Momento brasileiro seduz expatriados
06/10/08
São Paulo, 6 de Outubro de 2008 – O aquecimento da economia do Brasil tem provocado mudanças nos planos de carreira dos executivos que até pouco tempo buscavam experiências em países desenvolvidos. Agora, os brasileiros outrora expatriados são chamados para conduzir empresas em expansão no País ou para ajudar companhias nacionais em seus planos de internacionalização. E aceitam, sem pestanejar. Assustados com a crise americana, eles – mais do que nunca – querem mesmo é voltar para casa. Rodrigo Fittipaldi é um desses viajados gestores, que agora aportam em solo brasileiro. Contratado pelo sul-africano Standard Bank para atuar na área de mercado de capitais, em Nova York – mas com foco no Brasil -, ele acaba de voltar ao País, depois de dois anos e meio nos Estados Unidos. Passou a atuar como chefe de mercado de capitais. “O meu retorno ocorreu porque o Brasil está crescendo”, afirma. “O banco tem uma estratégia global de crescimento, e é focado em mercado emergentes.” Ou seja, a atual pujança econômica foi decisiva para o retorno. “Como o País está crescendo, havia a necessidade de gente para trabalhar aqui. Passou a fazer mais sentido estar aqui do que estar em Nova York”, revela. “Por trás da minha vinda está a crença do banco de que o Brasil é um mercado que vai se desenvolver muito fortemente no médio e longo prazo”, destaca. Para o sócio-diretor da consultoria Korn/Ferry International, Sam Osmo, há dois fatos por trás de histórias como a de Fittipaldi. Primeiro: a instabilidade financeira dos Estados Unidos e da Europa. “Isso tem afetado a remuneração variável dos executivos que estão lá fora”, revela. O desconforto da situação tem feito alguns executivos olharem para o Brasil e perceber que, por aqui, a situação ainda está sob controle. “Muitos têm se mostrado mais dispostos a voltar. É isso ocorre em todos os setores, mas principalmente no financeiro.” Outra razão para a volta dos executivos é que as companhias brasileiras com presença no exterior precisam de executivos com experiência internacional. “São empresas que estão expandindo e, por isso, buscam esses executivos para ajudá-los no processo”, diz. Segundo Osmo, esses dois aspectos estão fazendo com que os brasileiros com dois ou três anos de experiência nos Estados Unidos ou na Europa estejam na mira dos headhunters. “O fenômeno começou a tomar corpo há um ano, mas se intensificou nos últimos seis meses”, indica. “Há dois anos esse movimento era zero”, completa. São diversos os segmentos nos quais o Brasil tem apresentado evidente crescimento, como mineração, siderurgia e aviação. Um setor da indústria altamente internacionalizado e no qual o Brasil tem progredido é a área petrolífera. Segundo Marcelo Lavall, gerente da divisão de engenharia e óleo e gás da Michael Page, os profissionais que atuam na operação petrolífera no Brasil podem perfeitamente atuar nos Estados Unidos ou na Noruega, o que provoca uma mobilidade muito grande no setor. “O mercado de petróleo no Brasil está aquecido. Com o pré-sal, acho que muitos brasileiros que estão no exterior serão convidados a voltar.” Conforme Lavall, com a exploração do pré-sal as empresas precisarão investir em mão-de-obra e treinamento. O fato é que a exploração de petróleo aumentará muito nos próximos anos. Ao mesmo tempo, as operações no exterior fora estão aquecidas. Assim, não será fácil atrair profissionais, e a tendência é que os salários aumentem. “No passado, havia uma grande motivação para o profissional da área sair do País: uma remuneração maior. Hoje isso não existe mais. O mercado de petróleo, mundialmente, tem salários equalizados”, analisa Lavall. Por isso, o setor tem muita mobilidade, tanto de estrangeiros para o Brasil quanto de brasileiros para o exterior. Lúcio Pedroso, responsável pelo inventário de plataformas brasileiras da Pride, uma das maiores empresas de perfuração do mundo, atuou em Angola por dois anos, pela Halliburton. Após recebeu uma “proposta irrecusável” da Pride, decidiu voltar, para ficar próximo da família. Para ele, é muito vantajoso para os expatriados voltar ao Brasil, principalmente pelo momento econômico. “O retorno permite alavancar a carreira com apenas dois três anos fora do País”, conclui. (Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 11)(João Paulo Freitas)
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