País avança no ranking de competitividade
16/05/08
São Paulo, 15 de Maio de 2008 – As boas notícias na vigésima edição do Anuário de Competitividade Mundial da escola suíça de negócios IMD, segundo seu diretor, Stéphane Garelli, `vêm do Brasil`. Em entrevista por telefone de Lausanne, Suíça, à Gazeta Mercantil, o professor Garelli comentou que o bom desempenho do Brasil este ano, ao apresentar um ganho de 6 posições em relação a 2007 (da 49 para a 43 posição, entre 55 países), mostra a boa performance do País, depois de três anos de quedas consecutivas. `As finanças públicas estão em melhor situação, a inflação está sob controle, houve aumento das reservas e crescimento real do PIB per capita, mas o melhor resultado é mesmo o comportamento do mercado interno.` Na comparação com os outros países do Brics a situação é ainda mais favorável: China e Índia perderam dois pontos e a Rússia quatro. Segundo o professor Garelli, `até há pouco tempo o Brasil era muito dependente de exportações e do relacionamento com os Estados Unidos. E há dez anos poderia ser afetado muito mais por uma crise como a que os EUA atravessam atualmente`. `Agora o importante é a emergência no Brasil de uma nova classe média, como na China ou Europa Central ou Índia. Essa classe média torna a economia do País muito mais vigorosa. Não nos esqueçamos de que a prosperidade dos EUA e da Europa está ligada, há cem anos, ao desenvolvimento de uma forte classe média.` É essa tendência de crescimento de uma nova classe média, em países como Brasil, Índia e China, segundo o professor Garelli, que também explica a alta nos preços das commodities, pela mudança nos padrões de consumo embora inclua preocupações com alta da inflação. Desempenho brasileiro Carlos Arruda, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral, que participou da elaboração do relatório do IMD no Brasil, explica como se deu a conquista de seis posições pelo País este ano. `O estudo é baseado na análise de quatro grupos variados, que nós chamamos de fatores, ou seja: performance econômica, eficiência do governo, eficiência do setor empresarial e infra-estrutura (ao todo, 323 variáveis) e o Brasil só perdeu pontos neste último. `Mesmo num fator onde o Brasil tinha resultados ruins, como o relativo à eficiência de governo, a situação se manteve e continuamos no 51 lugar`. A influência do otimismo Um fator, segundo Arruda, caracteriza o relatório deste ano, com impacto principalmente sobre essa questão da eficiência empresarial: o otimismo da comunidade empresarial. `A metodologia do estudo é baseada em uma combinação de dados estatísticos com a percepção da comunidade empresarial. Foram entrevistadas lideranças empresariais: presidentes, vice-presidentes, diretores de grandes empresas do Brasil e esse dado da pesquisa tem um peso equilibrado de, digamos, 50% no resultado da pesquisa como um todo.` `O que aconteceu é que no Brasil a comunidade econômica se mostrou mais confiante. Isso em função de um período, como o dos primeiros meses do ano, de uma visão mais otimista, com a economia crescendo, com a percepção – apesar da ameaça de uma recessão nos EUA – de uma economia que está se sustenta e aproveitando o crescimento econômico mundial. Esse otimismo foi um dos fatores a influenciar positivamente no item eficiência de governo. Existe portanto um aspecto contextual, que a pesquisa captou.` Essa onda de otimismo, segundo o pesquisador da Fundação Dom Cabral, `deve ser aproveitada, para que passe de uma percepção e seja um momento transformador para a economia e o ambiente empresarial.` Até o dólar a favor Outros efeitos que seriam aparentemente ruins, como a desvalorização do dólar em relação ao real, não influíram no lado negativo. `Quando analisamos a produtividade do Brasil em dólar, que é a maneira como é feita a análise nos relatórios, o Brasil ganha muito porque em dólar a produtividade teve um crescimento interessante no último ano. O lado negativo é que o comércio internacional fica meio ameaçado. Mas há um outro componente nessa equação: o crescimento no preço das commodities e o aquecimento do comércio internacional, que acaba por compensar a baixa cotação da moeda americana. O país ganha com a exportação de grãos, de minério, perdendo na exportação de produtos com maior valor agregado. Mercado interno A existência de um forte mercado interno no Brasil aparece, segundo Carlos Arruda, no item economia doméstica, no qual o Brasil escalou 16 posições este ano. Ele inclui o consumo das famílias e estabilidade da moeda, tendência que já se manifestou no relatório do ano passado, quando o Brasil apresentou performance positiva, consolidando-se este ano.Em um outro estudo que a Fundação Dom Cabral faz, sobre o mesmo assunto, observa Arruda, um dos itens avaliados é o mercado – um somatório do mercado da economia doméstica mais as exportações, menos as importações – e ai se vê claramente esse efeito, mencionado também pelo professor Garelli do IMD, da participação do mercado doméstico. Quanto à eficiência empresarial, o Brasil está à frente da China e da Rússia no ranking do IMD, ocupando a 29ª colocação. `O ambiente empresarial no país é muito inserido nas cadeias globais, com uma forte presença de multinacionais aqui e de empresas brasileiras no exterior. Isso faz com que a atividade empresarial tenha um padrão de competitividade comparável à das maiores economias do mundo,` diz Arruda. Infra-estrutura Na questão da infra-estrutura, o professor Carlos Arruda acredita que os resultados são ruins provavelmente porque os planos do governo, incluindo os PACs de Saúde, de inovação ou o PAC geral, de investimentos em infra-estrutura, foram lançados muito tarde ou estão ainda em fase de implantação. `O impacto positivo ainda não foi verificado`. O mais grave é índice referente à educação, é o ponto mais sério, pois o País vem em 48º lugar. `Essa é uma influência negativa para o futuro. Enquanto não acelerarmos o processo de melhoria da infra-estrutura educacional, a tendência é ameaça à competitividade,` diz Arruda. Reformas estruturais `A nossa realidade é que precisamos aplaudir esse momento de otimismo da sociedade, da economia e das empresas brasileiras, e criticar a falta de implantação dos planos e reformas estruturais e exigir que aconteçam, pois temos capacidade financeira, o investment grade nos dá uma atratividade de investimento até para infra-estrutura. O momento nunca foi tão favorável. É hora de o B do Brics superar suas limitações`, diz o professor Carlos Arruda.
Gazeta Mercantil