País necessitará de processo de reestruturação industrial
18/06/20
Reportagem publicada no jornal Diário do Comércio, de Minas Gerais, neste dia 18/06, diz que algumas atividades, por sua própria natureza, exercem um forte impacto ambiental e social e, por isso, precisam fazer um esforço redobrado para criar condições sustentáveis de produção. Mineração e agronegócio são representantes dessas cadeias produtivas e estão na base da economia de Minas Gerais e do Brasil. A pandemia causada pelo novo coronavírus evidenciou ainda mais essa condição.
Consideradas atividades essenciais, mineração e agronegócio não pararam e devem ter papel determinante na retomada econômica brasileira, visto que são cadeias produtivas competitivas e exportadoras capazes de fazer entregas imediatas. A consideração foi feita durante a webinar “Perspectivas de Competitividade Empresarial”, promovida pelo escritório Manucci Advogados.
Participaram do evento on-line o sócio da Manucci Advogados, Bruno Garcia; o sócio da Manucci Advogados, Diego Koit; o ex-presidente da Cemig, Cledorvino Belini; o diretor do Sindicato das Indústrias Extrativas de Minas Gerais (Sindiextra), Cristiano Parreiras; o gerente-geral Jurídico da Gerdau, Fabiano Maia; e o presidente do Conselho do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Wilson Brumer (foto).

Wilson Brumer, presidente do Conselho Diretor do IBRAM. Foto: Silvia Costanti/Valor
“Já vivi inúmeras crises, mas nenhuma tão assustadora como essa. Não conhecemos nosso inimigo e não temos remédio ou vacina contra ele. Então tudo isso vem criando novos comportamentos que vão gerar muitas alterações nos campos econômico e social. Quando olhamos o Brasil, existem pontos positivos e negativos. Temos uma agricultura fantástica, que vai passar pela crise com sustentabilidade. Temos a mineração também com grande potencial”, afirmou Belini.
Vinda de duas crises de repercussão planetária – os rompimentos das barragens da mineradora Vale em Mariana, na região Central de Minas Gerais, em 2015; e em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), em 2019 -, a mineração brasileira enfrenta a pandemia quase como uma continuidade, porém com muitos aspectos inéditos. O setor mineral tem uma previsão de investimento para os próximos quatro anos de US$ 32 bilhões. São 70 projetos anunciados no Brasil.
“O setor mineral enfrentou duas crises históricas em função de duas tragédias em Minas Gerais que fizeram com que o setor refletisse sobre pontos importantes, sendo o principal a segurança operacional. Temos que minerar sem colocar em risco vidas e não prejudicar famílias. Por outro lado, é um setor em que o Brasil tem competitividade com alguns minérios como o nióbio e o minério de ferro. Já não somos tão players em outros como ouro – com 10% das reservas e apenas 2% de participação no mercado atual. Essa crise ajuda em um início de mudança que passa por um modelo novo. O mundo vai caminhar cada vez mais para uma licença ‘socioambiental’. O mundo vai estar cada vez mais preocupado com a cadeia produtiva, a sociedade, pessoas que trabalham conosco. Temos que pedir licença para atuarmos responsavelmente à sociedade”, pontuou Brumer.
O crescente interesse do mercado financeiro por negócios sustentáveis deve acelerar a revisão dos processos em busca de uma produção mais sustentável no cenário de pós-Covid-19. Nesse sentido ganha espaço também a governança empresarial com destaque para os projetos e ações de compliance.
Entre os aspectos de sustentabilidade observados estão, entre outros: uso adequado e responsável de recursos naturais, atenção as mudanças climáticas, investimento em energias renováveis, economia circular, reciclagem, correta destinação de resíduos sólidos, recuperação de áreas degradadas, entre outros no lado ambiental. Quanto ao social: respeito a igualdade e diversidade, tratamento digno aos trabalhadores, teletrabalho, atenção à vida, saúde, segurança e bem-estar das comunidades. E na governança uma compliance cada vez mais rigorosa.
“No cenário do pós-crise, considerando a necessidade de investimentos, teremos a oportunidade de voltar ao velho normal com índices de consumo insustentáveis, com desperdício, com uma economia torta; ou criarmos um futuro melhor com governos e empresas atendendo investidores vão condicionar seus investimentos a novos padrões de produção e consumo sustentáveis”, avaliou Garcia.
Tudo isso não depende, porém, apenas da decisão interna dos setores. O ambiente de negócios do País precisa estar melhor arranjado.
“Nesse momento a gente pressente que as economias vão se fechar. O fechamento não vai se dar por ideologia ou coisa parecida, mas por pragmatismo, é preciso gerar empregos e a economia fechada propicia isso. Eu não tenho muita dúvida que vamos passar por um processo de reestruturação industrial do País, seja através de fusões e aquisições ou outro instrumento. Poderíamos ser um país mais competitivo se não fôssemos tão avessos aos investidores. Precisamos das reformas estruturais. A insegurança jurídica é uma coisa que precisa ser combatida. Em um momento em que o mundo se volta para si, essa insegurança não ajuda”, completou o presidente do Ibram.
Fonte: Diário do Comércio – MG – Leia no site do jornal.