Projetos mudam a vida das regiões
29/06/09
Projetos mudam a vida das regiões A abundância de recursos hidrográficos é canalizada para fortalecera agricultura, fazendo nascer no Estado uma dinâmica indústria de alimentos. Por Zanoni Antunes Reconhecido como berço das águas,Goiás concentra as nascentes e recargas de três das mais importantes bacias hidrográficas do Brasil. Tem, portanto, condições privilegiadas de quantidade e qualidade de água para irrigação. Há instalados no Estado 2,4 mil pivôs centrais, equipamentos que permitem a irrigação mecanizada de extensas áreas. Eles estão espalhados por 192 mil hectares. Algumas cidades se destacam pelo número de pivôs e área irrigada, caso de Morrinhos, Água Fria de Goiás, Palmeiras de Goiás, Itaberaí, Paraúna, Jussara, Campo Alegre de Goiás, Luziânia e Catalão. Mas é em Cristalina, segundo mais extenso município do Estado e distante cerca de 350 quilômetros da capital, onde estão reunidos os principais projetos. São 510 pivôs em 4,3 mil hectares. É a cidade mais irrigada do país e, graças a essa condição, grande produtora de soja, milho, batata, alho, cebola e cenoura. É, ainda, a maior produtora brasileira de feijão. De suas terras saem anualmente 97,4 mil toneladas da leguminosa, a um rendimento médio de 2.371 kg/ha, o maior do Brasil. A agricultura irrigada está em pleno desenvolvimento em Goiás. Atrás da pujança agrícola, grandes indústrias de alimentos instalaram-se no município e outras estão em fase adiantada de implantação. É o caso da francesa Bonduelle, cujo projeto de construir uma fábrica de legumes em conservas na cidade vai consumir investimentos entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões. Da mesma forma, fincam lá suas bases a Fugini, importante produtora e exportadora de matéria-prima para a indústria de sucos, e a fabricante de conservas Incontril. A previsão é de que as três comecem a funcionar já no primeiro semestre de 2010. Com elas virão novas empresas, como indústrias de embalagens, adubos e fertilizantes, segundo o prefeito Luiz Carlos Attié. “Nossa expectativa é a geração de 1,5 mil empregos diretos e 6 mil indiretos”, afirma. Cristalina vive, assim, um grande momento da política de industrialização, responsável pela mudança radical no perfil econômico. Até o final da década de 70, a extração e a comercialização de cristal de rocha prevaleciam como atividade. Quase toda a população dependia dominério. Hoje já não é assim, embora turistas e artesãos de todo o país procurem o município em busca do cristal, ainda fonte de renda e emprego. Parte da reviravolta pode ser creditada à falta de vocação industrial de uma importante vizinha – Brasília, a capital federal, distante cerca de 130 quilômetros. Goiás, de acordo com Attié, tem tirado proveito disso e investido no desenvolvimento das fábricas. Nesse sentido, Cristalina oferece, como assegura o prefeito, “ótimas oportunidades e facilidades” de instalação e mão de obra qualificada. Água e clima levaram a Agrícola Wehrmann a trocar o Paraná, onde foi fundada em 1974, pelo distrito de Campos Lindos, em Cristalina. Na sua fazenda Santa Bárbara, o proprietário Verni Wehrmann mantém-se fiel à tradição da família – o pai foi pioneiro na mecanização da produção de sementes de soja no Paraná. Além de produzir sementes, a Agrícola Wehrmann deu início a um projeto de pesquisa para melhoramento genético ainda nos anos 80. Mais tarde, entrou na produção de hortaliças. Hoje, está voltada para a produção e pesquisa de sementes e de hortaliças, soja, milho, alho e batata. Segundo Verni Wehrmann, a região é propícia ao plantio e as culturas são exploradas dentro de padrão técnico elevado, com alta mecanização. “Optamos por explorar culturas não muito convencionais na região, como as hortaliças”, afirma. “Isso nos leva a usar muita mão de obra, mesmo com a mecanização: plantamos 2 mil hectares de hortaliças e temos 2 mil funcionários.” A Agrícola Wehrmann produz em escala para atender redes de supermercados. Como os produtos são muito fiscalizados as redes exigemo cumprimento de uma série de exigências. “Toda a nossa produção é certificada pelo GlobaIGap”, informa Verni. GlobalGap é um protocolo criado por atacadistas europeus para garantir a qualidade de produtos oferecidos “in natura”. Busca implementar as boas práticas de produção agropecuária e está baseado nos conceitos de segurança alimentar, proteção ambiental, bem estar animal e segurança no trabalho. “É cada vez mais forte a tendência internacional de o mercado consumir apenas produtos certificados pelo protocolo GlobalGap”, observa. A Agrícola tem clientes na Espanha e na Itália. Na fazenda, Santa Bárbara, o sistema de irrigação trabalha com 32 pivôs numa área de mais de 2 mil hectares. Os pivôs funcionam automaticamente e seguem uma tabela de lâminas que determinam a quantidade de água a ser utilizada. O sistema é acionado principalmente à noite, quando a dispersão, a evaporação e os ventos minimizam o desperdício. Além disso, à noite as tarifas de energia são mais baixas. Segundo Wehrmann, a capacidade de irrigação poderia dobrar se houvesse melhor distribuição de energia. Com o sucesso obtido com a irrigação desenvolvida pelos produtores, o governo estadual trata de dar ênfase especial aos projetos públicos, como o de Luís Alves, cuja primeira etapa está consolidada, e o de Flores de Goiás. Luís Alves é um povoado do município de São Miguel do Araguaia, distante 526 quilômetros de Goiânia. Lá trabalham, hoje, 46 produtores. Quando todas as etapas do projeto tiverem sido cumpridas, serão cerca de 300. Na primeira etapa, já foram aplicados R$ 19,3 milhões. O total de recursos previstos é de R$ 38,5 milhões em obras de canais, drenos, estações de bombeamento e de drenagem, diques, sistematização e estradas. A área bruta total é de 33,6 mil hectares, com 11 mil para ser irrigada. Hoje, os agricultores plantam, no período seco do ano, produtos como soja, sorgo, melancia, abóbora cabotiá, melão, feijão e milho, com altos índices de produtividade e de qualidade graças à baixa incidência de pragas e doenças. Na época de chuvas, plantam arroz irrigado, também com resultados expressivos. Além disso, pesquisas tratam de encontrar outras culturas propícias à região, de modo a diversificar o cultivo. Já Flores de Goiás é município da região do Vão do Paraná, no nordeste goiano. O projeto de irrigação, distante 430 km de Goiânia e 231 km de Brasília, abrange também as cidades de Formosa e São João d`Aliança. Está em andamento a instalação de sistema de captação e distribuição de água para facilitar o uso de vários métodos de irrigação. Ele começa na barragem do rio Paraná, de onde sai um canal principal de 109,5 km em direção ao rio Macacão e que permitirá irrigação de área de aproximadamente 26,S mil hectares.Aí serão cultivados cereais e frutas, bem como estará aberta a possibilidade de se desenvolver a pecuária intensiva e a piscicultura. Até abril tinham sido aplicados R$ 82,7 milhões no projeto. Atualmente, em Flores de Goiás planta-se arroz – parte irrigado, já ao longo do canal do projeto -, milho, soja, feijão, tomate, banana, uva, girassol, mamão, manga, acerola e outras frutíferas, além da exploração da pecuária intensiva e da piscicultura. Com o projeto, serão criados, prevê o governo, 6.650 empregos diretos e 16.200 indiretos.
Valor Econômico