Recuperação de commodities divide opiniões para fevereiro
10/02/09
SÃO PAULO – Nem mesmo a destacada recuperação de papéis ligados a commodities desde o início do ano foi capaz de convencer a todos os analistas, cujas carteiras recomendadas para o mês de fevereiro estão divididas entre a manutenção do caráter defensivo e apostas na retomada dos produtos básicos.As interpretações sobre o movimento do mercado brasileiro durante o primeiro mês de 2009 são diversas. Para alguns, revela que os preços de ações como as da Vale (VALE3, VALE5) atingiram seu ponto mínimo, ao passo em que outros acreditam ser reflexo de expectativas quanto às medidas do novo presidente dos EUA, Barack Obama, para estimular a economia do país.Para a equipe de análise da XP Investimentos, o motivo “pode ser atribuído a um rearranjo das posições, com a saída por parte dos investidores de papéis ditos defensivos, para papéis ditos mais cíclicos atrelados a commodities”, descartando a injeção de novo fôlego no mercado.Esta interpretação a fez manter o perfil conservador de sua carteira mensal, com destaque para a participação da Tractebel (TBLE3), elogiada por fatores como eficiência, margens e foco na geração de valor ao acionista, “capaz de ser um importante player defensivo, mas também de crescimento”, segundo a XP Investimentos.Um pouco mais de riscoMenos conservadora, a equipe da corretora Socopa elevou as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) à condição de Top Pick, refletindo expectativas favoráveis sobre seus investimentos. Ademais, “o mercado já antecipou o impacto da recessão nos países ricos na cotação do petróleo”, afirma a corretora, que também destaca os papéis da Vale. Além de operar com desconto frente aos pares internacionais, os analistas entendem que “a cotação dos papéis pode ter chegado próxima do seu mínimo”.De forma semelhante, a corretora SLW entende que o setor de petróleo e gás é destaque, devido às grandes reservas e potencial de crescimento. Já sobre siderurgia e mineração, seus analistas entendem que certo fluxo positivo de notícias começa a aparecer, embora ainda distante do que ocorreu em 2008.”Nossa visão é de que ainda sejam observadas algumas dificuldades comerciais nos meses de fevereiro e março deste ano para estes setores, com gradativa melhora nos meses seguintes”, afirma a SLW em relatório.Posição radicalmente oposta adotam os analistas do Unibanco. “Algumas pessoas podem argumentar que a maior parte desses efeitos já foi precificada no mercado acionário, mas discordamos totalmente”, afirmam, reforçando a presença de apenas uma curta onda de otimismo. Para eles, o mercado continuará volátil, com a aversão a risco em níveis elevados.Bancos em descréditoO cenário para o investimento nos grandes bancos brasileiros, por outro lado, passa a ser menos atrativo, segundo alguns analistas. Com a somatória de más notícias sobre riscos de aumento da inadimplência, menor expansão do crédito e forte pressão do governo para diminuição dos spreads, poucos parecem ainda atribuir o caráter defensivo ao setor.Ainda assim, os papéis de empresas como Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITAU4) marcam presença em grande parte das carteiras recomendadas para o segundo mês do ano, mas sem grande destaque. Situação semelhante ocorre com companhias de consumo e varejo, que deverão sofrer com as dificuldades com a demanda, derivada das restrições ao crédito, e com repasse de custos relativos ao câmbio, originando pressões sobre volume de vendas e margens.Opção por segurançaAs opções dos times de equity research do HSBC e do Unibanco vão num mesmo sentido, guiadas por avaliação muito pouco favorável para os investimentos em renda variável e para a economia mundial. Deste modo, mesmo verificando que muitas empresas encontram-se abaixo do seu custo de reposição, alarmam para a espinhosa trajetória a ser percorrida ao longo de 2009.”A rápida deterioração de muitos mercados importantes prejudica a visibilidade de curto e médio prazo dos investidores, elevando a volatilidade”, analisa o HSBC. “Não há fundamentos econômicos sugerindo que a pior fase da crise já tenha ficado para trás”, ressalta a equipe do Unibanco, que não recomenda a adoção de posições de maior risco. Deste modo, os analistas do HSBC reforçam sua opção por maior exposição aos setores de energia elétrica, bebidas e telecomunicações fixas, voltadas para o mercado interno, com forte geração de caixa e distribuição de proventos. De um modo geral, estes papéis são considerados menos sensíveis à queda na renda agregada brasileira, afirmam.Destacam-se papéis como Telemar (TMAR5) e Transmissão Paulista (TRPL4) na carteira do Unibanco, ao passo em que o HSBC põe em evidência as ações de Tractebel, Telesp (TLPP4) e Energias do Brasil (ENBR3).DissidenteA corretora Ágora, todavia, adotou posição um pouco distinta para sua carteira moderada de fevereiro. Após ter alterado a avaliação de risco médio para sua carteira em relação ao mercado, a corretora decidiu reduzir sua exposição aos papéis de Telesp e Energias do Brasil. Por outro lado, incluiu em suas recomendações as units da SulAmérica (SULA11), “fruto de um setor com previsão de crescimento de receitas de 10% em 2009”.Ao mesmo tempo, decidiu elevar sua exposição ao setor bancário, reforçada pela presença dos papéis do Itaú. Em sua carteira arrojada, destaque para a inclusão das blue chips Vale e Petrobras. “O risco da carteira aumenta, mas em condições de normalidade do processo de recuperação da BM&F Bovespa, esta carteira estará apta a abocanhar os melhores spreads contra o benchmark”, concluem os analistas.
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