Mineradores debatem tendências do setor em conferência internacional
17/09/21
A perspectiva da mineração para o cenário pós-pandemia é de elevação da demanda por minérios, tanto os tradicionalmente produzidos e exportados quanto os considerados estratégicos para a economia verde (caso do lítio, grafite/grafeno, vanádio e outros). Poderá haver acomodação dos preços internacionais de minérios, após altas registradas nos últimos meses. E as mineradoras terão que incrementar suas políticas voltadas ao desenvolvimento tecnológico e às boas práticas de ESG, o que será fundamental para gerar reflexos positivos na atração de investimentos, no relacionamento com as pessoas e na reputação corporativa e setorial.
Estas são algumas das conclusões do painel “Desafios no mundo pós-pandemia e as perspectivas para o setor da mineração”, da 9ª Conferência de Energia e Recursos Naturais na América Latina, organizada pela empresa KPMG. O painel teve a participação de Flávio Ottoni Penido, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), de Ana Cunha, diretora de Relações Governamentais da mineradora Kinross, e de Wilfred Bruijn, CEO da mineradora Anglo American. O painel foi mediado por Georges Almeida, sócio-líder de Estratégia em Infraestrutura da KPMG no Brasil e na América do Sul.

Painel “Desafios no mundo pós-pandemia e as perspectivas para o setor da mineração” – crédito: divulgação
ESG é exigência para mineradoras
Flávio Penido disse que as mineradoras que não atentarem para o aprimoramento de suas políticas relacionadas a ESG correm o risco de não receber mais investimentos para seus projetos. Há forte pressão, da sociedade, de investidores e também regulatórias, para que esses empreendimentos, cada vez mais, empreguem alta tecnologia relacionada a reduzir a produção de rejeitos, a promover menos emissões, a preservar o meio ambiente, a priorizar o consumo de energia limpa e, também, a tornar as operações mais seguras. Outros pontos importantes na governança do setor são aprimorar o relacionamento com as pessoas e abrir espaço para a diversidade e a inclusão nas empresas, afirmou.
A diretora da Kinross disse que “na mesma proporção em que aumenta demanda mundial por minérios, aumenta a demanda social para respostas a problemas complexos”, relacionados por exemplo a como melhorar resultados ambientais, a priorizar a energia limpa, a promover a inclusão e a diversidade, entre outros, e isso requer, segundo ela, posicionamentos diferentes dos tradicionais por parte das mineradoras perante a sociedade.
Mineração é vetor de desenvolvimento
“Temos grande oportunidade de mostrar o que sabemos fazer, que é trabalhar com o poder público, com as comunidades e outros, seguir a regulação, gerar e fazer parte do desenvolvimento. A mineração tem que ser vetor para, junto a outros atores, construir soluções, promover a integração social. Não somos um apêndice em um território. A gente está junto (das comunidades) nos territórios”, afirmou.
Os três representantes do setor mineral no painel disseram que essa interação ficou bem evidente na pandemia, já que as mineradoras foram ágeis ao apoiar as comunidades a se protegerem do vírus, além de adotarem diversas ações em outros campos de interesse social.
Ana Cunha citou que a pandemia criou um ‘anseio coletivo’ e as mineradoras agiram em prol das comunidades extrapolando seu papel empresarial. “Ao final das contas foi possível conectar as empresas à sociedade”, graças a essa atitude coletiva das empresas de mineração, que levou muito em consideração as demandas sociais.
Bruijn, da Anglo American, concordou e disse que o IBRAM e as mineradoras têm o desafio de destacar junto à sociedade a real importância do setor, mostrando as contribuições positivas da atividade para o desenvolvimento humano e não apenas à economia do país. Segundo ele, a sociedade não pode ter a visão de que “nosso produto sai, meramente, de uma lavra e, depois que é colocado no mercado de exportação, ele se perde. Na verdade, temos uma história bonita para contar e todo um conjunto de importantes contribuições socioeconômicas, entre outras, que deixamos nas comunidades” afirmou.
Sobre as contribuições do setor mineral às pessoas, citadas pelos participantes, Flávio Penido disse que, normalmente, as mineradoras destinam recursos – humanos, materiais e financeiros – às comunidades onde estão suas operações, sempre em apoio às demandas locais. Mas essa preocupação em estar à disposição dos cidadãos vai além, disse o dirigente do IBRAM.
Mais recentemente, o IBRAM e organizações parceiras lançaram projeto para apoiar os municípios a estruturarem polos de geração de emprego e renda, que possam vir a substituir as receitas da atividade mineral, que é finita. Segundo ele, as mineradoras têm que ter preocupação sobre o que vai acontecer com as comunidades ao final das operações.
“Estamos desenvolvendo projeto-piloto para manter um grande entendimento com as comunidades, de modo a criar mecanismo para um melhor aproveitamento da aplicação da CFEM, que é o royalty recolhido pelas mineradoras, prevendo-se o fim da operação das minas. O nosso desafio é estudar esse cenário de forma bem ampla, envolvendo toda a comunidade e suas lideranças no longo prazo”, afirmou.
O presidente do IBRAM encerrou dizendo que pelos investimentos em inovação tecnológica, pelo aprimoramento das práticas de ESG e por meio de outras iniciativas, “constatamos que estamos diante de uma nova etapa no relacionamento entre mineradoras e as pessoas. Cada vez mais envolvidos com os interesses sociais da população. É assim que estamos construindo a mineração do futuro no Brasil”.