"Nossa riqueza dorme em berço esplêndido", diz Curió
06/12/06
De Curionópolis (PA)
06/12/2006
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;Todos os dias, às 8 horas, tem cerimônia de hasteamento da Bandeira Nacional na prefeitura de Curionópolis. O prefeito Sebastião Curió (PFL), em seu segundo mandato, comanda a administração do município como nos tempos em que era interventor em Serra Pelada e obrigava os garimpeiros a cantarem o Hino Nacional duas vezes por dia, de manhã e no fim da tarde.
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Na sede da prefeitura, a 35 quilômetros do garimpo, Serra Pelada é uma referência constante. Do prefeito – alvo de investigações do Ministério Público por desvio de verbas – aos secretários municipais, quase todos ex-garimpeiros. A perspectiva de retomada da exploração de ouro no garimpo e aquecimento da economia local anima a todos em Curionópolis.
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O município de apenas 14,6 mil habitantes, segundo dados do IBGE de 2005, surpreende pelo número de estabelecimentos comerciais. No meio de uma cidade quase tão pobre quanto o povoado de ex-garimpeiros em Serra Pelada, encontra-se lojas de eletrodomésticos, armazéns, armarinhos, butiques, farmácias, lanchonetes e até lan house, com computadores de última geração para acesso à internet.
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Não falta variedade no comércio. Mas faltam clientes. É comum ver lojas vazias, com os donos sentados à porta, esperando o tempo passar. Parte dos comerciantes são ex-garimpeiros que investiram na própria cidade o que ganharam. Outra parte são pessoas que vieram de fora e abriram negócios apostando no dinheiro que passou a circular na região com a descoberta do ouro. Desde o fechamento do garimpo, o cenário é de declínio. Falta emprego e renda.
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Exceto pelos funcionários públicos e comerciantes, quase todo o resto da população vive de benefício do INSS, do Bolsa Família e ou de pequenos bicos. “Todo dia fecha uma loja, vai embora mais uma família de Curionópolis”, diz a comerciante Raimunda Silva. “A população não tem renda para comprar nada.”
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Ela e o marido, Cosme, são donos de uma pequena loja de brinquedos e utilidades domésticas e uma loja de conserto de eletrônicos. Díficil dizer qual negócio vai pior. Como todos na cidade, o casal de maranhenses tem na família vários ex-garimpeiros. O pai de Raimunda voltou para o Maranhão, depois de conseguir algum ouro, mas paga regularmente a mensalidade de R$ 3 da cooperativa. Não quer correr o risco de ficar fora dos lucros com a concessão. “Às vezes, acho que isso é ilusão, que esse dinheiro nunca vai chegar”, diz Raimunda. “Mas tenho de ter esperança porque a gente aqui na cidade também depende da reabertura de Serra Pelada.”
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O prefeito Curió diz que é doloroso ver tanta pobreza sobre tanta riqueza. E não está falando só de ouro. A Vale do Rio Doce, que tem direitos minerários no município, já descobriu por lá reservas de ferro, cristalino e calcário. Mas ainda não há uma definição de quando a mineradora pretende explorar os recursos, nem mesmo o ferro em Serra Leste.
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“Temos uma riqueza faraônica, dormindo em berço esplêndido”, reclama. “O município quer o direito de explorar os seus recursos.” Segundo Curió, se a Vale explorasse os recursos já descobertos, a reabertura de Serra Pelada – assunto sobre o qual anda dizendo que não quer mais se envolver – não seria tão relevante para o município.
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A exploração dos recursos é fundamental para que o município possa receber a compensação financeira e ver a receita crescer. Enquanto Curionópolis tem uma receita de R$ 550 mil, Paraupebas, o município vizinho onde está o complexo Carajás, onde a Vale explora minério de ferro e cobre, tem uma receita de R$ 22 milhões.
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De acordo com a assessoria de imprensa da Vale, o projeto Serra Leste em Curionópolis está em fase de pesquisa e desenvolvimento. Não há recursos financeiros nem humanos para acelerar o processo, que é demorado. A mineradora informou que está investindo, neste ano, R$ 11,8 bilhões, dos quais R$ 4,3 bilhões no Pará. (IM)
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Esta é a segunda é última reportagem sobre Serra Pelada. A edição do dia 5/12 mostrou as disputas em torno da concessão da lavra aos garimpeiros
Ivana Moreira – Valor Econômico