Mina de urânio afeta água potável
20/10/08
Análises realizadas em amostras da água consumida em Caetité indicaram índices de radioatividade sete vezes acima do parâmetro estabelecido pela OMS Maiza de Andrade
Agência A Tarde
SALVADOR ? Análises feitas em amostras de água consumida pela população que mora nas proximidades da mina de urânio de Caetité (município do sudoeste da Bahia, a 757 quilômetros de Salvador) indicaram índices de radioatividade sete vezes acima do parâmetro estabelecido pela Organização Mundial de Saúde.
O exame foi feito em laboratório da Universidade de Exeter, na Inglaterra, a pedido do Greenpeace, que vai exigir uma investigação sobre os níveis encontrados na região e alega que a ingestão e concentração de urânio no organismo humano estão relacionadas à incidência de câncer.
A ONG, que articula um movimento mundial contra a energia nuclear, deflagrou na última sexta-feira uma ação em âmbito nacional de alerta das irregularidades encontradas na mina operada pelas Indústrias Nucleares Brasileiras (INB). Em um relatório divulgado quinta, o Greenpeace mostra que a indústria ficou até o mês de agosto sem cumprir as condicionantes da licença de operação que previa estudos epidemiológicos sobre a saúde da população da área de influência da mina e sobre o impacto da atividade no sistema hidrológico da região.
As amostras foram coletadas em abril deste ano, em vários pontos situados na área de influência da mina (raio de 20 quilômetros), onde vivem cerca de três mil pessoas. Do total de 20, duas amostras apresentaram resultados mais graves para a presença de urânio.
Segundo a coordenadora do estudo, Rebeca Lerer, esta é a primeira vez que se faz uma análise independente da água da região. ?Antes, só a empresa fazia, mas, mesmo assim, não divulgava os resultados?, afirmou. De acordo com ela, a escolha de um laboratório no exterior se deu ?porque os laboratórios do País não têm total independência?.
INB SE DEFENDE
O diretor de recursos naturais da INB, Otto Bittencourt Netto, classificou de injusta a posição do Greenpeace. ?Nós só estamos operando porque temos todas as licenças, tanto do Ibama, quanto da Comissão Nacional de Energia Nuclear.?
Ele se disse surpreso com a notícia da contaminação por urânio em amostras analisadas pela ONG: ?Não temos responsabilidade nisso, mas vamos lá para fazer novas análises e se for confirmado, vamos ajudar a população?, disse. E garantiu que, caso o problema seja comprovado, a INB pode fechar os poços e perfurar novos em locais onde não haja presença de urânio.
Em relação aos estudos epidemiológicos sobre a relação do urânio com a incidência de câncer na região que a empresa teria que fazer desde que entrou em operação em 2000, ele afirmou que já começaram. E justificou a demora alegando dificuldade de entrar em acordo com os diversos órgãos públicos que atuariam em conjunto. ?Decidimos partir para uma licitação e foi selecionada a Fundação Oswaldo Cruz, que começou o trabalho em fevereiro?, afirmou.
O Ministério Público Estadual (MPE), a Prefeitura de Caetité e a 24ª Diretoria Regional de Saúde (Dires) informam que só se pronunciam assim que receberem os resultados das análises de água e de solo coletadas pelo Greenpeace.
A mina é uma das mais importantes províncias uraníferas brasileiras, segundo informações oficiais, com reservas estimadas em 100 mil toneladas, exclusivamente de urânio, sem outros minerais de interesse associados. Atualmente, a capacidade de produção é de 400 toneladas por ano de concentrado de urânio, mas a INB tem como meta para os próximos anos a sua duplicação para 800 toneladas.
O processo de beneficiamento do minério de urânio é o de lixiviação em pilhas (estática). Depois de britado, o minério é disposto em pilhas e irrigado com solução de ácido sulfúrico para a retirada do urânio nele contido.
Jornal do Commercio – PE