Minério: crise deve alterar o sistema de negociações
28/05/09
LUCIANE LISBOA
ALISSON J. SILVA
Nos últimos 5 anos, o preço do minério de ferro no mercado externo subiu mais de 200%
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Embora o primeiro capítulo da novela sobre as negociações para a definição do preço do minério de ferro neste ano tenha se encerrado – com o acerto firmado entre a mineradora Rio Tinto e a siderúrgica japonesa Nippon Steel de cortes que variam de 33% a 44,5% em cima do valor do ano passado -, o imbróglio ainda estaria longe de chegar ao fim. Há uma indefinição sobre a continuidade ou não do sistema de contrato de preço anual (benchmark). O mecanismo, que predominava nas negociações entre mineradoras e siderúrgicas até antes da crise, pode não ser mantido em 2009.É que, diante da atual volatilidade do mercado, as siderúrgicas, em especial as chinesas, só têm negociado no mercado spot (à vista) e só aceitariam fechar um contrato longo se os descontos ficassem acima de 40%. Já as mineradoras, como a Vale S/A, maior produtora mundial do insumo, tentam segurar o preço.Analistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO acreditam que é difícil manter o mercado benchamrk no formato atual. No momento, predominam os pagamentos à vista. Inclusive a Vale, defensora do contrato anual, se viu obrigada a negociar descontos com os clientes chineses para conseguir fechar vendas.”A questão é que as negociações com as siderúrgicas chinesas ainda nem começaram. E o país asiático vem ditando as regras destas discussões, já que adquire cerca de 40% da produção mundial de aço. E a demanda chinesa vem crescendo: só em abril, o país respondeu por 49% do aço produzido no mundo”, explicou o analista de mineração e siderurgia da SWL Corretora, Pedro Galdi.Tudo indica que a estratégia da Vale será aguardar mais um tempo para ver os preços que as mineradoras australianas (Rio Tinto e BHP Billiton) conseguirão fechar com os chineses antes de bater o martelo.”Não dá para apostar em nada. A Vale falou que a negociação se encerraria nas próximas semanas, mas tendo em vista que os chineses, únicos que permanecem comprando, querem descontos maiores, não sei se teremos um acordo por enquanto”, afirmou Galdi.Recentemente, o presidente da Vale, Roger Agnelli, declarou que a companhia quer manter o benchmark. Em recente entrevista, disse que a maioria das usinas preferiria a manutenção do sistema de contratos anuais.No entanto, ele mesmo admitiu que a Vale está disposta a adotar as negociações à vista se os clientes preferirem assim. E lembrou que neste ano a Vale não está à frente das negociações, apenas “assistindo enquanto os australianos conversam”. Atualmente, a Vale está concedendo um desconto de 20% para seus clientes em cima do preço acordado no ano passado.Nos últimos cinco anos, o preço do minério de ferro subiu mais de 200%. Em 2004, o reajuste foi de 19%; em 2005, chegou a 71,5%; em 2006, voltou aos 19%; em 2007, aumentou mais 9,5%; e, no ano passado, variou entre 65% e 71%.Reversão – Agora, depois da crise que causou a queda da demanda por minério, as siderúrgicas, principalmente as chinesas, querem reverter os sucessivos aumentos que vinham ocorrendo nos contratos de longo prazo.O acordo com a japonesa Nippon Steel comprova a tendência. O corte de 33% a 44,5% ficou bem acima da expectativa do mercado, que apostava em uma redução menor, de 20% a 30%.Atualmente na China, o mercado spot tem predominado, já que o desconto é maior e o preço do frete marítimo, que vem oscilando muito nos últimos meses, também influencia no negócio.No entanto, para o analista da DLM Invista, Rafael Salgado Matos, isso não quer dizer que a Vale irá abrir mão do benchmark. Segundo ele, tudo indica que, no final, a empresa irá conseguir um preço melhor do que a Rio Tinto. Por dois motivos, explicou. O primeiro é o fato de o minério produzido no Brasil ser de melhor qualidade que o australiano, o que deve valorizar a negociação com a Vale. “Além disso, em 2008, a empresa fechou acordo primeiro que os concorrentes, fechando um aumento de 65%. Enquanto as mineradoras Rio Tinto e BHP Billiton, que fecharam depois, obtiveram aumentos de 86%”, ressaltou.
Diário do Comércio – MG