O russo que pode tornar-se rei mundial do alumínio
06/09/06
Sebastian AlisonDa agência BloombergOleg Deripaska, bilionário em grande medida desconhecido fora da Rússia, poder tornar-se em breve a pessoa mais influente do setor mundial de alumínio. Esse executivo de 38 anos conquistou aprovação do governo russo para que sua empresa, a Russian Aluminum, comprasse a concorrente russa Sual Group por US$ 3,3 bilhões, criando companhia que produzirá mais alumínio do que a americana Alcoa Inc. Deripaska, cuja fortuna é estimada em US$ 7,8 bilhões pela revista Forbes, vai incorporar a Sual a conglomerado de empresas que vão desde siderúrgicas até transportadoras rodoviárias. Deripaska construiu império por meio de relações desenvolvidas durante o mandato do ex-presidente russo Boris Yeltsin, que vendeu empresas estatais a preço de banana depois da derrocada do regime comunista. Processo movido nos Estados Unidos denunciava que a fortuna de Deripaska provinha, pelo menos em parte, da “força física, do pagamento de propinas e da extorsão”. Ele negou a acusação e a ação foi derrubada em março, quando o tribunal concluiu não ser da sua alçada apreciá – la. “A luta em torno desses ativos foi realmente muito sangrenta durante os episódios conhecidos como as guerras do alumínio, ocorridos em meados da década de 1990”, disse Vladimir Zhukov, analista-sênior do Alfa Bank de Moscou. As denúncias foram feitas por ex-acionistas da mineradora de van dio Kachkanar GOK, que tentavam recuperar mais de US$ 500 milhões, alegando que Deripaska contribuiu para levar a empresa à falência e pôs suas ações em circulação por meio de rede de empresas do estado americano de Delaware. Alguns dos papéis acabaram indo para empresa controlada por grupo de pessoas entre as quais estava Deripaska, dizia o processo. Vadim Bely, porta-voz da Basic Element, holding dos ativos de Deripaska, preferiu não comentar. Deripaska não respondeu a insistentes pedidos de entrevista apresentados este ano. Físico por formação, o bilionário é casado com uma filha de Valentin Yumashev, que foi diretor de administração do Kremlin no governo Yelstin. O próprio Yumashev casou-se mais tarde com Tatyana, filha do ex-presidente. Deripaska desqualificou a importância de sua rede de relações políticas em entrevista publicada na edição de 20 de agosto do jornal americano The New York Times, dizendo que seu casamento ocorreu depois de Yeltsin ter deixado o poder. Deripaska tem laços com o atual governo da Rússia e se reuniu com o presidente Vladimir Putin, há três semanas, para dar prosseguimento a conversações que mantém regularmente com o dirigente russo, disse Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, em 23 de agosto. Somadas, a Rusal e a Sual produziram 3,71 milhões de toneladas de alumínio no ano passado, cerca de 10 por cento da produção mundial total do metal, ultrapassando os 3,55 milhões de toneladas gerados pela Alcoa, com sede em Nova York, atualmente a maior produtora mundial de alumínio. Deripaska vai controlar um setor que na década de 1990 fez com que os preços do alumínio despencassem para uma baixa recorde de menos de US$ 1,1 mil a tonelada, quando a União Soviética inundou o mercado com grandes volumes do produto. Para reduzir a produção mundial e contribuir para a recuperação dos preços, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, fechou acordo em 1994 com Rússia, Canad , Austrália e Noruega. Os preços do alumínio subiram 9,4% em Londres desde 1o. de janeiro deste ano, ficando atrás do salto de 68% alcançado pelo cobre e da alta do níquel, cuja cotação mais do que dobrou. A valorização do alumínio foi limitada pelo fato de a China, a maior produtora e consumidora do metal, ter conseguido atender sua crescente demanda com sua própria produção interna. “Foi criada empresa-símbolo nacional russa que provavelmente ter mais impacto mundial e, portanto, conseguir operar com lucros ainda maiores do que os contabilizados hoje em dia”, disse Jochen Wermuth, fundador da Wermuth Asset Management GmbH, com sede em Wiesbaden, Alemanha. A Rússia goza da vantagem dos baixos preços da energia elétrica, que geralmente representam de 25% a 40% do custo da produção do alumínio. As duas maiores fundições da Rússia obtêm sua energia elétrica das centrais hidroelétricas construídas pela antiga União Soviética. A empresa fechou em março acordo com a estatal Unified Energy System para implementarem em parceria um projeto de US$ 6 bilhões destinado a concluir central hidroelétrica iniciada na era soviética, que vai abastecer uma fundição de alumínio projetada pela Rusal. Deripaska sobreviveu ao mandato de Putin em época em que muitos empres rios russos que alcançaram posições de destaque no governo Yeltsin foram presos ou obrigados a tomar o caminho do exílio. Boris Berezovsky, que ajudou a fundar a Rusal em 2000, recebeu asilo político do Reino Unido em 2003. O empres rio de mídia Vladimir Gusinsky fugiu depois de entrar em conflito com o governo Putin. Mikhail Khodorkovsky, o ex-diretor da Yukos Oil Co., está cumprindo pena de oito anos de prisão em campo de trabalho na Sibéria. Roman Abramovich Roman Abramovich, o homem mais rico da Rússia, passa boa parte de seu tempo comprando jogadores para o Chelsea Football Club de Londres, após ter vendido sua empresa petrolífera para a estatal Gazprom e sua metade da Rusal para Deripaska. “Até agora Deripaska parece mais concentrado em seus negócios do que em sua vida social”, disse Zhukov, do Alfa Bank. Ao comprar a Sual, ele vai realizar sua ambição de agregar “todos os ativos russos de alumínio sob uma única organização”. Deripaska ingressou em 29 de agosto passado na comissão organizadora da tentativa da Rússia de sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 no balne rio de Sochi, no Mar Negro, projeto que é a menina-dos-olhos de Putin. O presidente russo passou as últimas duas semanas no balne rio, onde habitualmente hospeda dirigentes estrangeiros.”Suponho que se trate de um investimento político”, disse Ivan Mazalov, diretor da Prosperity Capital Management de Moscou. “A esfera financeira pode se desenvolver também. Deripaska controla o Gaz Group, a maior fabricante russa de veículos comerciais leves. A Gaz formalizou em 31 de julho a compra da LDV Ltd, com sede em Birmingham, na Inglaterra, que fabrica vans. A empresa pretende aumentar a produção em Birmingham e começar a montar as minivans Maxus na Rússia, tendo como meta produzir 20 mil veículos ao ano até 2008. Ele também é dono da Ova-Press, produtora da versão russa da revista Hello!, que publica detalhes da vida particular de celebridades.