23/06/08

Em meio à avalanche de números bilionários de investimentos em siderurgia e mineração, o cotidiano da cidade de Jeceaba – a 124 quilômetros de Belo Horizonte – e de municípios vizinhos começa a mudar rapidamente. Dispararam os preços dos imóveis; os moradores agora convivem com o trânsito pesado de caminhões e a demanda por produtos, principalmente os da construção civil, teve enorme crescimento. Alessandra Gonçalves, sócia de uma imobiliária na capital mineira, decidiu, no fim do ano passado, mudar para Jeceaba, atrás de negócios, na esteira do empreendimento da Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB). Comprou lotes e terrenos rurais e ganhou muito dinheiro. O valor de aluguéis e terrenos subiu até 600% em seis meses. Recentemente, outra imobiliária se instalou na cidade, em frente à de Alessandra. ?Quando ficamos sabendo do desenvolvimento previsto para a região, fizemos uma pesquisa durante quatro meses e decidimos abrir uma filial. Grupos de empresários de São Paulo, do Rio e de Belo Horizonte têm vindo para cá atrás de oportunidades?, conta ela. No caminho para o futuro distrito industrial, o que mais se vê é placas de vende-se em casas simples e lotes. No centro da cidade, José Sabino Gomes investiu R$ 150 mil para ampliar o hotel que administra, juntamente com um bar. Gomes transformou a casa da família, ao lado do hotel, em um anexo e aumentou de 8 para 14 o número de quartos. ?A gente tem a expectativa de boas melhoras?, diz. Gomes já recebeu propostas para arrendar o hotel para empreiteiras responsáveis pelas obras de construção do distrito. Por enquanto, recusou todas. Em São Brás do Suaçuí, na divisa com Jeceaba, que tem 3,3 mil habitantes, Venâncio Pinto de Souza esfrega as mãos. Dono de uma loja de material de construção, ele demonstra entusiasmo com a perspectiva de ganhos. Mineiramente, diz que a procura aumentou ?um pouquinho?, coisa de uns 40%. ?O grosso ainda está por vir.?Mas só de sacos de cimento, Venâncio vende hoje cerca de 500 por mês. Antes, a média não chegava a 100. Há três meses, comprou um caminhão zero-quilômetro para atender às entregas e procura diversificar os produtos. ?A gente tem de crescer, senão não vai conseguir acompanhar.? Essas mudanças impõem desafios aos administradores dos municípios. A expectativa é de aumento de 70% na demanda por serviços de saúde e educação. Uma equipe de arquitetos foi contratada para fazer o planejamento articulado de Jeceaba e cidades vizinhas – São Brás do Suaçuí e Entre Rios, todas sob influência do investimento do distrito industrial e carentes de infra-estrutura – Jeceaba não tem tratamento de água e esgoto.

O Estado de S.Paulo