Mineração e siderurgia Paulo Camillo Vargas Penna*
30/05/07
Com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, iniciou-se no último dia 28 de maio de 2007, em São Paulo, o 20º Congresso Brasileiro de Siderurgia, o IBS-2007. Na mesma data, declarou à mídia o recém-empossado presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia e também presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, que o evento acontece no sexto ano de um período de intensa modificação na siderurgia mundial.
Esse período iniciou-se em 2001, após quase 30 anos de muita instabilidade, com intensas flutuações de demanda e preços, excesso de capacidade de produção, subsídios que distorciam a competição e barreiras comerciais que limitavam o comércio. A reversão de tal quadro, a partir de 2002, se deu devido ao forte crescimento da demanda e preços, em função, principalmente, do acelerado crescimento da China.
Ainda segundo o presidente do IBS, neste novo cenário mundial, marcado por uma nova onda de fusões e aquisições no setor, a siderurgia brasileira está bem posicionada, com usinas operando com escalas e tecnologias consistentes com o estado da arte e com bom acesso às matérias-primas básicas e boa condição de suprimento das mesmas.
Eis aí um aspecto de especial interesse do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que, aliás, tem com o IBS uma estreita ligação que remonta a meados dos anos 70, quando os idealizadores do que, em dezembro de 1976, foi criado como a associação representativa das empresas de mineração brasileiras, para propor o que foi então adotada pelo nosso Instituto, se valeram do modelo e da estrutura organizacional do IBS, criado em maio de 1963. Além de Membro Afiliado do IBS, o Ibram tem com este uma outra área comum, qual seja os associados pertencentes aos quadros de ambas as instituições.
Como se sabe, o aço é produzido, basicamente, a partir de minério de ferro, carvão e cal – esta última oriunda de calcário. Nas quatro etapas em que usualmente se divide a fabricação do aço (preparação de carga, redução, refino e laminação), além dessas três matérias-primas várias outras, também de origem mineral, desempenham papéis importantes, seja como fundentes, formadores de escórias e refratários, seja como revestimentos ou como ligas. Como exemplo, podem ser citados: dolomita, magnesita, argilas e bauxita refratárias, grafita, manganês, cromo, alumínio, zinco, níquel.
Em função dos volumes envolvidos, embora representando menos de 10% do custo final do aço, o minério de ferro se destaca, sendo que do total da produção brasileira do aço – a qual atende 95% da demanda interna – cerca de 75%, ou seja 3/4 é oriunda de minério de ferro, enquanto os restantes 25% são por utilização de sucatas.
A abundância, a excepcional qualidade e a localização estratégica da jazidas em relação às usinas fazem com que o minério de ferro represente um dos maiores fatores competitivos da indústria siderúrgica brasileira.
Em contraste, tem-se a questão do carvão mineral, pois embora as reservas (localizadas na Região Sul do país) representem, em termos de potencial na matriz energética do Brasil, a maior parcela, as características do material lavrado não permitem ser ele, economicamente, matéria-prima para produção do coque utilizado no processo siderúrgico.
Daí o grande volume, em tonelagem e em valor, que o Brasil anualmente importa para poder produzir aço internamente. No entanto, do ponto de vista de balança comercial, tal importação é compensada pelas exportações de aço, que, atualmente, se situam em torno de 40% do total produzido.
Quanto às outras substâncias minerais utilizadas na siderurgia, o que se pode afirmar é que, a cada ano, graças aos crescentes investimentos que se fazem em pesquisa mineral, no desenvolvimento e implantação de novas minas e na ampliação das já existentes, o quadro de reservas e de disponibilidades brasileiras vem crescendo e superam-se deficiências quase que históricas, como o que ora acontece com o níquel, tornando o aço brasileiro cada vez mais competitivo.
Siderurgia e mineração sempre foram unidas. No Brasil, a criação da Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876, foi por elas saudada como um marco dos mais importantes para o posterior progresso de ambas. Até meados dos anos 60, o apelidado “Curso Enciclopédico” de Ouro Preto formava engenheiros que eram de minas e de metalurgia. No brasão da Emop, encimando a frase Cum mente et malleo, que a consagra, cruzam-se um martelo e uma marreta, simbolizando a indissolúvel união minério e metal.
Além dos entraves aqui existentes – tais como elevada tributação, os gargalos logísticos, as incertezas na área ambiental e na oferta futura e preços da energia – enfrentados por ambas, mineração e siderurgia no Brasil têm em comum a busca incessante pelo desenvolvimento sustentável do país. E nisto, mais do que nunca, IBS e Ibram caminham lado a lado.
* Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram)
Jornal do Brasil