MS: passado, presente e futuro
20/08/07
A ocupação do Centro-Oeste brasileiro iniciou-se a partir do século XVIII, quando os bandeirantes paulistas começaram a desbravar as terras a oeste, com aval da coroa portuguesa, a fim de se defenderem da ocupação espanhola que vinha de oeste para leste, preservando, dessa forma, as fronteiras do Tratado de Tordesilhas. No entanto, uma das expedições chegou até o Rio Coxipó, onde foi descoberto ouro e, consequentemente, iniciado um novo ciclo econômico na região: a “corrida pelo ouro”. Na época, a atual Cuiabá foi intensamente povoada por portugueses que migravam do litoral com propósito de explorar ouro e pedras preciosas. Para o abastecimento de mercadorias de consumo na região eram realizadas monções com a finalidade de trocarem os mantimentos pelo ouro nas áreas de mineração. Com as monções, formaram-se timidamente os primeiros centros urbanos no atual território sul-mato-grossense, que foi efetivamente povoado após a Guerra do Paraguai, pois os fortes usados durante a Guerra transformaram-se em núcleos urbanos como Corumbá, Coxim, Miranda e Dourados. Em virtude da invasão de Corumbá durante a Guerra do Paraguai, nosso território passou a ser considerado estratégico pela administração central, contudo permanecíamos isolados economicamente. Dessa forma, a província de Mato Grosso passou a ser subsidiada pelo Governo federal, mas o sul da província, sempre foi prejudicado devido à grande distância da capital Cuiabá. Tanto que, durante as Revoluções de 1930 e 1932, o sul ficou do lado dos revolucionários, enquanto o norte, com o governador à frente, apoiou o Governo central. A divisão de Mato Grosso só ocorreu em 1977. Nossos cenários político ? disputas entre nortistas e sulistas ? e econômico ? isolamento econômico e subsídios do Governo federal ?, acabaram contribuindo para a formação de uma sociedade com uma cultura altamente permissiva quanto aos costumes sociais. O coronelismo, a corrupção, o desprezo pelos índios e negros e o não cumprimento das leis integraram a formação cultural mato-grossense e, por conseguinte, a sul-mato-grossense. Porém, a partir da década de 80, o já Mato Grosso do Sul recebeu uma grande leva de migrantes vindos de várias regiões do País, devido à malha rodoviária que alcançou o Estado e principalmente pela oferta de terras destinadas à agropecuária. Os migrantes tiveram um papel fundamental na formação da atual sociedade sul-mato-grossense. Eles apresentaram uma nova forma de vida, voltada para o trabalho e, portanto, prevaleceram sobre a elite local, que era fraca e desorganizada. Hoje as maiores empresas do nosso Estado pertencem a grupos de empresários que são de fora, os maiores produtores rurais são, majoritariamente, migrantes. Entretanto, nossa atual elite ainda não conseguiu adentrar no maior problema sul-mato-grossense, os quadros políticos. Há uma “elite política” enraizada no poder e de geração em geração mantém a máquina estatal viciada pela corrupção e pela troca de interesses. Os nossos homens públicos estão muito mais preocupados com os seus próprios interesses do que com os interesses do povo. Atualmente o único político sul-mato-grossense que teve uma efêmera representatividade em nível nacional foi o senador Delcídio durante a presidência da CPMI dos Correios. Mesmo com o déficit político sul-mato-grossense, estamos assistindo à CPI da Enersul, que está em trâmite na Assembléia Legislativa e tem como a principal meta o abatimento da nossa tarifa de energia, diga-se de passagem, a mais alta do Brasil e a sexta mais cara do mundo. Nossos deputados estão pugnando com os diretores da empresa por uma redução de 5%. Todavia é fundamental que o nosso governador e o nosso prefeito contribuam, respectivamente, com a redução da alíquota de ICMS e da Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). A CPI da Enersul está intrínsecamente ligada aos interesses de todas as camadas sociais sul-mato-grossenses e todo o povo espera a ajuda do governador, que desde a sua posse vem tomando medidas em desfavor da população e recentemente ironizou o comportamento dos nossos deputados à frente das negociações com a Enersul. Já o prefeito Nelsinho, irmão mais velho do deputado Marquinhos Trad, que é o relator da CPI, tem obrigação de contribuir com a redução da Cosip, como agradecimento pelo povo sul-mato-grossense que mantém o clã dos Trad nas esferas federal, estadual e municipal do poder público. Caros leitores, o desenvolvimento do nosso Estado depende de cada um de nós e não é mantendo políticos desinteressados pelas nossas vontades que alcançaremos o progresso. É fundamental para as próximas eleições a escolha de “sangue novo”, afinal já temos uma elite preparada e uma classe média forte e consciente, falta-nos apenas a conscientização da grande massa popular, mas isso é uma questão de tempo, haja vista que administrações como a do nosso atual governador marcam profundamente a alma e a memória do povo. LUCAS RIBEIRO GONÇALVES DIAS, acadêmico de Direito
Correio do Estado – MS