas, 6 milhões de toneladas, ao custo de US$ 3,5 bilhões, mais da metade do volume de recursos que a CSN pretende aplicar na sua expansão até o fim da década. A Baosteel sinalizou, porém, que seria possível elevar o volume de produção para 8 milhões de toneladas com baixo acréscimo de investimento. A CSN avalia a hipótese. Além dos planos de expansão na produção de aço, a empresa está investindo na expansão da mina de Casa de Pedra (MG), que saltará dos atuais 16 milhões de toneladas de minério de ferro para 53 milhões de toneladas em 2010/2011, e comprou recentemente a mina de estanho Ersa (RO).
Presença no exterior
Disposta a ter uma presença mais forte no exterior, a siderúrgica negocia a fusão com a americana Wheeling-Pittsburgh, seu terceiro ativo fora do Brasil, ao lado da portuguesa Lusosider e da americana LLC. O objetivo da CSN com as aquisições lá fora é assegurar mercado para sua produção no Brasil, seguindo a tendência de realizar a chamada fase quente da produção do aço nos países em desenvolvimento, onde a legislação ambiental é mais flexível, e a fase fria nos países desenvolvidos, onde há saturação das usinas existentes e as restrições ambientais são mais rígidas. ?Estamos assistindo a uma reorganização geográfica do setor siderúrgico e, nesta nova etapa, o Brasil, assim como Índia e China, desponta como uma nova plataforma de exportação?, analisa o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo de Mello Lopes.
Cenário global
Para Lopes, a consolidação do setor siderúrgico mundial deu um grande passo com a recente fusão entre a francesa Arcelor e a Indiana Mittal, mas ainda está no seu começo, uma vez que o novo gigante responde por apenas 10% do mercado mundial, concentração baixa se comparada à de outros setores, como a indústria de mineração ou de papel e celulose. Talvez a principal mudança provocada pela criação do conglomerado franco-indiano, afirma o executivo, tenha sido a mudança da noção de escala produtiva. ?Agora estamos falando de uma empresa de 100 milhões de toneladas. As demais empresas vão buscar ganhos de escala para competir com a Arcelor-Mittal e, nessa corrida, o Brasil não está fora do alvo?, afirma Marco Polo, que crê em avanços na consolidação de empresas nacionais no futuro. ?Éramos 41 grupos no Brasil nos anos 80 e hoje somos oito grupos. Avançamos no processo de consolidação, mas ele ainda não terminou?, diz.
Brasil
Há razões para acreditar, no entanto, que as siderúrgicas brasileiras não serão alvo de ofertas hostis no curto ou médio prazo. A primeira delas é que as usinas mais modernas ? Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Belgo Mineira e Acesita ? já entraram no jogo da consolidação, quando passaram ao controle da Arcelor. A segunda é que os dois grupos que seriam alvos naturais, CSN e Gerdau, têm forte controle familiar e nenhuma das duas parece disposta a abrir mão do controle. Pelo contrário. A família Vicunha ampliou o controle sobre a CSN adquirindo a participação dos Rabinovitch no ano passado, elevando para 45,76% sua participação no capital acionário da companhia. O restante está nas mãos no BNDESPAR (6,64%), Caixa de Previdência dos Funcionários (4,6%) e diluídos na Bovespa e na Bolsa de Nova York. Na Gerdau, 10,99% estão com a família e o grupo Gerdau, 9,78% com a Indac e 1,93% com a Gersul Empreendimentos Imobiliários, ficando o restante com investidores institucionais brasileiros (25,33%), investidores estrangeiros (12%) e ações pulverizadas (39,96%).
A terceira razão é que os ativos siderúrgicos estão caros no momento, em função do aquecimento do setor. O preço médio da placa de aço, que era de US$ 260 em 2003, está entre US$ 380 e US$ 400 e pode chegar a US$ 500 ainda este ano, aproximando-se do pico de US$ 550 alcançado em abril de 2005, na avaliação no analista da ABN Amro, Pedro Galdi. ?Se há uma estratégia das grandes empresas de adquirir siderúrgicas brasileiras, não creio que isso será feito agora, pois os ativos estão realmente valorizados?, afirma Galdi. A possibilidade de siderúrgicas nacionais se unirem neste momento também é descartada pelas fontes ouvidas pelo DCI. ?CSN, Gerdau e Usiminas têm gestões muito distintas e há uma cultura das famílias de manterem o controle sobre as empresas?, avalia o analista.
Por essas razões, as siderúrgicas brasileiras são vistas mais na posição de consolidadoras que de consolidadas. ?As siderúrgicas nacionais são competitivas e estão capitalizadas. Estão investindo largamente em projetos de expansão no Brasil, não apenas em modernizações, como no passado, e estão buscando a internacionalização?, afirma o diretor de insumos básicos infra-estrutura do BNDES, Wagner Bittencourt. Neste processo de internacionalização, destaca-se o grupo Gerdau, a mais bem posicionada empresa brasileira no ranking mundial, ocupando o décimo quarto lugar, se incluídas suas aquisições no exterior.