O vidro, o espelho e o meio ambiente
28/11/08
air Donato
A cada dia fica mais próximo do prazo que os cientistas mensuram como crucial para que o mundo reformule a maneira de consumir energia, de utilizar os recursos naturais, de tratar a terra, de preservar e conservar os biomas e, principalmente, de mudar o estilo de vida e o hábito de consumo. Mais que políticas públicas, é fundamental que haja uma reformulação no modo de pensar do homem, que se estabeleça uma consciência ética e moral sobre a forma de viver neste planeta que já não está tão limpo.
Conta-se que certa vez um jovem muito rico foi ao encontro de um Rabi e pediu-lhe um conselho para orientar a vida que levava. O Rabi conduziu o jovem até a janela e perguntou:
– O que você vê através dos vidros?
– Vejo homens que vão e vêm e um cego pedindo esmolas na rua.
Então o Rabi mostrou-lhe um grande espelho e novamente perguntou:
– Olhe neste espelho e diga-me agora o que você vê?
– Vejo a mim mesmo.
– E já não vê os outros, acrescenta o sábio. Repare que a janela e o espelho são feitos da mesma matéria-prima, o vidro. No espelho, porque há uma fina camada de prata colada ao vidro, você não vê nele mais do que a si mesmo.
Pode-se fazer uma analogia do ser humano ao vidro e ao espelho. Uma pessoa de consciência vê os outros, assim como vê o meio ambiente em que vive, conserva e preserva-os, e tem consideração por eles. A outra, coberta de prata, egoísta e pobre de espírito, vê apenas a si mesma. O real valor do ser humano se manifesta cada vez que ele tiver a coragem de arrancar o revestimento de prata que tapa os próprios olhos, para poder, assim, de novo ver, amar e respeitar o que o cerca.
Quanto à historinha acima, complementa o sábio, que todos vivam como fossem anjos de apenas uma asa. E só é possível voar quando abraçados uns aos outros. A analogia do espelho pode ser comparada à cegueira do mercantilismo que assola o delírio inconsciente da humanidade pelo capitalismo, o acúmulo para poucos em detrimento da perda do social e da natureza, em nome de um crescimento econômico em curto prazo, sem se importar que o meio ambiente é que externa a vida a todos as espécies no planeta. Imagina o mundo sem água, com ar e terra contaminados. Quem sobreviveria?
O grande espelho que rebate a luz solar em demasia na Terra, formado pelas geleiras como as do Ártico, da Groenlândia e da Antártida, está se esvaindo devido ao aquecimento global. Essa é uma troca errada. O maior espelho que deveria ser quebrado e reciclado em vidro transparente está no interior do ser humano. O mundo precisa de uma consciência límpida, clara, de visão a longo prazo e consideração ao meio ambiente natural em que cada um vive.
Espero ver a janela de cada um aberta para a necessidade do outro, dos arredores que precisam do verde, da água, do solo e do ar, cada vez mais renovados, limpos e adequados a um clima melhor no planeta. Essa janela é da alma, da consciência, que passa pela porta da sensibilização e do cuidado com a vida, que se parece muito frágil e precisa ser pensada em longo prazo. A capacidade do ser humano viver no planeta dignamente merece cuidado.
Uma necessidade urgente que o mundo tem é o aumento de fontes de energias limpas. Esse é um desafio, que pode alterar o ritmo da economia temporariamente, mas garante a sustentabilidade do planeta, apesar de ser um grande negócio. E essa é uma equação matemática, pautada na moral, na ética e nos princípios que os países, governos e sociedade devem ter.
E as conseqüências provindas desses fatos são irreparáveis. Para evitar tragédia maior, é necessário que nos próximos 15 anos, governos e empresas de todo o mundo estabeleçam padrões consideráveis de redução de gases poluentes na atmosfera, principalmente em relação ao uso dos combustíveis fósseis, alem de evitar e controlar as queimadas e os desmatamentos, também vilões.
O Ministério do Meio Ambiente se prepara para lançar o primeiro Plano Nacional sobre Mudança do Clima brasileiro (PNMC), conforme afirmou recentemente o ministro Carlos Minc, que vai ser apresentado na Conferência do Clima da ONU, na Polônia, em dezembro. O Brasil, mesmo tendo assinado o Protocolo de Kyoto e poluir menos através do uso da energia, poderá contribuir muito mais ao estabelecer políticas mais veementes e ambientalmente corretas. O gargalo do país ainda está na terra, quanto aos desmates e queimadas ilegais.
Uma boa perspectiva mundial é que o novo presidente que assumirá a economia americana a partir de 2009, Barak Obama, parece que vai mesmo contribuir para as mudanças no clima. Ao menos durante a campanha à corrida presidencial, o combate às mudanças climáticas foi um dos principais pontos da campanha dele. O mundo vislumbra por um novo cenário mundial, rumo a um futuro climático correto.
Obama promete aprovar um sistema de comercialização que limita o total de emissões, para voltar às emissões de 1990 até 2020, após vários anos de omissão do atual e findo governo Bush, em nome de uma falsa economia, que agora começou a derrocada. A Europa, por exemplo, já leva a sério a meta de redução de 20% das emissões até 2020.
O maior entrave que talvez não permita que se separe a fantasia do fato, o joio do trigo, o espelho do vidro, seja a falta de postura ética quando se trata das alterações climáticas no planeta.
Jair Donato é jornalista em Cuiabá, consultor – Life Coach, professor universitário – especialista em Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida. E-mail: jairdomnato@gmail.com
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A Gazeta – MT