Normatização do reaproveitamento de rejeitos da mineração auxilia ações de sustentabilidade
08/10/21
A economia circular foi um dos temas de destaque da EXPOSIBRAM 2021. Na mineração, ela prevê o uso dos resíduos como produtos, garantindo a redução de desperdícios, gerando, inclusive, uma nova cadeia de negócios.
O painel “Economia circular na mineração – uso de rejeitos e estéreis como coprodutos” realizado em 7/10, contou com a presença de Ronaldo Lima, Geólogo e Diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM); de Sergio Soncin, professor-Doutor da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI); de Laís Resende, Engenheira de Mina, da Vale; e de Caio Deursen, Engenheiro de Mina da Nexa Resources.
Para saber mais sobre o que foi apresentado no painel assista à gravação no ambiente virtual da EXPOSIBRAM.
Ronaldo Lima, da ANM, apontou que o aproveitamento de rejeitos, estéreis e resíduos sofre com o problema da falta de normatização, mas que a agência está trabalhando para definir as regras de uso e de propriedade deles. Ele explicou que os rejeitos e resíduos de minérios sujeitos à flutuação de preços nas commodities e de custo operacional, muitas vezes eram abandonados e não eram reaproveitados. Mas que, agora, a ANM está com a minuta de resolução que se encontra em fase de análise jurídica.
“Nossa normativa passou pela consulta pública número 04/2020 e recebemos cerca de 40 contribuições. Ficou aberta por cerca de 60 dias. Agora ela vai para uma reavaliação institucional e depois segue para a aprovação pelo órgão colegiado”, disse. Ronaldo afirmou ainda que a falta de normativas suficientes causavam uma insegurança jurídica muito grande quanto à reutilização do resíduos”. O diretor falou da preocupação da ANM com as grandes áreas de exploração de cassiterita/estanho, que geraram bastante rejeito e agora estão sendo requisitadas para a exploração de terras raras. “Por essa e por outras tem que haver logo um aditamento de novas substâncias para sabermos o que utilizar para reaproveitamento dos rejeitos, afirmou”.

Painel “Economia circular na mineração – uso de rejeitos e estéreis como coprodutos”
Rejeitos aplicados em estradas
O estudo e a utilização de rejeitos em estradas asfaltadas e de terra são os objetos de estudo e trabalho do pesquisador Sergio Soncin. Ele e sua equipe trabalham em parceria com a Vale e utilizam os rejeitos do minério de ferro produzidos em Itabira, Minas Gerais, em estradas. Desde 2017, os pesquisadores vêm testando a viabilidade técnica de aplicação dos rejeitos.
“Temos dois projetos para a aplicação da areia do beneficiamento do minério de ferro, com o produto da mina do Cauê, em Itabira (MG). A gente mistura esse produto com outros materiais para aplicar em estruturas de pavimentos rodoviários”. Atualmente, Soncin acompanha a construção de uma estrada nas proximidades da mina do Cauê, onde estão sendo usadas diferentes misturas em alguns trechos.
No projeto que visa melhoria das estradas vicinais, que sofrem com lama e poeira, Soncin afirma que tem testado os resíduos arenosos provenientes da usina Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo (MG). “Queremos saber quais materiais se comportarão melhor, principalmente depois dos períodos de chuva”, disse Sergio. Essa iniciativa faz parte do programa de melhoria da infraestrutura de estradas vicinais chamado “Criando Caminhos”, que é realizado em parceria com o poder público municipal, e faz parte da estratégia da companhia de tornar suas operações mais seguras e sustentáveis.
De acordo com o professor, o revestimento combina areia do rejeito com solo local, produtos aglomerantes ou outros materiais da região para formar uma camada de proteção do acesso. “O procedimento tem qualidade superior, se comparado à cobertura de estradas de terra com uso de cascalho ou brita e o pavimento tem a finalidade de aumentar a capacidade de suporte desses acessos durante os períodos de chuva, além de apresentar mais conforto e melhores condições de trafegabilidade e aumento da vida útil em serviço, reduzindo os custos de atividades relacionadas à manutenção viária, finalizou Soncin.”.
Laís Resende, Engenheira de Mina da Vale – especialista em reaproveitamento de rejeitos, explicou um pouco das ações de sustentabilidade da empresa e deu enfoque aos programas de parcerias. Laís explanou que alguns estudos revelaram que muitas empresas começaram a agir de forma mais sustentável sem qualquer imposição legislativa, porque gerava redução de custos e de perdas. As mesmas empresas prezam pela vanguarda da sustentabilidade e por isso se mantêm sustentáveis.
Além disso, Resende destacou um estudo da Nielsen, de 2015, mostrando que os consumidores estavam dispostos a gastar seu dinheiro em produtos de empresas sustentáveis, mesmo que fossem mais caros. “Economia circular ou práticas sustentáveis não é mais apenas um discurso bonito. De fato, os consumidores estão mudando seu estilo de vida. Principalmente, estilo de vida mais amplificado pela questão da pandemia. As pessoas estão mais conscientes. A mudança do mercado consumidor é fundamental para que as organizações repensem seus produtos”.
Ela afirmou que um rejeito ou resíduo pode se tornar um produto com selo verde e a Vale aposta, desde 2015, em desenvolvimento, em parcerias. A companhia se aproximou da Academia e tentou desenvolver o máximo de tecnologias que atestasse seu potencial técnico. “Mas só isso não adianta. O produto de rejeitos tem que ter um desempenho igual ou melhor ao que está no mercado, não adianta ser só selo verde. E não pode custar mais do que o consumidor está acostumado a pagar”.
Um dos grandes mitos acerca do reaproveitamento, disse Resende, é o fato de o consumidor não conseguir encontrar o produto sustentável em quantidades suficientes no mercado. “E nós nos preocupamos com isso. Quando a gente pensa em um produto sustentável, a gente quer garantir que ele seja feito em grande quantidade, com ótima qualidade e sem o estigma do produto de reaproveitamento”.
A Vale investe em parcerias diversas e vai além do lucro. A empresa, disse, trabalha com produtos de reaproveitamento, melhorando o meio ambiente, se preocupa com as questões da diversidade e inclusão, e quer mostrar para a sociedade que ela tem a solução para alguns déficits. “Participamos de alguns projetos que beneficiam a sociedade como um todo; é o caso da infraestrutura que o professor Sergio apresentou. E temos, também, uma fábrica de blocos de concreto operada somente por mulheres”, acrescentou.
Inovação é crucial na Nexa
Finalizando o painel sobre economia circular na mineração, Caio Deursen, da Nexa – uma empresa do Grupo Votorantim – falou das operações da empresa, no Brasil, no Chile e no Peru. A Nexa, segundo Caio, tem como meta fazer do mundo um lugar melhor, trazendo resultados de acordo com os anseios da sociedade. “Não somente resultados financeiros, mas na vida das pessoas. Acho que esse é um dos principais valores da mineração. E, falando em pessoas, elas estão no centro da inovação. E como a gente vê inovação? Um conjunto de processos, que se junta à inteligência, e os resultados servem para alimentar as nossas decisões”.
Em inovação, a Nexa prioriza os parceiros e utiliza a plataforma Mining Lab e, por meio dela, já firmou mais de 40 contratos, com mais de 15 países. “É por esse programa que nos comunicamos com o mercado e traz as soluções para dentro da companhia. É um programa muito importante para nós. Faz muito sentido desenvolver uma rede de parceiros, com universidades, entidades governamentais. E vemos nossos rejeitos como oportunidades de negócio, por isso estudamos nosso material para descobrir qual a vocação desse material. Ele tem um valor e cabe ao engenheiro descobrir qual valor ele pode ter para a sociedade”, explicou Caio Deursen.
A Nexa possui uma unidade em Morro Agudo/MG, que não gera resíduo. Tudo o que é extraído vira produto, o chumbo. Há a produção de concentrado de zinco, que vai para a refinaria de Três Marias/MG. E todo o material que não é chumbo ou zinco, é Zincal, comercializado na região. A Nexa investe ainda em uma refinaria em Juiz de Fora (MG).
“É basicamente uma recicladora, a gente consome pó de aciaria e esse pó é o principal insumo de zinco naquela unidade. Ele é todo proveniente da galvanização do aço. Portanto, a gente tem uma planta recicladora que já fecha o ciclo de forma parecida com que o alumínio faz na produção do zinco. Isso permite que a gente produza não o zinco primário, mas o secundário. E o rejeito, a fração não aproveitada nessa fase do processo, é vendido. Então, a gente recebe um resíduo, processa, recupera e o que não é interessante para o nosso negócio, é repassado, esclareceu Deursen.
A Nexa está com dois outros negócios que visam a economia circular em andamento para funcionar. Um é o de Vazante, em Minas Gerais, que vai produzir a partir da flotação da concentração de zinco e fazer o processo de concentração de ferro proveniente daquele material. O outro projeto em andamento para implementação é a utilização de resíduos para transformá-los em insumo e vender para a indústria cimentícia.
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A EXPOSIBRAM 2021 conta com o patrocínio da Vale (Diamante), Ubertec (Platina), Anglo American (Ouro), Kinross Paracatu (Ouro) Nexa Resources (Ouro), Mineração Usiminas (Prata), Mosaic Fertilizantes (Prata), Volvo (Prata), Alcoa (Bronze), (AngloGold Ashanti (Bronze), Appian Capital Brazil (Bronze), ArcelorMittal (Bronze), BAMIN (Bronze), Cedro Mineração (Bronze), Gerdau (Bronze), Samarco (Bronze), Shell (Bronze), Netherland Business (Parceria Internacional) e Ouro Verde (Apoio).
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EXPOSIBRAM 2021
5 a 7 de outubro – 100% online
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