Mineração mantém plano de investimentos
20/01/09
Apesar da crise global, a indústria manteve o plano de investimentos de US$ 57 bilhões, mas esticou o prazo para realizá-lo. A fixação de um novo período depende do fim das oscilações do mercado.Geovana Pagel geovana.pagel@anba.com.br
Ibram/Divulgação
Ibram já vê sinais de melhoraSão Paulo ? O setor de mineração, que em 2008 foi responsável por 48% do saldo da balança comercial brasileira – contribuindo com US$ 12 bilhões de um total de US$ 24,7 bilhões -, manteve o plano de investimentos futuros de US$ 57 bilhões, apesar da crise global. A previsão inicial era de que os investimentos fossem realizados num período de cinco anos, ou seja, entre 2008 e 2012. No entanto, o arrefecimento da demanda internacional e a queda de preços dos minérios, registrada a partir de outubro do ano passado, esticou o prazo. ?A mudança no prazo vai depender da estratégia das empresas. Muitas estão fazendo rearranjos nos investimentos. Nenhuma delas ainda conseguiu fazer isso. Até porque a maioria dos recursos é segurada sob o ponto de vista do crédito?, afirmou o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Penna. ?Os planos econômicos lançados a partir de julho do ano passado na Europa, Estados Unidos e China só devem ter maturidade em março ou abril deste ano. Só então teremos a visão mais clara do que irá acontecer e poderemos estimar em quanto esse prazo será ampliado?, acrescentou.Segundo Penna, existem previsões alarmistas falando em quedas vertiginosas de vendas do segmento. Mais otimista, ele lembra que quase todas as empresas do setor concederam férias coletivas e aproveitaram o período de instabilidade para fazer a manutenção das próprias companhias, evitando desemprego e prejuízos maiores. ?A gente já vê sinais de melhora, mas ainda vivemos um período de volatilidade. O mercado sobe num dia e desde no outro. Mas temos convicção de que haverá uma retomada gradual a partir de março e abril?, aposta.Os investimentos do setor foram determinados em 40% no Pará, 30% em Minas Gerais e os demais 30% no restante do Brasil. O Pará, por exemplo, deve investir em projetos nas áreas de minério de ferro, bauxita, caulim, cobre, níquel, logística e geração elétrica.Penna destacou ainda que o Brasil só tem 30% do seu território com bom levantamento geológico e identificação da suas riquezas minerais, o que, segundo ele, ?é um prenúncio claro de novas reservas no Brasil e nesse sentido devemos iniciar a busca por parcerias e formação de joint-ventures com investidores internacionais que possam desenvolver a atividade mineral no país?, disse.Os países árabes foram citados como potenciais futuros parceiros do país nesse segmento. ?A própria diplomacia brasileira está fazendo um esforço para estimular o comércio entre o Brasil e os países do Norte da África e Oriente Médio. Há também, por parte das empresas, um interesse em contemplar a região com oportunidades de parceiras?, destacou.ChinaPenna destacou também a importância do papel que a China tem na produção e na compra de minérios. ?Um projeto do governo chinês prevê investimentos em infraestrutura na ordem de US$ 740 bilhões, que irão demandar o uso de minérios, já a partir desse ano?, disse. Além disso, o aumento do fluxo migratório do meio rural para o urbano na China gera a estimativa de que nos próximos 20 anos cerca de 800 milhões de chineses irão migrar para as cidades.No ano passado, a ONU anunciou que a população urbana se igualou à rural. ?Existe um processo global de urbanização induzindo ao uso de minérios. A gente vê isso no médio prazo como garantia de retomada do crescimento do setor?, argumentou.Segundo ele, medidas do governo federal brasileiro na área de construção civil e automobilística estão contribuindo para minimizar os efeitos da crise. ?Muito importante o papel do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) beneficiando importantes segmentos da indústria e também a produção de minérios como alumínio, ferro, cobre, neólico, calcário e manganês?, citou.CobreDe acordo com Penna, o setor vai continuar trabalhando e investindo para que o Brasil seja autossuficiente na produção de cobre até 2011. ?O cobre é um mineral estratégico, que vai receber mais atenção e um maior volume de recursos?, garantiu.De acordo com dados do Ibram, apenas o estado do Pará deve produzir cerca de 700 mil toneladas de cobre por ano em 2012. Esta posição elevará o Brasil à categoria de oitavo produtor mundial desse minério, logo atrás da Rússia (com 730 mil toneladas por ano). Até lá, o cobre avança também no mercado mundial, respondendo por uma fatia generosa das exportações na Amazônia Legal. O cobre exportado pela Amazônia, em especial pelo Pará, destina-se à Alemanha, Coréia do Sul, Suécia, Índia e China, maiores mercados consumidores no exterior.Produção mineral nacionalA produção mineral brasileira alcançou R$ 54 bilhões em 2008, um crescimento de 17% se comparado a 2007, quando o setor movimentou R$ 46 bilhões, excluídos petróleo e gás. Cabe destaque à produção de minério de ferro, que registrou aumento acima de 16% em quantidade produzida.
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O setor faturou R$ 54 bilhões em 2008De acordo com dados do Ibram, se consideradas as indústrias da mineração e transformação mineral, o valor da produção mineral brasileira sobe para R$ 152 bilhões, um valor 13% maior do que em 2007, de R$ 134 bilhões.Em 2008, os maiores estados produtores foram Minas Gerais (53,90%); Pará (24,69%); Goiás (5,85%); São Paulo (2,77%); Bahia (2,20%), Sergipe (1,57%) e outros (9,02%).Em 2009, segundo estimativa do instituto, espera-se um aumento significativo na produção de alumínio (bauxita), cobre, níquel, ferro e fosfato, com a entrada em operação de novos projetos ou pela expansão de outros.A indústria extrativa mineral manteve posição de destaque na geração de valor adicionado em 2008, com crescimento de 12% comparado ao ano anterior. No ano passado, a indústria da mineração e transformação mineral contribuiu com cerca de US$ 77 bilhões, ou seja, aproximadamente 5,76% do total do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil.O saldo estimado do setor mineral – bens primários, sem transformação, excluídos petróleo e gás – chegou a US$ 12 bilhões em 2008. Considerando os bens semimanufaturados, manufaturados e compostos químicos, a indústria da mineração e transformação mineral obteve um saldo de US$ 20 bilhões, representando 71% do superávit da balança comercial brasileira.
Anba