População teme desastre social
07/07/08
Milhares de pessoas de Minaçu, de Goiás e do Brasil serão atingidas com o fechamento da mina Cana Brava
Sônia Ferreira
Empresários e trabalhadores do setor de fibrocimento, geólogos e o prefeito de Minaçu, Joaquim Silva Pires, prevêem um desastre econômico e social para a Região Norte de Goiás, com reflexos para o Estado como um todo e para o Brasil, caso o uso do amianto seja proibido no Brasil.
O diretor-geral da Sama, Rubens Rela, avisa que, se o STF considerar ilegal o uso do amianto no Brasil, a mina de Minaçu fechará suas portas, no outro dia. “Não teremos base legal para continuar trabalhando”, alega.
O prefeito de Minaçu Joaquim Silva Pires (PSB) conta que a população da cidade está muito preocupada, já que a base da economia do município é a mineração de amianto. Mais de 45% do dinheiro que circula na cidade e também em outras vizinhas, é proveniente da cadeia do fibrocimento.
DoençasO prefeito Joaquim Pires atribui essa polêmica sobre a proibição do uso de produtos de fibrocimento a interesses comerciais de empresas concorrentes da Sama, que usam fibras sintéticas em seus produtos, a custo bem superior e os produtos têm durabilidade menor.
Adilson Santana, presidente da Federação Internacional dos Trabalhadores do Amianto (Fitac), que envolve trabalhadores do Brasil, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Cuba e México, conta que trabalhou diretamente com a exploração do amianto, na mina, por 22 anos. Garante que a federação e os sindicatos do setor fiscalizam, diariamente, as condições de trabalho das pessoas e que, desde 1980, não há registro de doenças pulmonares entre eles.
Na opinião do presidente da Fitac, “nenhum trabalho nesse mundo justifica dar a vida para ganhar a vida”. Ele conclama os ministros do STF,políticos e opositores do uso do amianto a visitarem a mina, em Minaçu, e conferirem de perto as condições de trabalho das pessoas que estão diretamente no processo. “Dentro e fora da mina, nas indústrias que atuam com a fibra do amianto, o ambiente é saudável, não há poluição”. Lembra que a Sama tem, inclusive, o certificado ISO 14001, de controle ambiental.
Dependência O presidente da Associação Comercial de Minaçu, Aílton Gratão de Araújo, afirma que a Sama é a mola propulsora do desenvolvimento econômico da cidade e de outros municípios vizinhos. “Nossa região se desenvolveu graças à indústria”, compara.
Este ano, a Sama vai produzir 290 mil toneladas de amianto. Desse total, 60% serão destinados para exportação e 40% para atender o mercado interno.
Em função do crescimento de 12% da demanda mundial de amianto – principal matéria-prima para a produção de caixas d?água, telhas planas e onduladas de fibrocimento e outros produtos – a empresa está investindo R$ 18 milhões este ano para aumentar a produção.
Desde que começou a se instalar em Minaçu, em 1967 até agora, a Sama já investiu R$ 300 milhões em sua unidade. Desse total, 15% foram aplicados em projetos de preservação ambiental e na melhoria do ambiente de trabalho.
Para o geólogo e empresário do setor mineral, Luiz Antônio Vessani, a polêmica sobre o uso do amianto representa um jogo de mercado de uma grande empresa multinacional, e de alguns poucos políticos de São Paulo. “Eles querem proibir o uso dos produtos de fibrocimento para deixar espaço para os de fibra sintética, que são mais caros e de menor durabilidade. Corremos o risco de substituir uma fibra, que já conhecemos, por outra pior e desconhecida”, denuncia.
Vessani chama a atenção para outro problema, de âmbito maior, que essa decisão do STF poderá causar. É a falta de credibilidade do Brasil no exterior. “Querer fechar uma indústria, sem argumentação científica maior, vai manchar a imagem do País junto a investidores internacionais”, alerta o geólogo.
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