Motivos para cada setor ter elevação
13/08/07
Escolha de papéis pode ser decisiva para auferir lucros no meio da forte crise A crise desencadeada pelo mercado americano de hipotecas de alto risco (subprime) fez diversos investidores deixarem o mercado de renda variável. Nos últimos dias, a queda experimentada pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) tem sido generalizada e poucas ações têm escapado das perdas. Em momentos como esse, a escolha de papéis de determinados setores da economia pode ser crucial para definir os ganhos ou perdas futuras. O Jornal do Commercio separou cinco setores listados na Bolsa e perguntou a analistas quais as características econômicas que beneficiariam cada segmento. Enquanto para alguns a manutenção do crescimento global é preponderante para o bom desempenho das ações, em outros a renda e o avanço da economia brasileira são os principais ingredientes para um futuro de alta. As ações de mineradoras e siderúrgicas são consideradas as principais beneficiadas em caso de manutenção dos altos níveis de crescimento global. Entre 2003 e 2006, o avanço médio anual da economia mundial foi de 4,9%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), e a expectativa do Fundo antes da crise atual era de que o ritmo prosseguisse por mais dois anos. Desempenho melhor que esse, ainda de acordo com o FMI, só entre 1970 e 1973, quando a taxa média de crescimento mundial foi de 5,4%. Em termos de comparação, entre 2003 e o fim do ano passado, as ações preferenciais, série A, da Companhia Vale do Rio Doce subiram 232,51%, enquanto as ordinárias da CSN avançaram 404,30% e as preferenciais da Gerdau ganharam 491,69%. A recordista foi a preferencial série A da Usiminas, que rendeu aos investidores 1.127,13%, numa mostra de que os papéis do setor tendem a se aproveitar significativamente de períodos de grande expansão global. `Os setores de mineração e siderurgia tiveram ganho expressivo nos últimos anos porque a exportação cresceu muito. Se o nível de avanço da economia se mantiver, sustentará a rentabilidade das empresas`, diz Edson Marcelino, diretor da corretora Finabank. Impulso oposto precisa o setor de consumo. O simples crescimento mundial não tem grande impacto nas ações de empresas como Lojas Renner e Lojas Americanas, que dependem do aumento da renda e do crescimento consistente do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.Consumo `No curto prazo o setor de consumo não preocupa, porque continuará colhendo os benefícios da expansão do crédito e do aumento de renda. Isso não deve mudar no curto prazo. O problema é que as empresas do setor são negociadas com múltiplos altos e o mercado tende a se desfazer deste tipo de papel quando há mudanças de expectativa`, alerta Sauro Sola, sócio da Foco Investimentos. Sola acrescenta que um setor considerado defensivo e que pode colher bons frutos com diferentes cenários é o de Energia. De acordo com o analista, as empresas do segmento se beneficiam em momentos de avanço econômico porque a demanda por energia cresce rápido, inflando as receitas. Em casos de crescimento fraco do PIB reduz-se a necessidade de investimentos, o que reverte em mais dinheiro em caixa e maior pagamento de dividendos. O comportamento das ações de telefonia é o que menos depende das condições econômicas. O bom desempenho dos papéis no futuro está ligado principalmente ao processo de consolidação por que passa o setor. Entre as diversas frentes existentes há a possibilidade de uma união entre Oi/Telemar e Brasil Telecom, a disposição da Telefônica em comprar a parte da Portugal Telecom na Vivo para buscar sinergias com a Telesp e a intenção dos portugueses de manter investimentos no Brasil. `A telefonia depende de quem vai comprar quem. A primeira empresa a completar sua consolidação tende a andar mais. A reorganização deve levar à alta das ações, até porque o setor ficou defasado em relação a outros segmentos recentemente`, diz Marcelino, do Finabank. As ações que mais devem ser influenciadas pela atual crise são as do setor de construção civil. Na visão de Sauro Sola, da Foco Investimentos, o grande número de Ofertas Públicas Iniciais de Ações (IPO, na sigla em inglês) nos últimos anos colocou uma série de empresas no mercado com liquidez ainda baixa. `Esse setor depende de céu azul. Se a crise piorar e acontecer uma crise de crédito, as ações vão sofrer`, resume Sola. Edson Marcelino ressalta que as empresas de construção civil ainda devem se beneficiar do déficit habitacional existente no País. Além disso, pondera, os recentes IPOs promoveram boa captação de recursos, que ainda estão no caixa das companhias. Mesmo assim, alerta, é o setor mais vulnerável a turbulências. `Acredito que os atuais problemas sejam passageiros, uma crise de liquidez que deve amainar depois que o mercado tiver certeza do tamanho do prejuízo. Mesmo assim, a construção civil é mais sensível, por ser mais vulnerável na tentativa de captar recursos. Mas, de uma maneira geral, todos os setores vão sofrer até a turbulência passar`, diz Marcelino. O mercado lembra que alguns papéis sofrem pressão isoladamente, como no caso da troca de sócios ou do aumento de capítal. O balanço de uma empresa concorrente, caso venha bom, pode ter, por exemplo, efeito duplo sobrte uma mesma ação. Ser sinal de que a empresa terá bons resultados ou significar perda de mercado para o concorrente.
Jornal do Commércio – RJ