Mineradoras buscam brechas deixadas pela Vale no Pará
27/08/07
SÃO PAULO / BELO HOROZONTE – O Pará está sendo “invadido” por um crescente número de empresas mineradoras de pequeno e médio porte, interessadas em ocupar os espaços deixados no estado pela Companhia Vale do Rio Doce. Assim como vem acontecendo em Minas Gerais, principalmente no complexo Serra Azul, grupos nacionais e internacionais estão se movimentando para investir pesado na extração de minério no Pará. A Vale é detentora de mais de 90% das concessões de exploração do mineral no Estado do Pará. As sondagens dessas minerados vêm ocorrendo nas cidades da porção centro-leste do Pará, no entorno do Complexo de Carajás. Assim como em Minas, os empresários querem aproveitar a valorização do minério de ferro no mercado internacional para investir no produto. O maior entrave do investimento, mais do que a licença ambiental, é a questão logística. Como a CVRD é detentora da malha ferroviária na região, os custos do escoamento da produção podem inviabilizar o investimento. Porém, diante da valorização do minério, as empresas negociam alternativas na região. Vale prevê corrida O presidente da Vale, Roger Agnelli, garante que as reservas que interessam à companhia “estão em nossas mãos”. Ele reconhece que está havendo uma “corrida por minério” e que “várias pequenas, médias e grandes empresas estão querendo se posicionar” no setor. No entanto, Agnelli considera que a Vale tem “uma capacidade de aumento de produção muito grande, tanto em Minas quanto no Pará.” Ele lembra que as empresas que entraram na “corrida” por minério vão enfrentar as mesmas dificuldades que enfrentamos para em implantar novas minas: fornecimento de equipamentos, mão-de-obra, orçamento, custo. Agnelli recorda também que os projetos “deverão estar prontos daqui a três, quatro, cinco anos, e a demanda é hoje”. Apesar dessas ressalvas, continuam a crescer os projetos de mineração no Pará. Uma das empresas interessadas na exploração de minério na região é a Maragusa, empresa do grupo Leolar, que acaba de investir R$ 35 milhões na instalação de uma siderúrgica de ferro-gusa, no Distrito Industrial de Marabá. A capacidade total de produção é de 400 toneladas por dia, o equivalente a 12 mil toneladas por mês. Apesar de não revelar o andamento das negociações, o empresário Leonildo Borges Rocha, diretor presidente do grupo, confirma o interesse no investimento na exploração de minério. Aproveitando o vácuo Envolvido nas negociações com as empresas da região, o prefeito de Marabá, Sebastião Miranda Filho, diz que as empresas esperam ocupar as áreas onde a CVRD não demonstra, pelo menos até agora, interesse. “A Maragusa é um exemplo desse interesse. Sabemos que a empresa quer avançar mais e a pretensão dela é chegar a implantar uma aciaria”. Além da Maragusa, a Mineração Buritirama, localizada na Serra de Buritirama, também em Marabá, e a Sidepar, que já possui jazida própria de minério na região de Floresta do Araguaia, vêm negociando novas áreas de exploração de minério. Segundo Darci José Lermem, prefeito de Paraupebas, diferente de há alguns anos, quando a Vale adquiria as pequenas mineradoras da região, agora, a intenção das empresas é de manter o negócio independente para quem sabe, no futuro, atrair o interesse de grupos internacionais. “É uma estratégia usada pelas mineradoras de pequeno e médio portes. O certo é que os investimentos estão impulsionando a região”, diz o prefeito de Paraupebas. A cidade vem crescendo cerca de 20% ao ano com os investimentos das mineradoras. De olho nos royalties Além dos investimentos das mineradoras, as cidades paraenses estão de olho nos recursos da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cefem). O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) começa, nos próximos meses, a informar as mineradoras sobre a nova metodologia de recolhimento do imposto criado para compensar os danos ambientais inerentes à atividade de mineração. As Cefems funcionam como royalties que as mineradoras pagam aos municípios pelo direito de explorar as riquezas minerais da região. Dos valores arrecadados, 65% são destinados aos municípios mineradores, 23% para os estados e 12% para a União. O Pará é o maior Estado minerador do país, à frente de Minas Gerais. De acordo com o prefeito de Paraupebas, as cidades cobram o pagamento do imposto para poderem investir em outras formas alternativas de geração de renda na região. “As empresas não precisam investir no social, isso é papel dos municípios”, afirma.
DCI