Norte de Minas será nova fronteira da mineração
13/10/11
A extração de minério de ferro deve levar para a região desenvolvimento que já trouxe ao Quadrilátero Ferrífero e à Região Central. Biotecnologia é outra fonte de riquezas
Os recursos e potencialidades que o Norte de Minas conhece hoje contrastam com a imagem da pobreza castigada pelo clima semiárido que sempre se associou à região. As Minas da Região Norte são muitas, e vão da pecuária à produção da biotecnologia avançada, da produção de energia elétrica e biodiesel à fabricação de produtos têxteis, da fruticultura à produção de florestas, da cachaça de qualidade à paçoca de carne de sol. Para ampliar essa lista, nos últimos dois anos, a mineração surgiu como uma das atividades capazes de transformar a realidade nas áreas menos desenvolvidas. É o que deve acontecer no Alto Rio Pardo e na Serra Geral, onde a exploração de jazidas de minério de ferro deve receber investimentos de R$ 7 bilhões nos próximos cinco anos.
A transformação do Norte de Minas na nova fronteira mineral do estado é aposta de grandes empresas nacionais e multinacionais detentoras de direitos minerais na região. Entre elas, Vale, CSN, Grupo Votorantim, MTransminas, Mineração Minas Bahia (Miba) e Gema Verde. A ideia é viabilizar a exploração de minério de baixo teor. A reserva estimada é de 20 bilhões de toneladas de minério abrangendo 20 municípios, entre eles Salinas, Rio Pardo de Minas, Grão Mogol, Porteirinha e Nova Aurora. Para alavancar a exploração mineral nessa nova fronteira, no entanto, será preciso infraestrutura e planejamento logístico. ?Num futuro próximo, o minério de ferro vai levar para o Norte de Minas o mesmo desenvolvimento que levou para a Região Central e para o Quadrilátero Ferrífero. Isso significa a criação de infraestrutura e construção de rodovias. Será preciso desenvolver a produção de energias renováveis, como eólica e fotovoltaica, e construir novas barragens, que também servirão para a irrigação. O gás natural da Bacia do São Francisco poderá ser usado na produção siderúrgica?, observa Paulo Sérgio Machado Ribeiro, subsecretário de Desenvolvimento Mínero-metalúrgico e Política Energética do estado de Minas Gerais.
Levantamento feito pela Agência de Desenvolvimento da Região Norte de Minas Gerais (Adenor) aponta ainda que o agronegócio, representado principalmente pela fruticultura, é uma das principais alternativas econômicas para o desenvolvimento da região. É o que se nota nas unidades produtoras concentradas nos projetos de irrigação do Jaíba, Gorutuba e Pirapora. São, ao todo, 26,8 mil hectares já irrigados com predominância das culturas de banana, limão, manga, uva e cana-de-açúcar para a produção de álcool. ?Esse é um segmento prioritário dos conselhos regionais de Janaúba, Januária, Montes Claros, Pirapora e Salinas?, diz o presidente da Adenor, Geraldo Eustáquio Andrade Drumond.
Somente uma das cooperativas instaladas na região, a Cooperativa dos Produtores de Banana Prata de Minas, a Cia da Fruta, produz 1,5 tonelada de bananas por mês. São 1 mil hectares plantados no Jaíba, em São Francisco, em Maria da Cruz e em Capitão Enéias. Toda; fruta que sai dali vai direto para as gôndolas de grandes redes supermercadistas como Carrefour, Pão de Açúcar, WalMart e Sendas, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ao todo, a Cia da Fruta emprega 600 trabalhadores diretos e 1,8 mil indiretos. A agricultura familiar é outra fonte de renda importante para a região. Edcarlos Santos Cruz é produtor de tomates, pepinos e pimentões em Nova Matrona, no Alto Rio Pardo. Trabalha com a esposa e vende o que produz em Vitória da Conquista, Jabaquara e Itabuna e também para atravessadores. ?Tudo aqui é irrigado pelo seco ou pelo gotejo. Hoje tenho uma vida básica, com carro e casa. Tudo o que consegui foi com a lavoura.?
A cachaça artesanal de qualidade é ponto forte da região. Só na região de Salinas são 70 alambiques, 53 marcas e 27 produtores, entre eles a família Santiago, dona da Havana, a cachaça mais famosa do Brasil, e da Canarinha. Com irmãos, Eilton Santiago é proprietário da marca Canarinha. Ele conta que produz 25 mil litros ao ano e que a demanda por seu produto ? que pode sair a R$ 80 nas casas do ramo em Belo Horizonte e bem mais cara em praças como Rio de Janeiro e São Paulo ? é bem maior do que a oferta. ?Saindo de Salinas, tem quem peça R$ 120?, garante o produtor, que procura vender o mínimo que pode por cliente, como estratégia para atender a todos.
CONTRASTES O extrativismo, a agricultura e a vocação agropecuária, porém, convivem com indústrias de ponta instaladas em Montes Claros. ?Uma das principais características do Norte de Minas é o contraste entre vários segmentos da economia. Aqui, o desenvolvimento começou há 60 anos, com o estímulo da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Esse estímulo trouxe para Montes Claros empresas de ponta, como a indústria de biotecnologia?, diz o presidente da regional da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Ariovaldo de Melo Filho. É ali que estão instaladas empresas como a Vallée (vacinas contra aftosa, raiva e brucelose, antiparasitários, suplementos e terapêuticos para bovinos), a Novo Nordisk (insulina e produtos para tratamento da diabetes) e a Hipolabor (medicamentos).
Na Vallée, o crescimento médio é de 15% ao ano e o faturamento em 2010 foi de R$ 200 milhões. Atualmente, a empresa exporta para países da América Latina, mas nos próximos cinco anos venderá também para África e Ásia. ?O mercado veterinário brasileiro vem, a cada ano, consolidando sua posição como celeiro do mundo. Com a queda dos subsídios dos países desenvolvidos e o crescente aumento do consumo de carne, leite e derivados, o país se fortalece como potencia mundial?, diz o gerente de operações de mercado da empresa, Luis Almeida.
Estado de Minas