Míriam Leitão – Metais que valem
28/12/06
Débora Thomé (interina)
O Globo
28/12/2006
A Vale do Rio Doce fechou, ontem, o aumento de 9,5% no preço do minério de ferro com mais seis siderúrgicas: cinco japonesas e a maior da Coréia. O mesmo reajuste já tinha sido acertado, na semana passada, com a Baosteel, a principal siderúrgica chinesa. Esse aumento vai garantir, pelo menos, US$600 milhões a mais na balança comercial brasileira no ano que vem.
A empresa brasileira está aproveitando uma diferença cultural para agilizar seus negócios. Como nesta época do ano o ocidente todo pára, é hora de trabalhar com o oriente. Assim, concentraram-se nas negociações com as companhias asiáticas. E, antes de começar 2007, já entraram em acordo quanto ao reajuste. Com as sete siderúrgicas com as quais já fechou o novo preço do minério, a Vale totaliza 30% das suas vendas. Mas, segundo explica o diretor de assuntos corporativos da empresa, Tito Martins, mesmo sendo menos da metade, isso já garante o preço nas próximas negociações.
– Quando um grande player entra em acordo, como foi agora o caso da Baosteel, os outros acabam aceitando o preço também. Este ano, fechamos primeiro com a Thyssen, os chineses resistiram por um tempo mas, depois, cederam – lembra o diretor.
A formação de preço do minério de ferro é diferente da maioria das commodities metálicas. O reajuste é negociado anualmente entre as mineradoras e as siderúrgicas, mas nem sempre elas chegam a um acordo assim tão rápido como foi este ano. O aumento de 9,5%, ainda que alto, foi o menor dos últimos 4 anos. Em 2004, foi 18%; depois os festejados 71% em 2005 e, por fim, 19% em 2006, quando a China chiou e chegou, até, a criar barreiras burocráticas para tentar evitar a importação do minério vendido por grandes mineradoras, entre elas, a Vale. A última queda do preço aconteceu em 2002.
A Vale é uma gigante no seu ramo: controla cerca de um terço do mercado mundial de minério de ferro. Este ano, com a compra da canadense Inco, tornou-se a segunda maior mineradora do mundo. Da sua produção de minério, apenas 10% ficam no Brasil; a grande maioria é exportada. Cerca de 18% vão para a China, mas esse número está crescendo. A demanda voraz da indústria chinesa é o que vem garantindo o aumento do comércio internacional de minério: não só diretamente, com as compras da matéria-prima em si; mas, também, indiretamente, comprando o aço que o mundo inteiro produz. O país asiático consome 30% da produção de aço do planeta.
Com esse quadro, a Vale calcula que o crescimento será não só no preço, mas também na produção. Este ano, foram 12% a mais de minério; no ano que vem, a expectativa é de 14% de crescimento. Num cenário feito pela empresa, a China vai aumentar, até 2010, em quase 30% sua produção de aço; os demais países aumentariam 11%. Se assim for, será necessário muito minério de ferro para abastecer o mundo.
Tito Martins acredita que o crescimento internacional vai garantir bons preços a médio prazo até os próximos 4 anos. Mais adiante, ainda é uma incógnita.
– Ninguém se atreve a dizer o que vai acontecer – comenta o diretor da Vale.
Fabio Silveira, da RC Consultores, acha que a velocidade da aceleração dos preços das matérias-primas metálicas, em geral, vai diminuir por conta do que está se passando nos Estados Unidos.
– Com os EUA desacelerando, construindo menos, isso diminui a demanda por várias matérias-primas. Eles estão consumindo menos alumínio, menos cobre. Também tem impacto no que os americanos compram de produtos chineses. Com o consumo menor, o preço das commodities em 2007 deve estacionar neste patamar alto, sendo que algumas devem ter pequenas variações negativas – acredita Fabio.
O minério de ferro não foi o único que ficou bem mais caro nos anos recentes. Olhando a lista de preços em 2006 das commodities no mercado internacional, o zinco e o níquel – que agora será largamente produzido pela Vale, com a compra da Inco – são dois casos impressionantes. Só este ano, o preço de ambos mais que dobrou. Chumbo, estanho, ouro também aumentaram muito. O cobre, que garante as divisas chilenas, subiu 50%. O gráfico abaixo mostra o que vem acontecendo com as commodities não-agrícolas exportadas pelo Brasil nos últimos anos. A demanda mundial em crescimento fez com que, mesmo com ligeiras quedas, o patamar dos seus preços sempre aumentasse.
O Globo