Nobel da Paz, Ellen Sirleaf situa mineração legalizada como agente de desenvolvimento socioeconômico da Amazônia
08/11/24
Na Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, em Belém, a primeira mulher a ocupar a presidência de um país africano, Libéria, acha que Brasil e África podem compartilhar experiências para proteger e desenvolver grandes áreas de florestas, como a região amazônica.
O desenvolvimento sustentável da Amazônia deve seguir um modelo “enraizado na sustentabilidade, inclusão e prosperidade compartilhada”, considerando novas economias, que mantenham a floresta em pé, e atividades tradicionais capazes de impulsionar a evolução socioeconômica, como a mineração legalizada, sendo que esta atividade é crucial para impulsionar a transição energética no mundo, inclusive, a partir dos minerais produzidos na Amazônia. Este avanço no desenvolvimento da região pode ser, em parte, inspirado na experiência de países africanos, que detêm patrimônio florestal, como o Brasil. Esta foi a mensagem da ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Ellen Johnson Sirleaf, ex-presidente da Libéria, ao proferir palestra no último dia (8/11) da Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, em Belém (PA).
Sirleaf disse que “ao olharmos para o futuro, devemos adotar uma nova maneira de pensar sobre o desenvolvimento econômico. O antigo modelo de exploração de recursos naturais para ganhos de curto prazo não é mais viável. Isso levou à destruição ambiental, desigualdade econômica e, em muitos casos, conflitos”. Ela defendeu que, em vez disso, é preciso um modelo em que setores econômicos importantes para movimentar a economia da Amazônia, como a mineração legalizada, passem a ter maior valor agregado em sua produção, “que o setor florestal seja gerenciado com responsabilidade, além de colocar as comunidades no centro dos esforços de conservação. Os créditos de carbono podem fazer parte dessa solução, mas somente se forem implementados de forma justa e transparente”.
Alerta sobre o crédito de carbono
No dia 7/11, John Kerry, ex-secretário de Estado dos EUA, defendeu na Conferência a estruturação de um robusto mercado de carbono global como solução ideal para acelerar a transição energética, necessária para enfrentar os efeitos danosos das mudanças climáticas. Sirleaf alertou que “deve-se tomar cuidado para evitar a exploração por investidores que recebem grandes hectares de floresta para ganhar créditos para seus países”. Apesar do alerta, ela considera o crédito de carbono um “importante mecanismo de combate ao desmatamento e às mudanças climáticas”, ainda mais que busca “proteger florestas ou plantar novas árvores”, o que cria um incentivo financeiro para a conservação.
“Países ricos em florestas, como o Brasil e muitas nações africanas, podem ganhar dinheiro para manter suas florestas em pé, e empresas em todo o mundo podem compensar suas emissões. Os créditos de carbono também têm o potencial de fornecer renda para as comunidades que participam de projetos de conservação florestal”, afirmou.
Mineração para movimentar a economia e acelerar a transição energética
Ellen Sirleaf dedicou parte de sua palestra para apontamentos sobre a mineração. Esta atividade empresarial, disse, “pode ser um impulsionador da industrialização e da criação de empregos. Devemos investir em agregar valor aos minerais que extraímos. Isso significa construir a infraestrutura e as habilidades necessárias para refinar e processar minerais localmente, de modo que não estejamos simplesmente exportando recursos brutos, mas criando produtos acabados que possam obter preços mais altos e gerar mais empregos”.
Brasil já agrega valor na mineração – Agregar valor à produção mineral já é prática corrente na indústria da mineração do Brasil, seja na Amazônia ou em outras localidades do país, ressalta o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), organizador da Conferência. Cada grama de minério extraída, até ser comercializada, passa por uma série de processos de beneficiamento. Há até os que passam por grandes transformações, como a bauxita – muito produzida na Amazônia –, minério que é transformado em alumina, e, posteriormente, em alumínio.
Sirleaf acrescentou que “o Brasil é líder global em mineração e há lições que a África pode aprender com suas experiências. Ao mesmo tempo, a jornada da África em equilibrar a extração de recursos naturais com responsabilidade social e ambiental pode oferecer insights para o Brasil e outras regiões do mundo”.
Sobre a transição energética, Ellen Sirleaf enfatizou mais uma vez a relevância da produção mineral. Disse que “devemos enfrentar as realidades da transição energética global. O mundo está caminhando para uma economia de baixo carbono para mitigar os impactos das mudanças climáticas. As tecnologias de energia renovável – como turbinas eólicas, painéis solares e veículos elétricos – estão na vanguarda dessa transição. No entanto, essas tecnologias dependem de minerais como lítio, cobalto, níquel e elementos de terras raras, muitos dos quais são encontrados na Amazônia e no continente africano”.
Ela defende que a mineração ocorra cercada de boas práticas:
– “Tanto na Amazônia quanto na África, a mineração tem o potencial de impulsionar o crescimento econômico, mas deve ser feita com responsabilidade. O setor de mineração deve adotar práticas sustentáveis que minimizem o impacto ambiental e garantam que os benefícios da extração de recursos sejam compartilhados de forma equitativa com as comunidades locais. Isso inclui garantir a transparência nos contratos de mineração, investir em infraestrutura local e priorizar o bem-estar de longo prazo das comunidades afetadas”.
Esta fala da ganhadora do Nobel é aderente à Agenda ESG da Mineração do Brasil, implantada pelo IBRAM e pelas mineradoras associadas a partir de 2019. Esta Agenda lista 12 áreas em que a indústria da mineração deve apresentar metas, planos de ação e indicadores de melhoria em termos de sustentabilidade operacional, evolução de governança e de responsabilidade social.
Sobre a Conferência
A Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias é organizada pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) e tem a parceria do Governo do Pará e é apresentada pela Vale e tem como patrocinadores na categoria Master, as empresas BHP, Hydro; como patrocinadores Belém, o Itaú e a MRN; como patrocinador Gestão de Resíduos, a empresa Alcoa; como patrocinadores Sustentabilidade, o Conselho Indígena Mura e a Potássio Brasil. Já na categoria Compensação de Carbono, a Conferência tem como patrocinador a Ambipar. A Latam é a companhia aérea oficial do evento.