Mercado local deve ditar ganhos, diz Hedging-Griffo
21/10/08
Todos os setores dependentes de crédito, endividados ou com margens de lucro reduzidas ficam em uma situação complicada no médio prazo por conta dos efeitos da crise internacional no Brasil. Outros que podem ter dificuldades são os mais ligados à economia global, como siderurgia, mineração, petroquímica e petróleo. A avaliação é dos economistas de uma das maiores gestoras de recursos do mercado, a CS Hedging-Griffo, Fernanda Batolla e Daniel Ribeiro Leichsenring. Em estudo que vem sendo apresentado aos clientes da casa, eles fazem uma avaliação dos efeitos da crise na economia brasileira.
No curto prazo, todas as ações brasileiras sofrem, mas na recuperação, setores mais ligados a crescimento doméstico e que precisam de menos capital de giro devem ir melhor que os ligados ao mercado internacional ou que precisam de crédito e alavancagem, sem falar do setor financeiros, especialmente os pequenos bancos, diz Leichsenring.
Para os economistas, o país está mais preparado para enfrentar a crise internacional, com reservas de US$ 200 bilhões. Isso não impede, porém, que o país tenha problemas com a alta do dólar, nas áreas de câmbio e no crédito.
A gestora fez estudos sobre o impacto do dólar se a cotação ficasse em R$ 2,20 e R$ 2,50. Com o câmbio de R$ 2,20, o déficit de conta corrente (balança comercial e financeira) cairia de US$ 50 bilhões previstos para 2009 para US$ 18 bilhões. Nessas condições, e com uma rolagem de 50% das operações de captação externa, o país pagaria seus compromissos externos somente com os juros pagos pelas reservas internacionais. Já a R$ 2,50, o país não teria déficit de conta corrente. “A conclusão é que, dadas as condições externas, o câmbio de equilíbrio é mais perto de 2,20”, diz Leichsenring.
O que não é catastrófico a ponto de ter efeito sobre inflação e fazer o BC elevar juros, avalia ele, “porque temos uma contração severa do crédito que vai limitar a atividade econômica”, diz. Mesmo com uma queda de 20% nos preços das commodities, e o câmbio de R$ 2,20, os exportadores brasileiros ainda terão receita superior à de 2007, avaliam. “E, se as condições de financiamento externo melhorarem, a moeda pode cair para R$ 2,10, mas uma estabilização deve ocorrer só em 2009”, diz Fernanda, que acredita que cotações acima de R$ 2,20 não devem se manter por muito tempo. “Isso vai depender também da atuação do Banco Central brasileiro em evitar movimentos de câmbio”, diz.
O risco de um contágio da economia brasileira pelo crédito também é pequeno, avalia Fernanda, lembrando que o volume de empréstimos no Brasil é pequeno em relação aos países desenvolvidos e mesmo à América Latina. “O que vai haver é uma redução no crescimento das carteiras de crédito”, diz ela. E, mesmo quando as coisas se normalizarem, a oferta não será tão grande como antes. Além disso, a parada de crédito neste momento foi muito brusca e isso vai impactar a economia, que já vinha mostrando sinais de desaceleração. “Isso pode impactar a demanda de bens duráveis mais caros, como automóveis”, avalia Fernanda. Para ela, o efeito da queda no gasto do consumidor e nos investimentos vai levar o PIB do próximo ano a crescer 3% apenas. “E quanto mais demorar para o crédito voltar, maior será o impacto”
Os economistas vêem dois riscos para o Brasil. Um é a parte fiscal, onde os gastos com o funcionalismo aumentaram, atingindo 5% do PIB em 2009 somente no governo central. “Depois vamos ter o efeito do reajuste do salário mínimo acima da inflação pelo crítério do crescimento do PIB deste ano, que vai impactar o seguro desemprego, a previdência e os governos municipais”, diz Fernanda. E isso ocorre no momento em que o menor crescimento da economia reduz a arrecadação. “O ideal seria o governo adiar alguns investimentos, pois há pouco espaço para cortar gastos, tudo é contingenciado”, afirma Leichsenring.
No caso da inflação, o estudo da Hedging-Griffo lembra que o impacto líquido do dólar na inflação não é tão grande porque os preços das commodities caíram lá fora. E a atividade econômica caindo deve segurar um pouco a inflação para 2009. A gestora trabalha com um IPCA este ano de 6,8% e de 5,3% em 2009, com o dólar a R$ 2,20. “Achamos que seria o caso de o BC parar temporariamente a alta dos juros já na próxima reunião”, diz Leichsenring.
Valor Econômico