Setor vive momento de ressaca e teme "curva da morte"
18/11/08
Foram vários anos de lucros robustos e de explosão nas cotações de commodities. Agora, a indústria da mineração vive um período de ressaca e teme que se instale no setor a “curva da morte”: o declínio acentuado e quase paralisação dos projetos de pesquisa e prospecção mineral, comprometendo a descoberta de novas jazidas e o aumento de produção no longo prazo.
Para atenuar os efeitos da crise internacional, o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Penna, pede que o governo federal dê atenção e estude a abertura de linhas de crédito especiais para o setor. “Há empresas que têm crédito assegurado, mas muitas estão tirando o pé do acelerador”, alertou, em seminário realizado na semana passada em Belém. Ele considera “sob risco” os planos da indústria de investir US$ 57 bilhões entre 2008 e 2012, segundo levantamento feito pelo Ibram – US$ 37 bilhões são em minério de ferro.
Penna lembra que alguns investimentos se viabilizavam de qualquer forma em um cenário de preços metálicos elevados, mas questões como tributação e financiamento ganham ainda mais importância no atual contexto. Ele cobra que, “à semelhança do socorro, auxílio ou garantia concedidos a outros setores, como automobilístico, bancário e agrícola, também o setor mineral seja contemplado pelo governo”. Não há um quadro generalizado de quebradeiras, segundo o presidente do Ibram, mas diz, o setor não quer “colocar o trinco na porta só depois de ela ter sido arrombada”.
Um dos grandes temores é a queda nos investimentos em prospecção, que triplicaram em quatro anos e chegaram a R$ 375 milhões em 2007. Acredita-se que pelo menos um quarto disso foi aplicado por pequenas mineradoras, as chamadas “empresas júnior”, que correspondem a 73% do total de companhias do setor e costumam fazer investimentos de US$ 1 milhão a US$ 2 milhões por projeto.
Poucos lugares já sofreram tanto os efeitos da crise quanto a região do Tapajós, no oeste do Pará. Até junho, 20 pequenas empresas faziam sondagens no local, na expectativa de encontrar depósitos de ouro. A região tem um dos maiores potenciais auríferos da Amazônia. Com a crise, o financiamento das companhias secou e sobraram apenas cinco.
Uma das que ficaram é a Mapex, que pesquisa uma área total de 50 mil hectares no Tapajós, segundo o diretor Marcelo Pinto. Mas a equipe foi dramaticamente reduzida nos últimos meses: eram 60 profissionais, incluindo cinco geólogos. Restaram cinco profissionais e um único geólogo, afirma Pinto, admitindo que a diminuição no ritmo de pesquisas será inevitável. “Hoje, com os meus prospectos, certamente eu conseguiria alavancar US$ 3 milhões ou US$ 4 milhões lá fora para esses projetos. Nós não temos esse dinheiro para fazer as sondagens”, conta, desiludido.
“Lá fora” é quase sempre o Canadá, país com forte tradição no setor e que tem investidores com apetite pelo risco – um risco que não é desprezível. A Mapex descobriu três depósitos de ouro em 20 anos de atuação na Amazônia. Quando há sucesso, porém, o retorno costuma ser enorme. É em busca de financiamento que muitas empresas júnior se alavancam no Canadá. No ano passado, as mineradoras canadenses captaram US$ 11,4 bilhões na Bolsa de Toronto. Com o colapso financeiro, essa fonte de recursos sumiu.
O economista Luciano de Freitas Borges, ex-secretário de Geologia do Ministério de Minas e Energia e hoje presidente da Steel Mining, teme que a redução da pesquisa afete o número de novos projetos de exploração mais adiante. Ele nota que caiu a prospecção de jazidas de níquel em Goiás e Tocantins e de cobre em Carajás (PA), além de possíveis reservas de chumbo, ferro e zinco. O clima é de ressaca, reconhece Borges, que prevê dificuldades e até o fechamento de muitas empresas júnior. Mas não deixa de ser também, segundo ele, um momento de oportunidades. “Aqueles que têm dinheiro em caixa vão encontrar algumas pechinchas por aí”, avisa. (DR)
O repórter viajou a convite do Ibram
Valor Econômico