Pedra-sabão garante alta das exportações
22/02/07
Peças para revestimento de fornos de aquecimento residencial produzidas em Minas conquistam clientes nos EUA e EuropaA salvo da temida concorrência chinesa, a mineração da pedra-sabão em Minas Gerais ? uma das mais antigas atividades nas cidades históricas da região Central do estado ? mostrou resultados no exterior, em 2006, de fazer inveja à produção tradicional do minério de ferro, responsável pelo lucro recorde da Companhia Vale do Rio Doce. As exportações brasileiras da rocha macia, que ganhou fama nas mãos do mestre Aleijadinho e alimenta o artesanato de esculturas e utensílios domésticos, cresceram mais que todas as outras rochas ornamentais típicas de Minas, a ardósia, o granito e o quartzito. Boa parte desse avanço se deve a um produto industrializado a partir da pedra-sabão pouco conhecido dos brasileiros: peças para revestimento de fornos de aquecimento residencial.De Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, distante 95 quilômetros de Belo Horizonte, saem toneladas de kits para revestir fornos em cidades cercadas pelo gelo e o frio intenso na Áustria, Suíça, Dinamarca, Bélgica, Alemanha, Itália e Estados Unidos. As peças seguem em contêineres passando até 20 dias no mar até chegar ao destino final. Produzidas na medida pedida pelos clientes, são montadas nos países de destino em gabinetes de aço, equipados com chaminés e fornalhas.Maior empresa do ramo, a OPPS Mineração dobrou de tamanho nos últimos dois anos, atendendo a forte procura, com a plena capacidade de suas máquinas e 300 funcionários. Toda a produção da fábrica é exportada e garante um faturamento anual de R$ 15 milhões. Flávio Orsini Nunes de Lima, dono do negócio, conta que a pedra-sabão é considerada um revestimento excepcional para fornos. A rocha é como uma bateria de calor, um isolante térmico que deixa o calor escapar de forma gradativa e assim traz economia de energia. Os embarques do produto em 2006 ajudaram a garantir um salto de 91,5% das exportações brasileiras da pedra, na comparação com 2005, informa Cid Chiodi, consultor da Associação Brasileira das Indústrias de Rochas Ornamentais (Abirochas). A receita total foi de US$ 15,40 milhões no ano passado, embora bem menos valiosa que a do granito, de US$ 889,78 milhões, mas que teve crescimento muito inferior, de 34% frente a 2005. ?Esse bom desempenho pode ser atribuído à consolidação da pedra brasileira no exterior, a um trabalho de marketing das empresas e possivelmente ao crescimento do consumo nos Estados Unidos?, afirma Chiodi.Na OPPS, Flávio Orsini lembra que a expansão da produção foi beneficiada pela busca frenética no mundo por substitutos dos derivados do petróleo, para baratear o custo do aquecimento nas casas. Com a alta dos preços do petróleo, a calefação que tem como base o gás de petróleo, óleo combustível e querosene cedeu lugar ao uso da lenha, por exemplo, e abre espaço para produtos como a pedra-sabão. ?Poderíamos expandir a produção e abrir mais empregos, mas os financiamentos a juros altos e a precariedade dos portos dificultam o investimento no Brasil?, afirma.CRISTO REDENTOR A empresa nasceu em Cachoeira do Campo há 35 anos e durante os primeiros 15 anos fez objetos de arte em pedra-sabão, além de ter participado da restauração do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, escultura em concreto revestida de pastilhas de pedra-sabão. A fabricação das peças para fornos de aquecimento começou em 1982 por meio de uma parceria com a empresa norte-americana Hearth Stone, especializada nesses modelos de fornos. Com o crescimento da atividade, a OPPS exporta, hoje, para uma dezena de pequenos e grandes fabricantes só na Suíça, onde já enfrenta concorrência, mas pelo menos não tem os chineses no seu encalço.Na região de Mariana e Acacaica, a mineradora tem quatro áreas em lavras e deverá concluir este ano a pesquisa de uma terceira jazida. Ao ritmo atual de produção ? embarcou 480 toneladas em 2006 ?, as reservas serão suficientes para os próximos 33 anos. Orsini está negociando a participação acionária de um grupo europeu para construir uma fábrica mais moderna.
Jornal Estado de Minas