Responsabilidade ambiental é bom negócio par empresas
18/05/07
Por Vanessa Stelzer
SÃO PAULO (Reuters) – Com a sustentabilidade no centro do debate mundial, empresas brasileiras aproveitam a oportunidade de serem identificadas com um país rico em recursos naturais para atrair mais consumidores e investidores.
Frente aos alertas de aquecimento global e esgotamento de recursos, as companhias têm feito investimentos em tecnologias limpas, programas de redução ou anulação de emissões de carbono, reciclagem, conscientização de funcionários e restrições a clientes que não respeitam o meio ambiente.
Analistas ressaltam que as medidas não são apenas bom-mocismo e afirmam que elas dão retorno financeiro às empresas. Existem já índices em bolsas de valores que destacam as companhias mais responsáveis.
“As tendências de preocupação ambiental vêm aumentando substancialmente e o Brasil é um foco. A questão (da preservação) da Mata Atlântica e da Amazônia vai parar lá fora e as empresas, como as papeleiras, são muito cobradas”, disse à Reuters Cibele Salviatto, especialista em sustentabilidade e responsabilidade corporativa da consultoria Atitude.
O professor de governança corporativa da Trevisan Escola de Negócios e diretor da Apimec Roberto Gonzalez lembrou que a pressão externa é ainda maior.
“Na Europa, por exemplo, eles queriam saber de onde vinha o aço de todos os produtos comprados do exterior, se havia impacto ambiental na produção”, relatou. “Outro setor bastante cobrado é o petroquímico, que causa alto impacto ambiental e os clientes europeus começaram a exigir responsabilidade sócio-ambiental.”
Em março, um grupo de 15 fundos de pensão brasileiros aderiu aos Princípios para o Investimento Responsável da Organização das Nações Unidas (ONU), que estabelece regras para a escolha dos investimentos, incluindo a questão ambiental.
“Tem novos fundos de investimento que não investem em determinadas empresas ou em determinadas atividades”, afirmou Rogério Gollo, sócio-diretor da PricewaterhouseCoopers. “A empresa não tem a decisão de ser ou não responsável. Ela tem a decisão de quanto e como vai ser.”
INVESTIMENTOS AMBIENTAIS DOBRAM
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1997 a 2002 o investimento da indústria em controle ambiental saltou 86,4 por cento, para 4,1 bilhões de reais.
Nelson Pereira dos Reis, diretor de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), acredita que a tendência se manteve nos últimos anos.
“Aquelas empresas que já tinham investimento estão se estabilizando, mas aquelas que não, estão investindo. Diria que, nos últimos dez anos, esse investimento mais que dobrou.”
A Companhia Vale do Rio Doce, por exemplo, destinou para a área ambiental, em projetos e ações de gestão, 317 milhões de reais em 2006 e pretende aumentar a quantia para 422 milhões de reais este ano.
Outra importante empresa brasileira de alto impacto ambiental, a Petrobras inclui em suas diretrizes de sustentabilidade pontos como a utilização de energias renováveis.
A petrolífera é uma das cerca de 30 empresas que integram atualmente o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado na Bovespa em 2005. Para participar, as empresas respondem um questionário com perguntas sobre sua atuação em áreas como governança corporativa e meio ambiente.
Mas não apenas empresas com alto impacto ambiental buscam espaço na vitrine da sustentabilidade. Outros setores investem no tema para ter uma boa imagem junto aos clientes.
Um exemplo é o Itaú, único banco latino-americano que faz parte do Dow Jones Sustainability Index desde a criação desse índice na bolsa dos EUA, em 1999. Hoje, entre os maiores bancos brasileiros, Bradesco e Unibanco também estão no índice.
Após ter ingressado no índice, o banco aumentou as ações de proteção ao meio ambiente e adotou os Princípios do Equador -conjunto de diretrizes sócio-ambientais usadas por instituições financeiras para a concessão de financiamentos acima de 50 milhões de dólares.
“Usamos para financiamentos de 5 a 10 milhões de dólares. Já rejeitamos financiamentos de empresas que não queriam se adequar à responsabilidade ambiental”, disse Geraldo Soares, superintendente de Relações com Investidores do Itaú.
“Essa posição cria uma cultura entre as demais empresas, que vão se adequar ao verem que têm acesso restrito”, afirmou. É também uma garantia de menor inadimplência, segundo ele, já que uma empresa penalizada por desrespeito a leis ambientais representa risco maior de não honrar um financiamento.
Extra – RJ