Para analista, Steinbruch deve focar em mineração
01/02/07
Vera Saavedra Durão01/02/2007
O caráter introspectivo e fechado de Benjamin Steinbruch vai ser desafiado pelo mercado após sua derrota na disputa pela Corus, depois de ter perdido também a Wheeling Pittisburg há menos de três meses. Os investidores querem saber qual vai ser o principal foco da empresa daqui para frente, depois de respirarem aliviados com o fato de que a siderúrgica não vai ter que se endividar mais. As ações da empresa dispararam ontem 6% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
“Na minha opinião, a CSN vai focar de forma efetiva no desenvolvimento do projeto da mina de Casa de Pedra”, disse Marcelo Aguiar, analista da Merrill Lynch, que ontem divulgou relatório sobre a empresa. “A siderúrgica deveria complementar o projeto abrindo capital em bolsa, emitindo de 10% a 20% em ações de Casa de Pedra, o que não a impediria de vender outros 5% a 10% para um sócio estratégico. Se seguir este norte, a CSN terá bons retornos e suas ações, excelentes performances”.
O diretor de relações com o mercado da CSN, José Marcos Treiger, disse ao Valor, um dia antes do leilão, que “caso não ganhemos, vamos continuar persistindo na estratégia de internacionalização”. Analistas e investidores concordam que dinheiro não é problema para a CSN em futuras investidas, já que o mundo vive um período de ampla liquidez e tomar crédito está muito barato. Isto não quer dizer que os preços das siderúrgicas eventualmente à venda sejam palatáveis, como demonstrou o caso da Corus.
Aguiar, da Merrill Lynch, acha muito difícil que as siderúrgicas brasileiras, como a CSN e a Usiminas, consigam comprar ativos acima de 10 milhões de toneladas. “No caso das grandes siderúrgicas, elas poderão vir a ter sucesso através de fusões amigáveis”. Ronaldo Valiño, sócio-líder para a área de mineração e siderurgia da PricewaterhouseCoopers considera que o mercado de aquisições na área siderúrgica está extremamente aquecido, razão pela qual “a CSN perdeu por muito pouco”.
Mirando no curto prazo outras alternativas às aquisições, Aguiar sugere que a CSN poderá também abrir canais de distribuição para vender no mercado internacional as 4,5 milhões de toneladas de placas que pretende produzir em sua nova unidade de Itaguaí (RJ), a partir de 2010 a 2011, instalando um novo laminador a quente de 2 milhões de toneladas para sua unidade em Indiana, nos Estados Unidos, a CSN LLC. Outra saída via crescimento orgânico seria expandir sua unidade em Portugal para processar semi-acabados “made in Brazil”.
Como não arrematou a Corus, a CSN contará com capital suficiente para tocar seus projetos de expansão em siderurgia. O caixa da empresa vai ser reforçado com a entrada de mais de US$ 500 milhões provenientes da valorização de sua participação na Corus (3,8%) e pela “remuneração de incentivo” de 1% por ter participado da operação.
Ao preço de 608 pence por ação (valor pago pela Tata, equivalente a um prêmio de 31% do valor econômico da Corus sobre sua geração operacional de caixa), isto gerou um valor da ordem de US$ 425 milhões mais um prêmio adicional acima de US$ 100 milhões por ter participado do leilão a CSN, conforme cálculos de Rodrigo Ferraz, analista de mineração e siderurgia da Brascan Corretora. “Além de reforçar seu caixa, todo o processo de tentar adquirir a Corus deu imensa visibilidade à empresa, que poderá vir a ser alvo de futuros assédios”, prevê o analista.
Valor Econômico