Na vitrine, Copebrás tenta não esmorecer
03/02/10
Escolhido pelo grupo sul-africano Anglo American para presidir a divisão de fostato da subsidiária brasileira, colocada à venda em outubro, Paulo Castellari-Porchia provavelmente terá mais dificuldades do que pensava pela frente. O executivo assumiu o cargo em janeiro para conduzir as negociações, agilizar o desmembramento da área renegada e preservar as operações até a transferência dos ativos. Mas o que despontou como um processo de desfecho rápido hoje parece que vai demorar mais. E a divisão, que inclui a Copebrás, segunda maior fabricante de matérias-primas para fertilizantes do país, não pode parar, até para não perder valor no mercado.
“Já houve manifestações de interesse de algumas empresas, mas ainda não há nenhuma negociação estruturada. Ainda temos que definir alguns processos e avançar na reorganização e na separação da Copebrás, que foi totalmente integrada às demais operações do grupo no passado, com grande sinergia. Quando anunciamos a venda, a pressão aumentou, mas não vamos liquidar a divisão”, afirmou Castellari-Porchia ao Valor.
O executivo prefere não comentar valores, mas analistas e executivos do segmento de fertilizantes, que inicialmente avaliavam que a venda do controle da Copebrás seria fechada por US$ 1,2 bilhão a US$ 1,5 bilhão, hoje acreditam que o negócio sairá por US$ 700 milhões a US$ 1 bilhão. O Anglo American é majoritário na companhia, mas não é o único acionista. A família fundadora da Copebrás mantém participação de 27% na companhia. Fontes consultadas pela reportagem garantiram que a família tem interesse em que a venda seja definida rapidamente.
Quem acompanha o mercado de fertilizantes vê duas razões para acreditar que o processo de venda da Copebrás vai demorar mais do que se acreditava quando ele foi deflagrado, há três meses. Em primeiro lugar, disseram duas fontes, porque ainda não há um “caminho” pavimentado pelo grupo que os interessados possam percorrer. Em segundo lugar, porque a aquisição dos ativos de mineração da Bunge Fertilizantes no país pela Vale, anunciada no dia 27 de janeiro por US$ 3,8 bilhões, já deixou o controle da Fosfertil com a mineradora, até então considerada a grande favorita para levar a Copebrás.
Líder entre as fabricantes de matérias-primas para adubos do país, muito à frente da Copebrás, a Fosfertil também havia manifestado interesse em adquirir a empresa do grupo Anglo American. Naquele momento, novembro de 2009, os sinais indicavam uma concorrência acirrada pela Copebrás e que a venda era questão de semanas. Mas, depois que um “concorrente” anunciou a incorporação do outro, o mercado passou a aguardar uma negociação mais demorada.
Mesmo após comprar os ativos da Bunge, com o controle da Fosfertil, a Vale ainda é vista como uma das favoritas para adquirir a Copebrás. E como os 42,3% da Bunge na Fosfertil custaram à Vale US$ 2,15 bilhões, as estimativas sobre o valor da Copebrás caíram. “O mercado sabe que há outras companhias e fundos de investimentos nacionais e estrangeiros de olho, mas não será surpresa nenhuma se a Vale, que já deixou claro que ser ser líder mundial em fosfato, fizer uma oferta”, afirma um veterano executivo do segmento.
Mesmo a Mosaic, controlada pela americana Cargill – e cuja participação na holding que controla a Fosfertil está na mira da Vale, que já acertou a aquisição da fatia que era da norueguesa Yara -, também é considerada no mercado uma postulante à Copebrás.
Paulo Castellari-Porchia conhece todas as especulações, mas reitera que não há nada engatilhado. Segundo ele, o Anglo American já contratou bancos de investimentos, auditores e escritório de advocacia para assessorá-lo no processo. Por enquanto, avisa, quem tiver interesse pode falar com ele mesmo. Conforme informações fornecidas pela assessoria de imprensa do grupo sul-africano, a Copebrás produziu mais de 1 milhão de toneladas de fertilizantes no ano passado, quase 30% mais que em 2008, e registrou faturamento bruto de US$ 690 milhões, queda de 42,5%. Fontes afirmam que houve prejuízo em 2009, mas a empresa não confirma a informação.
O tombo é creditado à paradeira das vendas do insumo no país de agosto de 2008 a julho de 2009, quando volumes e preços despencaram. Apesar dele, o número de funcionários da empresa segue estável em 1,2 mil. “Ainda que o grupo tenha passado por reestruturações e reposicionamento, a Copebrás não pode parar. Não faremos aportes em novos projetos, mas continuaremos investindo em melhorias operacionais”, afirmou Castellari-Porchia, há mais de 15 anos no grupo, o último deles já informalmente à frente da divisão que passou a presidir.
“Temos que fazer bons negócios”, disse Marcos Stelzer, gerente de marketing de fosfatados do Anglo American, “repatriado” – estava em Londres – para participar do processo de venda. Grandes aportes, agora, serão privilégio de áreas como ferro, níquel, cobre e platina. Além do fostato, ativos de zinco e nióbio também não estão mais nos planos globais do Anglo American, bem como algumas operações de carvão.
O fosfato, cuja demanda brasileira é completada por importações, é o foco da Copebrás na área de fertilizantes. A companhia explora uma jazida em Catalão (GO), que já tem capacidade para produzir 1,3 milhão de toneladas de concentrado de fósforo por ano, suficientes para gerar 1 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados.
Antes de ser colocada à venda, como já informou o Valor, a Copebrás tinha concluído um estudo para investir US$ 1 bilhão no complexo goiano e elevar essas capacidades anuais para cerca de 3 milhões de toneladas de concentrado de fósforo e 2,2 milhões de toneladas de fertilizantes fosfatados. Com a jazida e o complexo mineroquímico de Catalão e operações em Cubatão (SP), a empresa tornou-se, na maior parte da década, o principal negócio do Anglo American no Brasil em faturamento. A jazida explorada pela empresa em Catalão foi durante mais de uma década alvo de disputa com a Fosfertil, que conta com uma operação ao lado cujas sinergias interessam à Vale.
Valor Econômico