Quebra de oferta colocará fim à crise global de commodities
26/08/08
O milho e a soja se recuperaram em um momento em que o reduzido rendimento das safras empurrou os estoques norte-americanos desses grãos para níveis próximos aos mais baixos de cinco anos. O petróleo reverteu sua tendência anterior de queda frente às tensões entre os EUA e a Rússia. O níquel alterou radicalmente sua trajetória depois que a Xstrata Plc fechou uma unidade na República Dominicana.A pior crise da história das commodities pode estar no fim, sinalizando uma reedição da queda vertical de 2006 que precedeu a duplicação dos preços ocorrida nos 17 meses seguintes, conforme apurado pelo Índice GSCI Standard & Poor`s. Só que desta vez o fator impulsionador é a queda da oferta, e não o aumento da demanda.”As restrições na ponta do abastecimento estão ganhando cada vez mais a cena e isso vai distinguir o desempenho de cada uma das commodities”, disse Alan Heap, analista mundial de commodities do Citigroup Inc. de Sidney. “Ainda estamos antecipando a elevação dos preços para o ano que vem e, em alguns casos, para o ano seguinte”.As commodities atravessam seu sétimo ano de valorização, impulsionadas pela demanda puxada pela China e pela Índia e por suspensões da oferta gerada pela mineração e pela atividade agrícola. Uma recuperação das matérias-primas em relação às suas maiores baixas dos últimos quatro meses deverá elevar os lucros da BHP Billiton, aumentar os custos da Nestlé e estimular a inflação, limitando a capacidade dos dirigentes dos bancos centrais norte-americano e europeu, Ben S. Bernanke e Jean-Claude Trichet, de cortar as taxas de juros e reaquecer o crescimento nos Estados Unidos e na Europa.O petróleo subiu 3% a partir de uma baixa de mais de três meses, após aumentar 10% puxado pelo receio de que o abastecimento pode sofrer interrupções devido às tensões entre Rússia e Estados Unidos em torno da Geórgia e do escudo antimíssil da Polônia. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) poderá examinar a possibilidade de reduzir a produção em sua reunião de 9 de setembro, disse o ministro da Energia e Petróleo da Venezuela, Rafael Ramírez, e os estoques norte-americanos de gasolina estão caindo.O cobre, depois de despencar até 20% em relação a seu recorde de US$ 8.940 a tonelada registrado em 2 de julho, se recuperou em relação à sua maior baixa dos últimos seis meses com a queda da produção da BHP Billiton, a maior empresa de mineração mundial, e da chilena Codelco, a maior produtora mundial do metal. O alumínio deverá subir com a escassez de energia elétrica, que obriga os produtores chineses a reduzir a oferta, informou o Barclays Capital, a divisão de valores mobiliários do Barclays Plc.A Xstrata, quarta maior refinadora de níquel do mundo, disse em agosto que a suspensão das operações no seu complexo de Falcondo na República Dominicana poderá durar quatro meses. O complexo produz 29 mil toneladas de níquel anuais, ou cerca de 2% da produção mundial de níquel primário.O milho e a soja, que caíram 37% em relação a seus picos, subiram nas últimas duas semanas uma vez que o atraso do plantio ameaça reduzir o rendimento das lavouras dos EUA. Outra preocupação foi a possibilidade de que os protestos contra os impostos sobre as exportações possam interromper a oferta vinda da Argentina, a segunda maior exportadora mundial de milho e a terceira maior de soja. Isso exerceria pressão sobre os estoques mundiais de cereais, que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, pelas iniciais em inglês), estão perto de seu menor patamar dos últimos 30 anos.”Acho que o surto da valorização das commodities não acabou, absolutamente”, disse Malcolm Southwood, analista de commodities do Goldman Sachs JBWere Pty, no último dia 21 de agosto. “Passamos por uma certa queda cíclica dentro de um mercado altista de longo prazo, e os fatores econômicos estruturais estão, em boa medida, intactos.””O que nos interessa é o longo prazo”, disse Clark McKinley, porta-voz da Calpers, no estado norte-americano da Califórnia. “Oscilações de curto prazo não têm grande importância para nós”, acrescentou McKinley.
DCI