Quilombolas realizam live do Festival de Cultura Negra
31/08/20
Com o intuito de reafirmar o empoderamento feminino, a cultura e a valoração da vida negra, oito comunidades quilombolas do município de Oriximiná, no Oeste do Pará, reúnem-se neste sábado (29) em live do I Festival de Cultura Negra. O evento será transmitido, às 18h30, diretamente da sede da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná (ARQMO) pelo canal do Youtube da Uirapuru Cultura e Comunicação. A iniciativa é uma realização do Projeto Circuito de Cultura, patrocinado pela Mineração Rio do Norte (MRN) via Lei de Incentivo à Cultura, e tem o apoio da ARQMO e Grupo de Mulheres Pretas e Quilombolas do Município de Oriximiná Dandaras.
O festival terá a participação das comunidades Boa Vista Trombetas, Boa Vista Cuminã, Serrinha, Moura, Curuçá, Jauari, Palhal e Jamari, que levarão aos internautas a mistura de ritmos, cores e sabores da cultura quilombola. Na parte musical, o repertório ficará por conta dos músicos Francisco Colé, Aurynha Souza e Madson Viana. Haverá também apresentações de dança pelo Grupo Dandaras, exposição de artesanato do barro com os motivos da cerâmica Konduri, mostra de biojoias feitas a partir das sementes, caroços e fibras naturais, exposição das iguarias das comunidades quilombolas, mostra das bonecas pretas, “Projeto de Incentivo à Entrada de Jovens Quilombolas na Universidade” e apresentação da Rainha do Festival.
“No ano passado, realizamos duas edições do festival, que é uma vitrine das ações que ocorrem nas comunidades. Este ano, retomamos as ações tendo que adaptá-las a este momento de pandemia. Então, nada melhor do que reunir todo mundo em uma live. Essa retomada é importante para a unidade e socialização dos artistas dessas comunidades, além de despertar neles o sentimento de que a gente continua trabalhando nesse importante projeto cultural. Esperamos nos conectar de uma forma bem intensa”, afirma Annieli Valério, produtora do Circuito de Cultura, em Oriximiná.
A pedagoga Rosivalda dos Santos, moradora do Último Quilombo, também está na expectativa do encontro. “O festival é importante para o fortalecimento da cultura e da nossa identidade. É momento também de combater o racismo tão forte ainda no Brasil e no mundo. Trazer esse festival para a sede da ARQMO tem um significado todo especial. É a forma de mostrar para a sociedade os nossos costumes através da música e da culinária”, destaca.
Ela integra o grupo Dandaras, que levará a mostra das bonecas pretas para o festival. “Antes do evento, houve uma oficina para a confecção das bonecas pretas. Além do resgate de uma cultura aprendida com as nossas avós, será uma oportunidade de renda para nós. Futuramente, queremos levar as oficinas para dentro dos territórios quilombolas e fortalecer o protagonismo negro nas escolas, apresentando nossas bonecas às crianças”, revela Rosivalda, que é exemplo desse protagonismo, realizando dois sonhos acadêmicos ao cursar Biologia na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e pós-graduação em Cultura Afro-brasileira pela Universidade Norte do Paraná (Unopar).
Doceiro há mais de 30 anos, Carlos Printes, morador da comunidade do Abuí, na região do Alto Trombetas 1, vai mostrar o talento com as iguarias de castanha-do-pará, apresentando doces, bombons, biscoitos e bolos. Para as comunidades quilombolas, o fruto tem uma ligação direta com suas tradições, já que produzem os castanhais, fazem a coleta e comercialização das castanhas e o utilizam na alimentação. “Costumo a vender meus produtos em eventos, como o Dia da Consciência Negra, e reuniões comunitárias. Também atendo encomendas, inclusive de Manaus e o Rio de Janeiro”. Printes também é cantor e compositor e dará uma palinha no festival, cantando duas canções de sua autoria: “Fique em casa” e “Não somos mercadoria”.
O município de Oriximiná é o segundo maior município do Estado do Pará em extensão territorial, onde vivem mais de 10 mil quilombolas. Na região, a Mineração Rio do Norte busca, ao longo dos anos, valorizar e apoiar os povos negros, com oficinas musicais e artísticas em comunidades e escolas polo, por meio das lideranças de associações quilombolas, das festividades culturais comunitárias, e da festividade anual de culminância que é o dia da Consciência Negra, celebrado em novembro. “Esperamos que o Festival de Cultura Negra de Oriximiná, mesmo no período desta pandemia, possa trazer a produção cultural, artística e outras temáticas, para unificação de forças, artes, debates, projetos e ideias para um novo ciclo de resgate cultural em novos tempos de desafios que estamos vivendo. A expressão da arte e cultura negra, sem dúvida tem este poder mobilizador para as novas gerações”, ressalta Rui Almeida, analista de Relações Comunitárias da MRN.
Serviço:
Live do Festival de Cultura Negra de Oriximiná – Dia 29 de agosto
Transmissão, às 18h30, pelo canal do Youtube da Uirapuru Cultura e Comunicação