O Minério boom
05/12/06
A euforia do setor de mineração dá sinais de continuidade e atrai novos investimentos no Brasil
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Por Gustavo Paul
EXAME
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A exuberância dos resultados obtidos pela Vale do Rio Doce nos últimos anos — o mais recente é o lucro recorde de 4 bilhões de reais registrado no terceiro trimestre do ano — é a parte mais visível de um fenômeno bem mais amplo. O setor mineral vive um momento de euforia no mundo — com uma onda de aquisições e fusões sem precedentes — e no Brasil, onde um grupo de empresas tenta seguir os passos da Vale. Trata-se de um movimento até certo ponto previsível. O Brasil é dono de algumas das maiores reservas de minérios de um planeta ávido por esse tipo de matéria-prima. A demanda asiática, em particular a da China, levou os preços internacionais dos principais metais a saltos impressionantes. Nos últimos quatro anos, a cotação da tonelada do níquel na Bolsa de Metais de Londres subiu 382%, a do cobre 323% e a do zinco 280%. O minério de ferro, item número 1 da pauta de exportação mineral do país, quase dobrou de preço desde o ano passado. “O mercado continuará aquecido pelo menos até 2008, e já se acredita que possa permanecer assim até 2010”, diz Ronaldo Valiños, sócio da PricewaterhouseCoopers, consultoria que realizou estudo sobre o setor.
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A evolução da demanda e dos preços explica o aumento de 54% no valor real da produção mineral brasileira de 2002 para cá — neste ano, está alcançando 43 bilhões de dólares e deve aumentar ainda mais nos próximos. Por isso, segundo estudo do BNDES, as empresas do setor programam investir 24 bilhões de dólares na exploração de novas jazidas até 2010. Entre as empresas, um dos casos mais vistosos é o da Yamana Gold, desconhecida fora do setor, mas detentora de uma trajetória fulminante. Seu valor de mercado na Bolsa de Valores de Toronto, no Canadá, passou de 8 milhões de dólares em 2003 para 3,2 bilhões de dólares em 2006 — isso mesmo, foi multiplicado por 400, graças ao apetite de americanos e canadenses por investimentos em ouro. Há anos, a demanda pelo metal no mundo — principalmente para fabricação de jóias e componentes eletrônicos e também para formar reservas de valor em bancos centrais — tem sido maior que a oferta. O descompasso fez com que a cotação mais que dobrasse nos últimos quatro anos.
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Em 2003, atrás de recursos para explorar três jazidas de ouro, os sócios da Mineração Santa Elina, de Mato Grosso, incorporaram seus ativos aos da canadense Yamana Gold, que dava sinais de decadência. No final da operação, os brasileiros Juvenal Mesquita Filho e Antenor Silva passaram a deter 85% do capital da empresa. De lá para cá, apostando na valorização do ouro, a Yamana promoveu várias captações de recursos no mercado, suficientes para comprar uma mina de ouro da Vale e outras jazidas no Brasil e na América Central. A sede da empresa permanece no Canadá, mas a Santa Elina detém o controle da Yamana, com 19% do capital, e o comando das operações fica em São Paulo. Para continuar crescendo, em fevereiro deste ano a Yamana comprou a canadense Desert Sun Mining e há poucos dias incorporou a argentina Viceroy. “Só com emissão de ações, já investimos 1,1 bilhão de dólares na aquisição de ativos”, diz um dos diretores da empresa. Com isso, em 2007 a Yamana deverá assumir a liderança da produção de ouro no Brasil, ultrapassando a britânica Anglo American.
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A Yamana é um caso bem-sucedido entre dezenas de junior companies, empresas que, com um pequeno capital, prospectam novas jazidas, tornam o negócio viável e depois são incorporadas por grandes mineradoras. Entre elas está a Onça Puma, de origem canadense, que em agosto de 2005 anunciou a identificação de uma jazida de níquel no sul do Pará e em dezembro foi comprada pela Vale do Rio Doce por 750 milhões de dólares.
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As grandes multinacionais do setor também estão ampliando os investimentos no Brasil. A australiana BHP Billiton, ainda a maior mineradora do mundo, transferiu no ano passado de Santiago, no Chile, para o Rio de Janeiro o escritório responsável pela exploração mineral na América do Sul. “Existe um potencial enorme de produção de metais no Brasil, e as empresas precisam cada vez mais aumentar suas reservas”, diz Luiz Augusto Bizzi, gerente de exploração da BHP na América do Sul. Em sociedade com a Vale, a BHP programa investir 1,2 bilhão de dólares para aumentar a produção da Samarco em Minas Gerais, instalar a segunda linha de um mineroduto e ampliar a usina de pelotização situada junto ao porto de Ponta Ubu, na cidade capixaba de Anchieta. A Anglo American, líder mundial na produção de ouro, platina e diamantes, está fortalecendo a produção local de níquel. “Aguardamos a aprovação de investimento de 1 bilhão de dólares no projeto Barro Alto, em Goiás”, diz Walter de Simoni, presidente da Anglo American Brasil.
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Entre as empresas nacionais, uma que está embalada é a MMX, do empresário Eike Batista. Para alcançar o posto de segunda maior exportadora de minério de ferro do Brasil, deve investir 3,6 bilhões de dólares até 2011. “As empresas mais ágeis, que conseguirem transformar projetos minerais em realidade, vão ganhar muito”, diz Rodolfo Landim, diretor-geral da MMX. Boa parte da rentabilidade obtida pelas empresas vem de minas já em operação, mas o número de alvarás de pesquisa concedidos pelo Departamento Nacional de Produção Mineral passou de 9 000 em 2002 para 14 400 em 2005. Mais garimpagem e mais investimentos significam que o boom terá continuidade. “A produção anual de minérios deve crescer 10% neste ano e poderá ser ainda maior nos próximos”, diz Paulo Camillo Penna, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração. A economia brasileira como um todo também ganha. Mesmo com o real valorizado, o setor gerou para o país 9,6 bilhões de dólares de superávit no ano passado, saldo inferior apenas ao do agronegócio.
REVISTA EXAME