Mineração e siderurgia abordam estratégias para reduzir emissões na COP28
08/12/23
Dirigentes das companhias Vale, Gerdau e Hydro, associadas ao Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), apresentaram na COP28 um panorama sobre as estratégias corporativas voltadas a reduzir emissões e para contribuir a que outros setores produtivos sigam no mesmo rumo. O painel discutiu a contribuição da mineração para a transição a uma economia de baixo carbono e foi mediado por Raul Jungmann, diretor-presidente do IBRAM.
Em suma, as empresas têm acelerado a transição de suas fontes de energia, utilizam processos como reciclagem, atuam em parceria em busca de soluções comuns, de modo a reduzir a pegada de carbono empresarial e setorial, diante da expectativa de transformar esses ganhos em prol da sustentabilidade em ganhos financeiros em suas operações comerciais, revertidos para financiar a transição para uma economia de baixo carbono. Esses compromissos são debatidos há alguns anos a partir da estruturação da Agenda ESG da Mineração do Brasil, pelo IBRAM e as empresas associadas.
Empresas apresentam seus cases
No painel da COP28, as empresas destacaram providências para promover a transição energética para fontes renováveis em seus processos industriais e o trabalho voltado a apoiar clientes com este mesmo objetivo. Entre as ações internas está a substituição de combustível fóssil. Na Vale, 33% das emissões são causadas por fontes móveis, como o consumo de diesel em caminhões e na ferrovia; 30% e 24% têm origem no uso de combustíveis fósseis em fontes estacionárias e em processos industriais (uso de carvão, por exemplo). A companhia desenvolve estratégias para substituir insumos como o carvão antracito por biocarbono, biometano, etanol, entre outras opções.
“A gente já sabe quais são as alavancas de descarbonização e seus custos.
O ponto que paira no ar é: tem que ser economicamente viável. Tem que fazer a conta fechar. Como viabilizar mercado para que haja diferenciação do produto de menor pegada e conseguir com que essa diferenciação seja refletida em prêmios que financiem a descarbonização”, disse Vivian Macknight, gerente-geral de Mudanças Climáticas da Vale.
“Já temos melhor bauxita em termos de qualidade. Nosso alumínio é também de baixo carbono, e isso é estratégico no mercado. É importante, até na transição, como a gente garante que essa vantagem competitiva se transforme em US$ 1 a mais por tonelada. A formatação desse prêmio em cima da capacidade de produzir com baixo carbono é parte da estratégia de negócio”, afirmou Eduardo Figueiredo, diretor de Sustentabilidade e Impacto Social da Hydro.
Metas e apoio a clientes
Com atuação em vários países, a meta da Vale é consumir apenas combustíveis de fontes renováveis até 2030 globalmente e até 2025 somente nas operações no Brasil. Vivian comemora: “já conseguimos, em 2021, cumprir 99% da meta no Brasil e chegaremos a100% ainda este ano(…) ou seja, no Brasil dá para consumir energia elétrica de fontes renováveis”.
Em relação aos clientes, a Vale busca engajamento com eles para desenvolver soluções que os apoiem a reduzir suas emissões. Aumentar a qualidade do produto ofertado às siderúrgicas, é um exemplo: com maior teor de ferro, irá gerar menor consumo de combustível na cadeia produtiva e menor emissão; outras iniciativas estão relacionadas à redução das emissões dos alto fornos das siderurgias, como a transição de um modelo a carvão para o eletrificado.
Maurício Metz, diretor corporativo industrial de Engenharia da Gerdau, ressaltou que as empresas têm que ter visão da porta para fora e “não apenas da porta para dentro”, ou seja, gerar soluções para os clientes produzirem com redução de sua pegada. Segundo ele, exemplos dessa prática seriam: uma siderúrgica precisa fornecer o aço com especificidade para favorecer os processos de eletrificação dos veículo híbridos para dar tranquilidade aos negócios da indústria automobilística; precisa entregar a base estrutural indicada para a produção de paineis solares, para que aquele mercado consiga descarbonizar.
A Gerdau está situada abaixo da metade da média mundial de intensidade (relacionada a emissões) por causa da reciclagem, uso de energia renovável, uso de biomassa. Somente em relação à reciclagem de sucata ferrosa, 70% do que a companhia produz é oriundo desse processo. “O aço é infinitamente reciclável e por isso é preciso coletar (materiais usados). A geladeira de ontem pode virar um perfil industrial para uma ponte, por exemplo”, disse. No entanto, ele alertou que “nenhum país consegue usar só sucata para reduzir emissões”. É preciso combinar com outras soluções.
Maurício disse que o setor siderúrgico em vários países investe para usar hidrogênio para favorecer a descarbonização, além de usar também a eletrificação. Para ele, o gás natural é insumo para uma energia de transição, “antes de a gente ter competitividade no hidrogênio ou outro tipo de tecnologia disruptiva”. No Brasil, disse, há o uso de carvão vegetal de áreas reflorestadas, inclusive provenientes de áreas antes degradadas.
Na Hydro, a meta é oferecer produtos net zero; promover a diversificação em energia renovável, como eólica, hidrogênio, entre outras. “No Brasil, a transição energética é o nosso grande investimento. A produção de bauxita e alumina é responsável por 30% da redução das emissões totais da empresa. Prevemos para 2030 uma redução de 30% nas emissões, em relação a 2018 e vamos zerar em 2050”, declarou Eduardo Figueiredo, da Hydro.
Em relação ao consumo de energia – que já provém de fontes renováveis – é na produção da alumina que a Hydro demonstra o maior potencial de redução. “O grande investimento agora para 2030 é a alteração da matriz energética, saindo de óleo e carvão para o gás natural e isso automaticamente fará a redução. Somente com essa mudança, a partir do ano que vem, a Hydro terá a alumina de mais baixo carbono do mercado e o que dá um potencial competitivo enorme ao Brasil”, disse. Além disso, a companhia está eletrificando caldeiras e usando biomassa (como caroço de açaí em parceria com comunidades locais do Pará) para reduzir emissões de toneladas de CO2.
Além dos representantes das três companhias e de Raul Jungmann, o painel contou com a presença do deputado federal Zé Silva, presidente da Frente Parlamentar da Mineração Sustentável, e de Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo.