Novo papel para empresas e sociedade
17/10/08
Governança e sustentabilidade corporativos. Termos relativamente novos no Brasil e de difícil compreensão para o público são hoje objetos de preocupação mundial, pois tratam de agregar à sustentação econômico-financeira das empresas, valores politicamente corretos de preservação do meio ambiente e de responsabilidade social. As empresas mais avançadas formataram e implantaram sistemas de governança corporativa com o objetivo de garantir a sustentabilidade no longo prazo em benefício de todos os públicos interessados, isto é, sócios, clientes, funcionários, fornecedores, investidores e a comunidade. Até pouco tempo atrás, o interesse dos empresários, sócios e acionistas era somente relacionado ao desempenho econômico-financeiro da empresa e era resumido a dar sustentação à continuidade dos negócios, crescer e acumular riqueza individual, e nem ao menos tinham sistema de gestão de riscos corporativos. O interesse dos funcionários era simplesmente preservar o emprego e incrementar seus salários. O dos consumidores era de comprar produtos baratos a custos cada vez menores e pagamentos a prazos mais longos. O dos fornecedores era vender seus produtos e serviços com a maior lucratividade possível. A luta pela sobrevivência das empresas em sociedades ocidentais avançadas gerou uma disputa irracional na exploração dos recursos naturais e revelou-se então a necessidade de preservar o meio ambiente que, na realidade, eram bens comuns a toda a humanidade e esse era o elo que faltava para arrefecer a disputa selvagem pelas reservas. Por uma questão de adaptação ao meio ambiente, o homem conseguiu preservar a espécie, pois ao longo dos séculos manteve a extração de recursos naturais em níveis suportáveis, mesmo que destruindo parcialmente o meio ambiente que os mantinha vivos. Com o advento de novas tecnologias que aguçaram a cobiça do homem por mais recursos e mais rentabilidade, aumentaram a produtividade de tal forma que os governos se deram conta que em poucos anos os recursos naturais se esgotariam, levando a humanidade à autodestruição. Não bastavam somente governos locais mais esclarecidos tomarem precauções para preservar a ecologia da sua região. Foi necessário que o governo mundial, por meio da ONU, tomasse uma resolução de vital importância para o futuro da humanidade, criando o Pacto Global. O pacto trata do compromisso de governos, empresas e sociedade na preservação de valores comuns a todo ser humano, qual seja a preservação do meio ambiente e a responsabilidade social. O uso consciente dos recursos naturais em longo prazo, bem como o direito natural de vida digna do homem através de programas socioambientais vai aumentar a qualidade de vida, tornando a subsistência no planeta auto-sustentável. A sociedade como um todo percebeu que as disparidades de renda entre indivíduos iriam levar a humanidade a conflitos eternos enquanto houvesse diferenças gritantes de qualidade de vida entre pessoas, povos, nações e regiões do globo terrestre. Os governos também perceberam que não poderiam somente com seus recursos, advindos dos impostos cobrados da sociedade, financiar o crescimento do ser humano, somente prestando serviços de educação, saúde, lazer e outros, necessários para o aumento da qualidade de vida. Embora ainda continuem disponibilizando serviços, seus orçamentos não seriam suficientes para proporcionar a toda a população a tão almejada qualidade de vida. Somente governos de países de primeiro mundo, já em estágio avançado da economia pós-industrial, podem prover esses serviços a custos subsidiados e mesmo estes, embora disponham de um saldo comercial significativo, não podem prescindir de auxílio. As autoridades e órgãos de regulamentação internacionais estão buscando incentivar a adesão de governos locais, empresas e a comunidade em geral a aderirem espontaneamente ao Pacto Global da ONU e aos Princípios do Equador, para regular os investimentos em grandes projetos que causem impacto ambiental; também propondo a inserção e motivando as empresas, indivíduos e voluntariado das comunidades locais a desenvolverem programas de responsabilidade social. Vemos que essa adesão no País aconteceu naturalmente através da criação de inúmeras fundações, institutos, Oscips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) bem como ONGs, entidades do terceiro setor da comunidade buscando atender as necessidades das comunidades carentes em programas de saúde, educação, social e outros. Inicia-se agora uma fase importante do engajamento voluntário das instituições de financiamentos públicos e privados, no sentido de, além de preservar sua sustentabilidade econômico-financeira, buscar inserir em seus sistemas de governança corporativa, princípios de sustentabilidade socioambiental, inclusive extensivas a seus fornecedores e clientes. kicker: O uso consciente dos recursos vai aumentar a qualidade de vida, tornando a subsistência auto-sustentável (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados – Pág. 5)(Roberto Cintra Leite – É sócio-diretor da Cintra Leite Consultores de Gestão Empresarial.)
Gazeta Mercantil