Mineradoras freiam projetos por falta de infra-estrutura
13/12/06
Representantes do setor de mineração, um dos principais motores da economia este ano, estiveram reunidos ontem no Seminário Indústria da Mineração, do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), para avaliar as perspectivas para 2007 e foram unânimes nas críticas contra o governo. Falta de infra-estrutura, burocracia, legislação ultrapassada, falta de investimentos públicos, escassez de energia, excesso de tributação, falta de mão-de-obra qualificada e até as altas taxas de juros e o déficit público foram citados pelos diretores e presidentes das principais mineradoras brasileiras durante do evento.
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O diretor superintendente da Votorantim Metais, João Bosco Silva, destacou que os investimentos públicos em pesquisas são quase inexistentes. ?Se o governo não vai investir, o que esperamos é que, pelo menos, as regras sejam estáveis para atrair a iniciativa privada e os investidores estrangeiros. Isso é extremamente importante em pesquisa na área de minérios, cujos resultados demoram a maturar?, disse.
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A Votorantim possui dez unidades no Brasil e faturou mais de US$ 5,5 bilhões no ano passado com a comercialização de vários metais como níquel, zinco, aço e alumínio. Para o ano que vem, a empresa planeja investir mais de US$ 30 milhões em projetos na área de pesquisa mineral.
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Na opinião de João Bosco Silva, o Brasil tem condição para desenvolver o processamento de todos os minérios extraídos no País, agregando valor aos produtos. ?O que nos impede de ser um dos maiores do mundo é o alto custo da energia. O preço que pagamos é o dobro do dos países concorrentes?, afirmou.
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De acordo com dados da Votorantim, as mineradoras pagam cerca de US$ 80 por MWh. Em 1998, o valor era de US$ 35 por MWh. ?Nós investimos em produção de energia, mas não adianta nada se o governo não investe na distribuição?, completou João Bosco Silva.
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A questão da energia também foi lembrada pelo diretor executivo de Planejamento e Gestão da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Gabriel Stoliar. ?A concessão de licença para geração de energia tem de ser revista ou o País não vai crescer. Essa questão não pode ser mais tratada como um apêndice, mas como um item vital para o crescimento da economia?, enfatizou.
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Concordando com o representante da Votorantim, Stoliar disse ainda que a atual legislação do setor e a falta de marcos regulatórios desestimulam os investimentos. ?O Brasil carece de uma legislação que atraia o investimento estrangeiro?, disse. Stoliar lembrou também da necessidade de reestruturação da rede portuária. ?É preciso uma rede extensa e moderna de escoamento da produção, tanto para o mercado interno quanto para a exportação?, completou. A Vale é a segunda maior mineradora do mundo, com um valor patrimonial de US$ 77 bilhões, perdendo apenas para a BHP Billiton, cujo pratrimônio é de US$ 135 bilhões.
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O presidente da BHP Billiton Brasil, Eleazar de Carvalho Filho, que também esteve no evento, comentou que a participação do setor no Produto Interno Bruto (PIB) cresceu de 1% em 1996 para 4% este ano. Este percentual, porém, ainda é pequeno se comparado com o tamanho e a quantidade de recursos naturais do País. ?O governo precisa abraçar uma agenda de longo prazo, para mudanças na legislação ambiental, redução de impostos, tributação, na dinâmica de concessão para exploração e lavra, na melhora da infra-estrutura e na qualidade da educação?, comentou Carvalho Filho.
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Competitividade
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Para o ex-ministro da Fazenda Paulo Roberto Haddad, apesar do cenário desfavorável, o setor está conseguindo competir no mercado internacional. ?É importante destacar que o sucesso da indústria da mineração brasileira, hoje, se deve em grande parte a que, num ambiente de uma economia mais aberta, mais desregulamentada, mais privatizada, mas ainda com custos macroeconômicos muito elevados, as organizações produtivas setoriais deram particular atenção aos fatores da gestão microeconômica, os quais contribuíram para atenuar o seu eventual hiato competitivo em escala global?, afirmou o ex-ministro.
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Paulo Roberto Haddad fez um estudo exclusivo para a Ibram a respeito da mineração que mostra que o setor é um dos mais importantes para o desenvolvimento da economia, devido a sua alta capacidade de geração de emprego, renda, tributos e excedentes exportáveis. ?Estudos mostram que a mineração se articula diretamente com três setores-chave da economia brasileira (siderurgia, metalurgia dos não-ferrosos e outros metalúrgicos), os quais apresentam efeitos multiplicadores de renda e emprego na economia brasileira acima dos valores médios dos demais setores?, destaca o documento.
DCI