Na Bolívia, Lula assina acordos de cooperação com Evo Morales
23/08/09
VILLA TUNARI, Bolívia, 22 Ago 2009 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que visita o colega boliviano Evo Morales, assinou neste sábado uma série de acordos de cooperação bilateral nos setores de energia, viário e de mineração, em uma reunião na região cocaleira de Villa Tunari, onde também discutirá o uso de bases militares colombianas por parte dos Estados Unidos.”Saudamos o grande interesse do presidente Lula e de seu governo de nos unirmos para explorar o lítio. É um dos acordos que estamos assinando, para que possamos (…) impulsionar a industrialização do lítio na zona de Uyuni”, afirmou Morales.Segundo dados do Poder Executivo boliviano, o Salar – maior deserto de sal do mundo com 12.000 km2 – guarda cerca de 140 milhões de toneladas de lítio. Um estudo do Serviço Geológico dos Estados Unidos, no entanto, indica que apenas 5,5 milhões de toneladas foram comprovadas.A fabulosa reserva, que ainda está em fase de quantificação plena, já despertou o interesse de empresas multinacionais, como as japonesas Mitsubishi e Sumitomo, a sul-coreana LG e a francesa Bolloré, que já negociam com o governo boliviano a última fase de um projeto de industrialização.Lula e Morales se encontraram no povoado de Villa Tunari, na região do Chapare boliviano, bastião político do presidente Morales, de onde ele primeiro emergiu como líder sindical e depois como dirigente político.O principal motivo da reunião é a assinatura de um crédito de 332 milhões de dólares que o Brasil concederá à Bolívia para construir uma estrada de 306 km, que ligará Villa Tunari ao povoado de San Ignacio de Moxos, na Amazônia, área muito isolada dos centros econômicos e de comércio do país.A Bolívia aportará 83 milhões de dólares no projeto.”Esta é uma obra pela qual estamos esperando desde 1826, já passaram quase 200 anos”, disse Morales, agradecendo o apoio de Lula.A obra foi entregue em agosto do ano passado à empreiteira OAS, que deverá construir uma via de 7 metros de largura e 16 pontes, que cruzará o Parque Nacional Isiboro-Sécure, uma reserva nacional da Bolívia.O prazo para a conclusão das obras foi estipulado em 40 meses, segundo o cronograma oficial.”Esta é uma estrada que permitirá unir duas regiões da Bolívia e impulsionar o desenvolvimento local”, afirmou o vice-ministro dos Transportes, José Kinn, que participou da delegação de negociadores que obteve o crédito junto ao governo brasileiro.Em julho de 2008, o Brasil prometeu conceder um crédito de 230 milhões de dólares para unir parte da estrada que vai da capital La Paz à localidade amazônica de Riberalta, no extremo noroeste boliviano, trecho vital da via interoceânica.O contrato de compra e venda de gás natural da Bolívia ao Brasil também é tema importante deste encontro presidencial, já que La Paz pretende mudar o atual acordo para reduzir o volume de gás fornecido de 31 para 24 milhões de metros cúbicos diários (MMCD).O argumento boliviano é de que a medida permitiria orientar a produção de gás para outros fins, como a industrialização interna, uma vez que o país se libertaria da obrigação de enviar ao Brasil 31 MMCD por dia.O nível real de exportação atualmente está em 23 MMCD, já que o Brasil reduziu a demanda de gás natural por ter ampliado sua capacidade produtiva de energia hidrelétrica e pela queda do consumo interno causado pela crise econômica global.Isso “nos coloca na situação de que é preciso rever o contrato, mas não apenas pela questão do volume, (mas também porque) o governo tomou a firme decisão de industrializar o Estado boliviano através do gás”, indicou o vice-ministro de Hidrocarbonetos, William Donaire.Na agenda bilateral também foi incluída uma análise da intenção brasileira de apoiar estudos para processar o lítio extraído da reserva do Salar de Uyuni, no sudoeste boliviano, perto da fronteira com o Chile.Os presidentes conversarão também sobre o acordo que a Colômbia assinou com os Estados Unidos para permitir o uso de sete de suas bases militares, iniciativa que foi recebida com crítica pela maioria dos países da região.
AFP