Por que os EUA denunciam a China pelas "terras raras"?
26/03/12
Até aos anos 90, os Estados Unidos auto-abasteciam-se destes minerais, mas o pouco investimento neste sector de alto desenvolvimento e inovação deixou-os para trás.
A União Europeia, os Estados Unidos e o Japão acusaram ontem oficialmente a China, perante a Organização Mundial do Comércio, pela sua restrição às exportações de matérias primas, entre as que estão incluídas elementos de ?terras raras? que são essenciais para o fabrico de produtos eletrónicos. Como mostra este gráfico, desde 1995 e após um período de transição que se inicia em 1985, a China passou a encabeçar a produção mundial dos minerais conhecidos como ?terras raras?, os 17 metais aderidos à família dos Lantanídeose que figuram no bordo deste gráfico com o seu símbolo e número atómico.
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Embora até 1985, a supremacia na exportação destes minerais fosse dos Estados Unidos, a China começou a tomar a dianteira e hoje é o país que produz 95% destes minerais que têm diversas aplicações nos produtos de alta tecnologia. Ao contrário do que é dito, inclusive em meios como o El País, estes minerais não são escassos e encontram-se em grande abundância na crosta terrestre, mas requerem elevado investimento. Até aos anos 90, os Estados Unidos auto-abasteciam-se destes minerais, mas o pouco investimento neste sector de alto desenvolvimento e inovação deixou-os para trás e hoje são importadores líquidos deste recurso crítico, o que dá conta do afastamento da linha de tecnologia avançada que os Estados Unidos sofreram.
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A disputa contra a China, que foi avalizada pelo Japão e pelos países europeus, como vem sendo habitual, é encabeçada por Barack Obama, dado que este é um ano de eleições nos Estados Unidos. Os republicanos (o partido opositor ao atual presidente) criticam Obama por não ter sido o suficientemente duro com a China e com as suas práticas comerciais, pelo que, desta vez, está em jogo todo um arsenal de argumentos. O certo é que, quando a China afrouxa em demasia nas suas políticas comerciais, recebe críticas por não exercer um maior controlo e aumentar o valor dos seus produtos (reavaliação interna); e quando exerce este controlo, como com a exploração destes minerais, (que implica uma grande deterioração do meio ambiente) também é criticada.
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Wall Street e o abandono da economia real
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Para não nos enganarmos, há que recorrer à História e ver o que aconteceu nesse período de certa ambiguidade que demarca a década 1985-95. Estes são os anos do auge de Wall Street e do modelo monetário que se aplicou no mundo. Nesse momento, os Estados Unidos abandonam o investimento mineiro de ?terras raras? (têm abundantes recursos no deserto de Mojave, na Califórnia), enquanto na China ocorre o inverso e dá-se um forte empurrão ao investimento nesta mineração.
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Tão interessados estavam os investidores americanos pela ?mineração? de Wall Street que deixaram de lado a mineração de ?terras raras?. Pensava-se que com o consumo existente nesse momento, que permitia o auto abastecimento dos Estados Unidos, seria suficiente. A cegueira provocada por Wall Street e pelas milionárias utilidades do dinheiro fácil e sem esforço, abandonaram a economia real e esta é uma prova disso. Os Estados Unidos ficaram para trás. Agora a situação mudou e é a forte procura de ecrãs para telemóveis ou LCD, de discos rígidos ou baterias, que aumentou a apetência por este minerais que, há apenas duas décadas, não eram tão apreciados.
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Esta é a tabela periódica dos elementos desenvolvida por Mendeleiev e é interessante ver como estes 17 elementos formam um quadro à parte, dado que são um grupo químico altamente coerente na sua estabilidade. Talvez seja por isto que na China se fez o contrário do que nos Estados Unidos e, depois dessa década de vazio e incerteza, aumentou a investigação e exploração destes 17 elementos minerais.
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Hoje em dia, esses elementos constituem a essência de muitos produtos que formam parte da nossa vida quotidiana: ecrãs de Ipad, telemóveis, monitores ou LCD, assim como baterias para equipamentos de computação e partes e peças para automóveis ou equipamentos de energia eólica e das marés. Ou seja, grande parte do mundo em que vivemos hoje e também do futuro próximo. Como é que os Estados Unidos deixaram escapar esta autêntica galinha dos ovos de ouro? Muito simples: apostaram no lucro e na ganância fáceis de Wall Street, essa mesma que hoje os tem apanhados no vazio.
Esquerda.net