Poderia ser melhor
06/08/07
O crescimento de 4,8% na produção industrial brasileira no primeiro semestre deste ano em relação a igual período do ano anterior representa uma esperança de recuperação nesse importante setor da economia. Mas o resultado poderia ser melhor se o país já tivesse resolvido restrições como o desalinhamento do câmbio, o excesso de burocracia e o próprio ambiente de negócios no Brasil. Mesmo assim, o registro assinala revigoramento da indústria de transformação a partir de encomendas de bens de capital, elevação do uso da capacidade instalada e um cenário de maior confiança por parte dos empresários. Segundo o relatório do IBGE, a produção de manufaturados se recupera há nove meses pelo crescimento consistente nos principais segmentos como bens de capital, produtos de consumo duráveis, sobretudo automóveis, e alimentos. Até setores que sofreram mais severamente a questão cambial, reduziram o ritmo de perda nos primeiros seis meses do ano, apontando para a possibilidade de retomada neste segundo semestre. Não obstante, a desagregação dos dados aponta para uma expansão induzida por consumo interno em vez de exportações, admite o órgão federal de estatísticas. Por isso eles precisam ser encarados com prudência, já que a participação da indústria na composição do Produto Interno Bruto teve redução, caindo de 34% para 18% nos últimos anos. É que a produção de manufaturados para exportação vem perdendo substância ano após ano depois que o governo optou por sustentar o controle da inflação com uma política de valorização da moeda nacional, com um câmbio desalinhado que afetou a vantagem competitiva da indústria. Em paralelo à retração na exportação de bens manufaturados, essa mudança cambial ensejou uma onda de importações que forçou o governo a anunciar proteção aos setores mais afetados pelo desequilíbrio: calçados, vestuário e móveis. O presidente da Confederação da Indústria reclama que ?medidas pontuais ajudam, mas não são suficientes, porque além de não termos proteção cambial, continuamos a conviver com deficiências como a logística, carga fiscal e burocracia?. No caso paranaense, um estudo estima que a perda de competitividade da indústria paranaense já passa de 8%: o volume exportado cresce para a indústria extrativa, porém se retrai na oferta de bens de maior valor agregado. O primeiro alento só ocorreu com a escolha do professor Luciano Coutinho para a presidência do BNDES. Defensor de um patamar sustentável para o desenvolvimento industrial, Coutinho propõe mais apoio à inovação tecnológica, consolidação de empresas produtoras e assim por diante. Num horizonte mais amplo, entram em questão as razões pelas quais o país não cresceu no ritmo dos demais emergentes. Estes ou tiveram progresso nas reformas ? reduzindo tributos como a Rússia ? ou sustentaram políticas indutoras da expansão industrial, como a China. Infelizmente as turbulências presentes apontam o fim dos bons tempos, mas a força do mercado interno pode sustentar nossa indústria nessa fase de transição.
Gazeta do Povo – PR