O impacto do iminente estouro da bolha imobiliária na China
19/12/11
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento sobre a balança comercial brasileira, entre os meses de janeiro a novembro deste ano, o Brasil exportou US$ 40,6 bilhões à China, o que representou 28% de aumento na comparação com o mesmo período de 2010, e de 1.852% desde 2001, e 17,4% do total das exportações. 88% dos produtos exportados foram commodities, matérias primas básicas sem valor agregado: minério de ferro, soja e petróleo bruto. As exportações de carnes bovinas cresceram 250% enquanto que as exportações para a União Europeia caíram 9%, somente no mês de outubro, e 5% para os EUA.
As importações da China cresceram em 23%, no mesmo período, para US$ 30,1 bilhões, e 1.936% desde 2001, representando 14,5% das importações totais. 96% dos produtos importados foram aparelhos eletroeletrônicos e componentes, máquinas e equipamentos, químicos e veículos. Enquanto o superávit geral foi favorável ao Brasil em US$ 16,2 bilhões, o déficit em relação aos produtos manufaturados tem a previsão de fechar o ano em quase US$ 35 bilhões.
As vendas de matérias primas para o exterior passaram de 63% do total em 2001, para 84% em 2010 e em tendência ascendente. A China absorve em torno de 50% das exportações do minério de ferro, 20% da soja e 25% do petróleo.
O superávit obtido pelo Brasil explica-se pelos altos preços da commodities no período. O crescimento das exportações de minério de ferro entre janeiro e julho foram de 13%, de soja caíram 5% e de petróleo bruto 14%. As importações dos manufaturados chineses, no mesmo período, aumentaram 34% em volumes e 33% em valores absolutos.
Mas com o aprofundamento da crise capitalista a partir do mês de setembro, o volume das exportações no geral, com a exceção relativa do minério de ferro, tem caído. Os preços das commodities também têm caído. As importações continuam altas e crescendo devido ao acelerado processo de desindustrialização da economia brasileira. O real deverá se desvalorizar devido à redução das exportações o que, por sua vez, encarecerá as crescentes importações de manufaturados.
A disparada das importações no Brasil
Pela primeira vez na história, no mês de novembro, as importações ultrapassaram US$ 1 bilhão por dia, com um saldo positivo para aquele mês de apenas US$ 583 milhões; em outubro, o saldo foi de US$ 2,35 bilhões, em setembro US$ 3,04 bilhões e, em agosto, US$ 3,87 bilhões.
Esse cenário deverá acelerar a crise capitalista no Brasil, pois o governo chinês busca a ampliação do mercado para os seus produtos manufaturados na América Latina, que no mês de outubro foi responsável pelo aumento das exportações chinesas em 15,9%, para compensar a queda da demanda nos países centrais. O processo de industrialização será acelerado e a queda da balança comercial, não ser compensada pela venda das commodities. Devido à política de submissão aos especuladores capitalistas pelo governo do PT, as únicas políticas para enfrentar, parcialmente, a situação serão as chamadas “políticas anticíclicas”, principalmente o incentivo ao crédito, através do repasse de recursos para os bancos. Mas, a queima de recursos públicos para continuar garantindo altas taxas de lucros para os capitalistas somente poderá ser mantida por um período de tempo e, ainda, o efeito futuro dessas políticas será um colapso ainda pior.
O processo de divisão do trabalho internacional a partir da migração de capitais especulativos para os mercados de commodities, após o esgotamento da especulação no mercado hipotecário nos países centrais, levou ao aprofundamento da China e outros países asiáticos como mercados manufatureiros, de produtos de baixo custo, baseados nos baixíssimos salários da mão de obra local, e dos demais países atrasados como fornecedores de matérias primas para a China. No Brasil, o consumo interno petróleo aumentou em 23% na década passada; o de cobre em 37% e o de milho em 43%, um pouco abaixo que nos demais países do chamado BRIC, mas muito abaixo da China. Na Índia, o crescimento foi de 50% para o petróleo, 136% para o cobre e 51% para o algodão. Na Rússia, o crescimento foi de 14% para o petróleo, 110% para o cobre e 10% para o trigo. No mesmo período, o consumo desses produtos na China quadruplicou. A China consome 37% do cobre mundial, seguido pela Índia com 3%.
A dependência do Brasil das exportações de minério de ferro aumenta o risco da bancarrota do País
Com o iminente estouro da bolha imobiliária da China, que já está em andamento, o consumo de commodities minerais deverá cair. Ao mesmo tempo, a crise dos governos provinciais, cujos orçamentos dependem em torno de 40% da especulação com a venda de terras públicas, e do sistema financeiro, fortemente afetado pelo crescente aumento da inadimplência, deverá diminuir o consumo das demais commodities no próximo período.
O preço médio do minério de ferro exportado pelo Brasil em novembro foi 15,4% menor que o verificado no mês de outubro, acumulando queda de 24% desde setembro, o que tem sido provocado pela queda da demanda de aço na China. Com a queda do preço por tonelada para US$ 120, os custos de produção das empresas chinesas, que ficam acima dessa valor, não conseguem concorrer com o minério de ferro importado, o que explica o aumento das exportações da Vale de 27,8 milhões de toneladas, no mês de outubro, para 31,75 milhões de toneladas em novembro; mas, devido à queda de preços, o faturamento caiu em 3,14%. Os especuladores, para compensar as perdas com os derivativos em cima do minério de ferro, aprimoraram os derivativos em cima dos fretes.
A multinacionais BHP Billiton, Rio Tinto e Vale controlam 75% do minério de ferro a nível mundial, mas se os seus custos de produção caírem US$ 80 por tonelada a sua rentabilidade ficará inviabilizada. Isto explica o porque os valores das ações dessas “bem sucedidas” empresas tenham despencado neste ano, em 25,33%, 29,24% e 24,31% respectivamente. Os altos custos envolvidos na mineração têm aumentado a uma taxa de 11% ao ano desde 2002, e continuam em ascenso. Os custos dos pneus, por exemplo, chegou a US$ 70.000 por unidade, e somente têm uma duração de quatro meses. A disparada dos custos de energia impactou os lucros da Rio Tinto na Grã Bretanha em US$ 95 milhões no primeiro semestre deste ano. Os altos investimentos previstos para os próximos anos poderão não ter o retorno exigido pelos especuladores financeiros, que, cada vez mais, procuram por lucros no curto prazo. A BHP planeja investir mais de US$ 80 bilhões até 2015.
A Vale planeja investir US$ 20 bilhões em 2012, e ainda enfrenta o problema da não autorização dos seus novos supercargueiros de 400 mil toneladas, como parte do investimento estratégico de US$ 2,35 bilhões para exportar para a Ásia, que não foram permitidos de atracar nos portos chineses devido à regulamentação atual.
O peso da mineração na balança comercial brasileira tem aumentado nos últimos anos. De acordo com dados do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), o saldo comercial da exportação de minerais brasileiros em 2010, liderados pelo minério de ferro com 80% do total, superou o resultado da balança comercial nacional, o que deverá aumentar em 2011. Em 2006, o saldo do setor de minérios representou 14% da balança comercial; em 2008, representou 53% e, em 2010, atingiu 136%. Segundo Paulo Camilo Penna, presidente do Ibram, “para 2011, a projeção é de que o setor chegue a um saldo de US$ 35,95 bilhões, o que representa 118% [do saldo positivo] da balança comercial brasileira no ano”.
Em 2013,; novo fator se somará à recessão mundial: o aumento da oferta do minério de ferro devido a entrada em produção de vários novos projetos que aumentarão a oferta dos minerais e, ao mesmo tempo, a pressão à queda dos preços.
O controle da Vale pelos especuladores financeiros
A privatização da Vale pelo governo FHC por ridículos R$ 3,338 bilhões, em 1997, sob as regras do chamado Consenso de Washington, impulsionado pelo imperialismo norte-americano, e mantida intacta pelos governos do PT, é um dos vários casos de espoliação dos recursos públicos pelos especuladores capitalistas. De fato, o valor pago foi ainda muito menor, pois foram usados títulos financeiros que valiam menos da metade. R$ 773 milhões, correspondentes ao “ágio” pago em cima do valor inicial foram compensados com isenções fiscais, e o BNDES financiou uma parte da compra com juros baixos. Em 2001, o governo FHC vendeu 31,17% das suas ações ordinárias, com direito a voto e à eleição de dois membros do conselho de administração, na bolsa de Nova Iorque. Do capital ordinário da Vale, 67,5% está sob o controle da Valepar e 60,5% do capital votante, estaria nas mãos dos fundos de pensão Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Petros (dos trabalhadores da Petrobras), Funcef (economiários federais) e Funcesp; (funcionários da Cesp), reunidos na holding Litel e o BNDES. Na realidade, a privatização foi controlada através de capitais especulativos provenientes da CSN, dominada pelo Nations Bank, do fundo de pensão Opportunity, sediado nas ilhas Cayman, que faliu, pelo fundo Sweet River, que domina 40% Nations Bank e pelo mega-especulador George Soros. O Bradesco estava impedido pela lei de licitações, de participar do consórcio por ser um dos avaliadores, mas financiou R$ 500 milhões para a CSN, além de possuir 17,9% do capital dessa ex-estatal. Com a saída da CSN em março de 2001, a Litel, com peso majoritário da Previ (mais de 80%), tornou-se a principal acionista, com 39%.
Neste momento, de acordo com o relatório da Vale de 31 de março deste ano, ?Relatório Anual de 2010?, 52,7% das ações ordinárias da Vale são controladas pela Valepar e 6,7% pela BNDESPAR. ?O governo brasileiro também possui 12 golden shares da Vale, com poder de veto sobre certas decisões da empresa, como mudanças na nossa razão social, localização da sede e objeto social, por ser relacionado com atividades de mineração.? 49% das ações ordinárias da Valepar são controladas pela Litel, a Eletron S.A. 0,03%, a Bradespar 21,21%, o banco japonês Mitsui 18,24% e o BNDSPAR 11,51%.
78,40% das ações da Litel são controladas pelo Banco do Brasil Carteira Ativa (controlado pela Previ) e 21,60% Carteira Ativa II (controlado pela Funcef em 59,36% pela Funcef e 35,81% pela Petros). Esses recursos estão aplicados em ações de várias empresas na Bovespa., a maioria das quais são controladas por capitais imperialistas.
As ações ordinárias e preferenciais da Vale são negociadas na Bovespa de São Paulo, na LATIBEX, da Bolsa de Valores de Madri, e na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). De acordo com o mesmo relatório, ?em 31 de março de 2011, havia 1.584.729.540 ADRs [American Depositary Receipts – ações da Vale negociadas na NYSE] em circulação, 786.476.603 ADRs ordinárias e 798.252.937 ADRs preferenciais, representando 24,1% das ações ordinárias e 37,9% das ações preferenciais ou 29,5% do capital social total.?
As negociações com as ações da Vale, negociadas sob o nome de VALE5 e VALE3, no primeiro semestre de 2010, na Bovespa no seu período de pico dos últimos três anos, alcançaram quase R$ 120 bilhões. Os investimentos estrangeiros nesses papéis representaram 55,3% do total.
Em março deste ano, o Bradesco solicitou ao governo o aumento do limite da participação estrangeira nas ações votantes, atualmente de 14%, para 45% no capital ordinário do Banco. Atualmente, 60% das ações sem direito a voto, são negociadas na Bolsa de Nova Iorque. O volume das negociações das ações da BradesPar na Bovespa nos três primeiros trimestres deste ano alcançou em torno de R$ 2,5 bilhões.
A dependência das commodities agropecuárias das exportações à China
As exportações brasileiras agropecuárias registraram em novembro, de acordo com os dados da Balança Comercial do Agronegócio, divulgada no dia 9 de dezembro pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), acumulou, entre janeiro e novembro de 2011, US$ 87,57 bilhões, 24,4% superior ao registrado no mesmo período de 2010. Mas, esse crescimento foi provocado pelo aumento do preço dos principais produtos exportados. As exportações para a China aumentaram 45,6%.
Os volumes exportados somente aumentaram em relação à soja, com um aumento de 8,0%, e o café, com 1,4%. A soja foi a principal material prima deste setor das exportações, com US$ 22,95 bilhões e elevação de 38,9% no ano. De acordo com os dados do Ministério da Agricultura, entre janeiro e maio, as exportações para os chineses de óleo de soja brasileiro atingiram 186,7 mil toneladas, quase o dobro das 89 mil toneladas no mesmo período do ano passado, o que representa um terço do total.
As exportações de soja em grão para a China representam menos de 5% das exportações totais. Mas, as exportações gerais tiveram queda de 50% no mês de outubro, com queda de receita de 52%, devido à queda da demanda a nível mundial e ao aumento da concorrência dos EUA, primeiro produtor do mundo, e de outros produtores menores, como a Argentina.
No segundo lugar das exportações agropecuárias está o complexo sucroalcooleiro, com registro de vendas de US$ 14,99 bilhões, seguido das carnes que totalizaram US$ 14,35 bilhões, com um aumento de 14,8%. As exportações de açúcar para a China aumentaram em 132,43% e as de carne bovina cresceram 250% na comparação com o mesmo período de 2010, superando as exportações para a Rússia, que registraram queda de 44,5%.
A economia brasileira entrará em recessão em 2012, após ter registrado crescimento negativo no terceiro trimestre deste ano, e provavelmente registrar um crescimento nanico, no quarto trimestre, devido às novas injeções de crédito e diminuição de impostos. Mas, como em torno de 50% dos gastos públicos estão destinados aos pagamentos aos especuladores financeiros, através dos serviços da dívida pública, as políticas econômicas dos governos do PT e do PSDB não são compatíveis com a diminuição da arrecadação fiscal; muito pelo contrário. O iminente estouro da bolha imobiliária na China empurrarão a economia brasileira, assim como a toda a economia capitalista mundial, à depressão. Para manter as altas taxas de lucros dos especuladores imperialistas será necessário elevar os ataques às massas trabalhadoras a nível estratosféricos o que, sem lugar a dúvidas, deverá provocar um enorme avanço das lutas contra o capitalismo parasitário.
Porto Gente