Novo ciclo do alumínio será no Norte
17/01/07
Ivo Ribeiro17/01/2007
O futuro da indústria do alumínio no Brasil, atualmente o sexto maior produtor mundial, está na Amazônia. É lá que estão as grandes reservas do mineral bauxita no país, da qual se extrai o metal, e cerca de 70% do potencial de geração de energia com origem em rios. Essa é a avaliação de Luiz Carlos Loureiro Filho, presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal) e diretor comercial da Cia. Brasileira de Alumínio (CBA), empresa do grupo Votorantim. A produção do alumínio está amarrada à oferta de energia, insumo cada vez mais escasso e caro no Brasil.
Sem energia, e a preços competitivos, o país será um mero produtor de matéria-prima básica (bauxita) e semi-elaborada (alumina) para exportação, suprindo regiões que vão abrigar as novas fundições do metal. O Oriente Médio é um exemplo: dispõe de muito gás. A Rússia também tem fontes de gás, além de muitos rios ainda inexplorados por hidrelétricas. “O eixo da futura produção de alumínio caminha para onde houver energia disponível e com custo competitivo”, diz Loureiro.
Ele lembra que o Brasil, dono da terceira maior reserva de bauxita do mundo, já foi considerado um local competitivo, com energia barata e matéria-prima disponível, para fazer o metal. Tanto que na década de 80 recebeu os projetos Alumar (Maranhão) e Albrás (Pará). Hoje, não tem mais esse perfil. O preço do megawatt (MW) é US$ 60. “Para serem competitivas, as fundições suportam no máximo US$ 30 o MW”.
As fundições atuais de Alcoa, CBA, Vale do Rio Doce (Albrás e Valesul), BHP Billiton e Novelis operam com geração própria e antigos contratos de tarifas. No caso da CBA, o índice de energia própria chega a 60%. E não por acaso é a empresa que mais tem investido em expansão. Mas a companhia, como outros grupos do setor, enfrenta dificuldades para novos investimentos em auto-geração com as atuais regras do setor elétrico e as exigências dos órgãos ambientais. “Regras indefinidas sobre custos que surgem no decorrer da obra afetam o retorno do investimento.”
No Sudeste, as perspectivas de maior oferta de metal são limitadas. A CBA vai pôr em operação nova linha em fevereiro, indo a 475 mil toneladas na fábrica de Alumínio (SP) e tem planos de chegar até 630 mil toneladas no final da década, sempre atrelada à garantia de geração própria de pelo menos 60% da energia consumida. No futuro, os planos passam também pelo Norte do país, onde tem reservas de bauxita.
As unidades de Alcoa em Poços de Caldas (MG), da Novelis em Ouro Preto (MG) e Aratu (BA), e a da Valesul no Rio não têm planos mais ousados previstos.
No Norte, o consórcio Alumar, operado por Alcoa e BHP Billiton, só recentemente ganhou nova linha, de 60 mil toneladas de metal. Era um investimento antigo da Alcoa que só saiu da gaveta porque a empresa fechou contrato de 20 anos de suprimento de energia da usina de Tucuruí, no Pará, a um preço tido como atrativo. A Albrás, em Belém (PA), controlada pela Vale e um consórcio japonês, poderia até duplicar de tamanho se houvesse energia garantida na região a um custo que paga hoje, inferior a US$ 30/MW, à hidrelétrica de Tucuruí.
“O Brasil, hoje com 1,6 milhão de toneladas de produção de metal, teria condições de ultrapassar os EUA logo, mas isso só deve ocorrer por volta de 2012”, diz Loureiro. Mesmo assim, porque a indústria local, que faz 2,2 milhões de toneladas anuais, vem desligando fornos devido ao alto custo de energia e às restrições ambientais.
A projeção de investimentos do setor no Brasil para os próximos cinco anos é de US$ 8 bilhões e está bem focada na extração de bauxita e na fabricação de alumina. Esse valor inclui expansões de metal da CBA e de geração de energia, e projetos isolados de transformação do metal (fábricas de perfis, chapas, folhas, fundidos). “O setor vai mais que repetir os US$ 1,2 bilhão aplicado anualmente nos últimos três anos”, observou Loureiro.
A Vale do Rio Doce atua em duas frentes: mineração de bauxita e na fabricação de alumina por meio da Alunorte, no Pará. A empresa está com planos em andamento para atingir mais de 6 milhões de toneladas por ano e se tornar a maior refinaria do produto no mundo.
A Alumar tem um projeto de duplicação de sua instalação de alumina, operada por Alcoa, BHP Billiton e Alcan, para 3 milhões de toneladas. A americana Alcoa também desenvolve um projeto gigante de bauxita em Juruti, no oeste do Pará, cujo destino da produção será a produção de alumina no Brasil e suprimento de fábricas da gigante mundial em outros países.
O mercado de alumina se tornou atrativo nos últimos anos com a forte demanda da China, que se tornou o maior produtor mundial de alumínio, com mais de 7 milhões de toneladas por ano. Em certos momentos, o preço do produto chegou a valer mais de US$ 600 a tonelada nas vendas “spot”. Atualmente, voltou ao nível histórico de 13% do preço do alumínio na Bolsa de Metais de Londres (LME) nos contratos de longo prazo (três a cinco anos).
A cotação do metal na LME tem ficado em US$ 2,7 mil a tonelada neste início de ano. Em 2006, chegou a atingir US$ 3,3 mil. Segundo Loureiro, o preço do alumínio no mercado internacional mudou de patamar. “Houve um encarecimento da ordem de US$ 400 a tonelada devido à alta no custo de produção, puxada por energia”.
O novo piso, corroborado por especialistas de commodities, como Luiz Manreza, gerente de operações do Standard Bank no Brasil, é de US$ 1,9 mil. “O metal não deverá mais ver seu preço abaixo desse valor”, afirma. Neste ano, na visão de Loureiro, a cotação do alumínio deverá oscilar entre US$ 2,5 mil e US$ 2,7 mil a tonelada. “Não vai explodir como zinco e níquel, mas também não cairá abaixo disso”, acrescenta.
Valor Econômico