Porto é responsabilidade de todos
26/07/07
Desde o início do programa de privatização de áreas e serviços portuários, em meados da década passada, a eficiência e a produtividade dos portos progrediu sensivelmente. O contato com práticas de gestão e tecnologias mais avançadas nos terminais privatizados mostrou aos trabalhadores avulsos e aos servidores das administradoras públicas que porto é atividade produtiva, e não cabide de emprego. Ensinou que porto precisa de agilidade, segurança e custo competitivo para se tornar um negócio sustentável. Isto só se consegue quando a sociedade assume o porto como um patrimônio seu, passando a responder pelos cuidados e investimentos que ele demanda, em vez de ficar esperando que o governo o faça. O papel do Estado é implementar políticas públicas, apoiar e fiscalizar de forma eficiente a atividade, e não executar serviços ou gerir mão-de-obra operacional. Numa demonstração de sintonia com essa visão moderna da atividade portuária, a sociedade gaúcha vem se mobilizando, através de suas entidades empresariais, para assumir as rédeas do desenvolvimento e do futuro de seu único porto marítimo ? o porto de Rio Grande. O movimento se iniciou com a constituição do Comitê para o Desenvolvimento do Porto de Rio Grande ? Pró-Porto, formado por oito entidades empresariais representando a agricultura, a pecuária, a indústria, o comércio e os setores de transporte de carga e terminais portuários do Estado. Com base num documento produzido por esse Comitê, contendo sugestões de medidas para tornar Rio Grande um importante porto concentrador de cargas do Cone Sul da América ? o porto do Mercosul ? a Assembléia Legislativa do Estado decidiu debater o assunto em profundidade e realizou uma Audiência Pública que reuniu, além de autoridades públicas e lideranças políticas locais, mais de cem empresários de diferentes setores. Dessa iniciativa resultou a criação da Sub-Comissão de Portos e Hidrovias, que até o mês de setembro deverá apresentar ao governo estadual um elenco de propostas para tornar o porto de Rio Grande e a privilegiada malha de hidrovias gaúcha um fator de geração de riqueza, atração de investimentos e criação de empregos, especialmente em atividades vinculadas ao comércio exterior. As cargas movimentadas por Rio Grande são 100% oriundas do próprio estado, o que indica a importância de um estreitamento dos laços com as forças produtivas regionais mas também, sobretudo, sinaliza para a necessidade de ampliar seu raio de influência. Rio Grande movimentou, no ano passado, perto de 22 milhões de toneladas, principalmente em granéis, e conta com um dos principais terminais de contêineres do País. O Comitê Pró-Porto vislumbra a possibilidade de que, a médio prazo e apenas com melhoria de gestão, calado adequado e eliminação de ineficiências, o porto marítimo gaúcho poderá aumentar em 50% sua movimentação, ganhando vantagem competitiva sobre os portos concorrentes de Buenos Aires e Montevidéo. O exemplo serve para todos os estados brasileiros dotados de portos. Desde que bem administrada, a atividade portuária tem grande potencial de gerar empregos e renda, ao estimular a implantação de empreendimentos industriais e comerciais na sua retroárea. Trata-se de um patrimônio que não pode ser negligenciado, e cabe à sociedade tomar a si esta responsabilidade. Wilen Manteli (Artigo publicado no nº 107 – 07/2007 – Revista Global)
Revista Global