Perfil do setor mineral no Canadá mudou após escândalo de 1997
12/03/07
The Economist12/03/2007
Houve um tempo em que a convenção anual da Associação dos Prospectores e de Desenvolvimento do Canadá atraía uma multidão de sujeitos rústicos, das despovoadas áreas ao norte do Canadá, para celebrar ruidosamente na cidade grande e contar histórias exageradas e bem-humoradas aos investidores sobre suas concessões de mineração. O evento em Toronto deste ano não foi apenas um encontro de desbravadores, mas a maior reunião mineradora do mundo.
Alguns da velha guarda marcaram presença, mas a maioria dos 15 mil participantes no evento estava mais apta a manejar um telefone inteligente BlackBerry do que uma picareta e tinha mais chances de ser da Mongólia, Peru ou África do Sul do norte de Ontário. As conversas, no entanto, eram seguramente familiares. Será que o filão de sorte (boa ou má) continuará? Como o setor conseguirá lidar com a mudança dos tempos?
As mineradoras canadenses, como as de qualquer outro lugar, estão nas alturas desde que os preços dos metais iniciaram sua decolagem estratosférica em 2002. Mais da metade das mineradoras e exploradoras mundiais, 1.274 no total, está registrada em alguma das duas bolsas de Toronto, a TSX e a TSX Venture. Juntas, levantaram mais de US$ 11 bilhões em ações no ano passado, especialmente graças ao apetite insaciável da China por matérias-primas. Os recentes tremores nos mercados de ações e commodities, no entanto, fortaleceram os receios de que algumas cotações de metais possam já ter chegado a seu pico e agora iniciem o movimento de queda.
Ainda assim, o ambiente em Toronto era de celebração. Antes das altas, as mineradoras menores, que são a maioria das listadas em Toronto, sofriam uma longa seca. A falta de investimentos para exploração e desenvolvimento de projetos devia-se, apenas em parte, aos baixos preços dos minerais. Outro motivo era o escândalo com a Bre-X Mineral, uma empresa canadense que divulgou falsamente ter descoberto um grande depósito de ouro na Indonésia. Os investidores do mercado de ações perderam cerca de 6 bilhões de dólares canadenses (R$ 10,7 bilhões) quando a fraude veio à tona. Ninguém foi condenado pela maior fraude acionária na história do Canadá, embora o vice-presidente da Bre-X, John Felderhof, tenha sido acusado de negociação com informações privilegiadas. Espera-se o veredicto ainda neste ano.
Por algum tempo, o escândalo obscureceu outras empresas canadenses. Agora, no entanto, essa sombra desvaneceu-se, segundo o prospector Jens Hansen, de Ottawa, que participou da convenção. O legado da fraude foi uma regulamentação rígida, incluindo a exigência de que os resultados de testes de exploração tenham alguma garantia independente.
Hansen está na posição privilegiada de ter concessões de propriedades com potencial de extração de urânio. A preocupação com as mudanças climáticas melhorou as perspectivas da energia nuclear e levou a demanda por urânio a superar a oferta. As compras especulativas alçaram o preço a US$ 85 por libra-peso, em comparação aos US$ 10 verificados em 2003. Os canadenses apressaram-se em reclamar as áreas mais ao norte do país, que antes menosprezavam.
A procura levou a outras mudanças. Antes as conversas centravam-se no financiamento e operação de concessões de mineração. Agora, a agenda da convenção também inclui cursos sobre como lidar com os aborígines. Nos Estados Unidos, essa preocupação era algo básico para a indústria de mineração há pelo menos dez anos, segundo Hans Matthews, que assessora grupos aborígines sobre como lidar com as mineradoras. Grande parte das reservas está em terras indígenas ou que estão pendentes de negociação sobre posse.
A situação começa a trazer um lado mais brando dos mineradores. Na convenção de dois anos atrás, a responsabilidade social das empresas foi considerada uma questão tão exótica que uma sessão sobre o assunto foi cancelada por falta de interesse. As entradas para sessão deste ano esgotaram.
The Economist / Valor Econômico